terça-feira, 22 de abril de 2008

Palmeiras completará 32 anos de jejum


Podem falsear com as vitórias da equipe da Parmalat que jogava no Palestra Itália, mas a verdade é uma só: o Palmeiras não é campeão de nada desde o Paulistão de 1976. São 32 anos de jejum, que não condizem com a história de um clube glorioso e cuja torcida é tão apaixonada quanto a dos mais populares do Brasil.

Esse jejum não é fruto da falta de qualidade das categorias de base palmeirenses nem da crise de identidade do clube da Barra Funda, que não é popular como o rival Corinthians nem vencedor nos últimos anos como o inimigo São Paulo. A responsabilidade é da cartolagem palestrina, que há três décadas parou o clube no tempo e o deixa hoje refém de empresários como nenhum outro no estado.

Assim como aconteceu com o time da Parmalat, campeão de quase tudo na década de 90, a equipe da Traffic tem as chances parecidas de êxito. A primeira oportunidade deve vir na final do Paulistão, diante da valorosa Ponte Preta. Mas o que disso ficará para o Palmeiras, seja o resultado qual for?

Um bom caso é o do zagueiro Henrique, jovem valor tirado do Coritiba. O Palmeiras tem 20 por cento dos direitos do jogador. O resto é fatiado com Deus, o mundo e a mulher de Luxemburgo. Que vínculo esse jogador vai ter com o Palmeiras?

Nenhum. E nem poderia ser diferente.

O São Paulo se esforça para manter razoável independência, sem parcerias a qualquer preço. O Corinthians, depois da exitosa união com a Hicks & Muse e de ser cúmplice de crimes da MSI, parece estar recusando propostas e mais propostas desse tipo --nem sei se apenas por estar escaldado após o rebaixamento para a Série B.

Mas o Palmeiras, depois de amargar a segundona muito em função da falta de estrutura deixada pela era-Parmalat, repete o erro de alugar a marca e a história a empresários cuja índole foi repetidamente posta em dúvida por gente boa que mexe com futebol. E ainda espera um resultado diferente!

Alguns dizem que a aliança com a Traffic serve apenas para ter um ano vencedor e acalmar a oposição no clube, que é voraz e cuja incompetência já foi fartamente noticiada. Mas o que garante que depois de um ano vencedor não será necessário seguir vencendo para conter os adversários? E depois mais um ano? E outro?

Se o Palmeiras seguir nessa toada, empolgado com os outros negociando jogadores em nome do clube, indiscriminadamente, ficará mais 32 anos na fila. Até aprender.

Porque apenas um rebaixamento para a segundona não parece ter sido o bastante para os cartolas palestrinos.

terça-feira, 15 de abril de 2008

Tô errado, seu Frias?

Nem vou me dar ao trabalho de elaborar muito.

Durante minha leitura matinal da Folha de S.Paulo, encontro a seguinte notinha na página A10:

"A Folha, em parceria com o iFHC (Instituto Fernando Henrique Cardoso), promove na quinta-feira, dia 17, às 17h, um debate sobre TV pública. O evento será no auditório da Folha."

Assim não dá, seu Frias. Não dá.

domingo, 13 de abril de 2008

Um dever moral para com o Palmeiras


A arbitragem decidiu o primeiro jogo da semifinal do Campeonato Paulista vencida pelo São Paulo por 2 x 1 sobre o Palmeiras. Quem disser o contrário só pode estar bem bêbado.

Não apenas bêbado. Bem bêbado.

Porque além do gol de mão de Adriano, que mudou todo o panorama da partida ainda no primeiro tempo, o preguiçoso árbitro Paulo César de Oliveira manteve em campo o volante tricolor Zé Luis, que claramente mereceu um segundo cartão amarelo por uma falta por trás na linha de fundo são-paulina na etapa complementar de jogo.

Mas amarelou vergonhosamente.

E isso depois de distribuir cartões nos primeiros minutos de jogo para qualquer faltinha besta que aparecesse. Quando veio uma digna de nota, em uma situação clara de desvantagem do volante são-paulino, o juiz afinou.

O São Paulo foi competente na parte defensiva, é bom dizer. A volta de Alex Silva deu estabilidade ao estabanado André Dias. E anulou o palmeirense Valdívia. Mas esse trabalho só saiu tão bem porque o São Paulo foi beneficiado pelo gol absurdo, tanto quanto o de Kléber Pereira na vitória santista sobre o Corinthians.

Marcos não fez uma defesa sequer que fosse importante. Rogério Ceni pegou pelo menos duas bolas difíceis. O Palmeiras foi melhor do que o São Paulo, mesmo sem jogar seu melhor futebol, mas foi derrotado, antes de tudo, pela arbitragem. Perdeu uma vantagem diante dos são-paulinos, mas não o favoritismo.

E pelo menos da minha parte ganhou definitivamente a torcida para que chegue à final do torneio estadual. Depois de ver tanto são-paulino chorar por bobagem e agora exaltarem a mão de Adriano como se fosse uma espécie de vingança (contra quem?), torna-se um dever moral torcer pela derrota são-paulina.

Antes a vitória do maior rival do que o triunfo da hipocrisia.

quarta-feira, 9 de abril de 2008

A imprensa e o complexo de motoboy

Uma vez ouvi que motoboy acha porque acha que buzina serve como freio. E que diante disso muita gente recomenda que se aparecer um deles tascando um sonoro fooooooommm atrás do seu carro, é melhor sair da frente. Senão, a maior probabilidade é de apanhar de todos os motoqueiros que passrem em um raio de 10 quilômetros.

