quinta-feira, 30 de outubro de 2008

A simbologia de Obama e de Lula

É de se suspeitar que um brasileiro queira comparar o candidato democrata à Casa Branca, Barack Obama, com o presidente Lula, mas o jeito deles de fazer política não é lá tão distante assim. Já escrevi aqui que a simbologia de Obama é mais forte do que a de Lula, mas não expliquei direito o que penso. Como as eleições dos EUA são semana que vem e a vitória do negão é mais provável, vamos lá. O raciocínio tem a sociedade do amigo Caio Quero, mais esquerdista do que eu, é necessário dizer:

Obama é o símbolo dos Estados Unidos que dão certo, enquanto Lula é um brasileiro símbolo que deu certo. Obama é a personificação das políticas sociais, incluindo a afirmativa, que permitem às minorias ocupar um espaço verdadeiro na democracia americana, com chance de ocupar o poder. É o candidato que precisou de oportunidades reais para chegar longe e que as obteve com a ajuda do Estado.

Lula é a personificação de um brasileiro que encarna em si o fodão e o fudido ao mesmo tempo, como diz o seu marqueteiro, João Santana. Ele não chegou ao Palácio do Planalto porque o Brasil deu mole. Teve de superar cada obstáculo para ficar perto da tomada de decisão. O Estado não o ajudou em nada antes da eleição. Toda a sua trajetória tem como base a luta por esse tipo de benefício.

Na esfera partidária, Obama tem outra diferença com Lula. O senador pende mais para uma espécie de Luiza Erundina, que tomou de Plínio de Arruda Sampaio a candidatura petista à prefeitura de São Paulo, em 1988, porque mexeu com as bases, não com a cúpula. Lula sempre esteve acima do bem e do mal no PT. E mudou a esquerda brasileira sem que o partido passasse por um processo de rediscussão pré-poder. Foi diferente na Alemanha, na Inglaterra, na Itália, na Espanha, onde vocês quiserem.

Qual dos dois é melhor nessa simbologia? Obama parece mais completo, mas nada garante que ele saberá transformar todo esse capital político em ações positivas para conter a crise econômica, vencer duas guerras no exterior e unir um país tão fracionado. Um país que ele ajuda a fracionar na campanha contra John McCain.

Apesar dos pesares, talvez o rapaz devesse pedir uns conselhos pro tio Lula. Na hora de governar, a simbologia vai pro vinagre.

P.S> Deixo duas dicas de vídeos: as peças finais de propaganda eleitoral de Obama e de Lula, favoritos nas pesquisas dias antes da eleição. Ali já se vê que a simbologia conta menos do que a necessidade de um tom presidencial.

Neste vídeo de 27 minutos, transmitido num monte de canais de TV na noite de quarta-feira. Obama até faz referência ao que representa (afinal, é difícil encher meia hora de programa), mas isso é o que menos importa ali. As propostas ganham o centro.



E aqui o melhor vídeo de propaganda eleitoral da história recente do Brasil. O slogan da mudança não serve como simbologia de Lula per se. Nenhuma palavra sobre operário, nordestino, sofrido, esquerdista, oposição ou seja o que for. É pra todo mundo.

5 comentários:

Anônimo disse...

Pedir conselho pro Lula??? Deus me livre! Se Obama resultar no mesmo estelionato eleitoral do nosso presidente (que se dizia de esquerda e hoje é aliado de gente como Sarney, Renan e Jader Barbalho e de partidos como PP, PR e PTB), vai se transformar na maior decepção da história política americana. E, provavelmente, do planeta. Acho que ele pode mais que isso. Si, se puede! ;)

M.S. disse...

Mas você parece petista! rsrs Antes da eleição eu achava que o Lula ia fazer exatamente isso que fez - dar espaço pros fisiológicos. Você acha que o Obama vai fazer diferente? Eu não acho.

Anônimo disse...

Hahahaha, pô, pode xingar a mãe, mas chamar de petista é sacanagem! Desse mal, felizmente, eu não morro mais! Hehehehe.

Engraçado ver esses vídeos de 2002, sempre bate uma coisa esquisita. Participei muito da campanha, fiz panfletagem pelo barbudo, estava na Paulista na noite de 27 de outubro (seis anos, já? Caralho!). Eu, hein!

Mas o FDP do Duda Mendonça é bom demais mesmo, né? E o mais engraçado da propaganda é o momento em que o Ciro e o Garotinho fazem aquele "veeeeeem", hahahaha. Que bizarro!

E o Ciro ainda era do PPS naquela época. Traidor! Humpf! ;)

Anônimo disse...

Li os 4 últimos post e estou mto fã de seu blog. Gostei muito dessa análise. Nesse domingo, assisti uma entrevista do Duda Mendonça comparando os dois também, mas vc foi mais analitico.
Também gostei mto do comentário sobre o Paes e sobre o meu amado Coringão.

Anônimo disse...

Olha, na minha opinião o Obama será uma tragédia no governo tanto quanto o barbudo. Certamente não será pior o que está aí, mas dificilmente será melhor que Lula. Ora, a "esperança vencerá o medo" é apenas uma retórica política bem plausível, mas retórica acima de tudo. Nós, brasileiros, sabemos o resultado da "esperança". Entretanto, dificilmente o medo deles surtirá tantos resultados como nossa esperança. Eles são mais fragmentados. Por isso será mais difícil para Obama acomodar o fisiologismo. Diga o que for, o fisiologismo Lulista deu esperança há vários que saíram da informalidade e outros tantos que migraram da pobreza. Certamente Obama não terá a mesma competência, ou sorte, para aqueles que insistem em chamar o Lula de "aquele operário". Mesmo assim, eu votaria em Obama, calejado que sou. Vencer o medo nos faz menos vagabundos, mais corajosos e donos do nosso nariz. Fez nossa democracia evoluir. O Brasil de agora é muito melhor que o de 2002, certamente os estadunidenses serão melhores em 2012. Um preto na casa mais Branca do mundo é sinal de "Change". "Yes, we cant". Sim, eles também podem. Obama, Lula, entre outros que virão, são simbolos de um apelo mudo por mudanças. Por si só já são símbolos. Marcos de um pedido de mudança pelo voto, que até aqui foi raro em qualquer canto do mundo.