Não importa quem está certo. Quem está certo é o motoboy.

É assim que é.

Foi ao pensar nessa regra de conduta dos motoqueiros que vi o paralelo entre eles e a imprensa brasileira dos últimos tempos. Afinal de contas, ela também toca a buzina como se fosse freio, como se o barulho fosse sempre a nona de Beethoven. E se é manchete, só pode ser Beethoven.

Nem que o compasso seja do Roupa Nova.

A diferença é que para a imprensa a buzina-freio tem dado cada vez menos certo. Cada vez mais se demonstra que esse modelo de jornalismo está fadado ao fracasso, tamanho o desinteresse da população pelas pautas cavadas e orientadas pelo gosto dos donos de jornais, revistas, rádios e TVs.

Vejo dois grandes exemplos disso.

Em 2006 veio a gritaria do dossiê anti-tucano, às vésperas do primeiro turno da eleição presidencial. Uma história que merecia um belo acompanhamento. Por isso, durante a campanha, dezenas de matérias saíram. Sem parar. Até que perderam a mão.

A falta de freio e o excesso de buzina divulgaram muita besteira. A disputa pela buzina mais alta contaminou a sociedade, que se desinteressou pelo assunto. As pesquisas de opinião pública da época comprovaram o desdém. E o resultado, para os motoboys da imprensa: o povo vota como vota porque é burro e não nos entende.

Foram páginas e mais páginas de editoriais lamentosos, para louvar o trabalho da imprensa na arte de tocar a buzina sem parar, ainda que isso não encontrasse respaldo considerável na sociedade.

Um tédio.

A culpa coube ao mordomo, ou seja, o resto do Brasil, que não deu muito crédito aos motoqueiros da gritaria que tentavam abrir caminho para chegar mais cedo sabe-se lá onde.

O freio inevitável foi a reeleição folgada do presidente Lula. Enquanto a imprensa gritava "dossiê" ao lado da oposição, o governo gritou "privatização não" --algo que estava longe de ser uma questão na disputa presidencial. Ganhou quem sabia com quem estava falando. O candidato da oposição terminou o segundo turno com menos votos do que teve no primeiro.

Geral não deu a mínima para o tal dossiê anti-tucano. O mesmo que, diga-se de passagem, desapareceu logo após a eleição.

Agora estamos surfando a nova onda.

O mega-escândalo do suposto dossiê produzido na Casa Civil, com dados tão sigilosos que estão sendo compilados a pedido do líder da oposição no Senado desde 2004. E que, sabe-se lá como, vazaram.

Em vez de tratar o assunto como a briga de gangue que é, a imprensa novamente aderiu ao buzinaço, em detrimento da epidemia de dengue do Rio de Janeiro (há tempos no Nordeste e que já está chegando a São Paulo), dos gargalos da infra-estrutura cada vez mais gritantes para um país que quer crescer mais ou, para ficar em um tema digno de abraçadores de árvores, do contínuo desmatamento da Amazônia, com a consequente grilagem por hordas de madeireiros e outros menos cotados.

Depois de semanas de porrada, sem freios, surgiu a primeira baixa.

Caiu o ombudsman da Folha de S.Paulo, reclamando da decisão do jornal de impedir a divulgação de boletins internos na Internet. Os mesmos em que, inclusive, descia o pau nas matérias buzinatórias das últimas semanas sobre o suposto dossiê. Nem a ministra Dilma Rousseff nem qualquer assessor dela correu verdadeiro risco de cair.

Mas a buzina continua. E ninguém está nem aí.

Exceto pela imprensa, pelos papagaios que gostam de repetir o que lêem e pela classe política, que ganha destaque no noticiário (traduzido em propaganda gratuita em um ano eleitoral) por conta de um dos proto-escândalos mais sonolentos da República Nova.

Nem acho que seja necessariamente uma questão de tendencionismo, embora possa ser em alguns casos mais gritantes. Mas a impressão mais firme que tenho é de que a imprensa brasileira ainda não sabe como cobrir um governo popular que tem como aliado uma economia em nítido crescimento.

Entre investir nos repórteres e torná-los mais capazes de perceber os desafios do país ou publicar as versões da oposição, a escolha tem sido a segunda. A mais barata e, sobretudo, a mais fácil.

Se vivemos em um país que está claramente se transformando, não por milagre de um governo, mas sim por todo um processo histórico, a imprensa brasileira vai ter de se atualizar. A fórmula do motoboy de acelerar e buzinar não cola em uma sociedade que cada vez mais exige motivos claros para dar crédito ao que lê e ao que ouve falar.

Se a imprensa não se atualizar, além de a sociedade não abrir espaço para o buzinaço, vai jogar o carro em cima. E assim como nas ruas, quem está protegido por mais ferro vence.

segunda-feira, 7 de abril de 2008

Santos definiu semi-finais do Paulistão

No único campeonato estadual que vale alguma coisa neste país, o Paulistão, houve disputa de verdade pela classificação para a fase final e ninguém se surpreenderia se Corinthians, Barueri ou Santos tivessem tomado a vaga do São Paulo ou a da Ponte Preta, uma vez que Guaratinguetá e Palmeiras despontavam como favoritos.

Mas a verdade é que apesar da obviedade djavanista de que um time conquista ou perde uma classificação durante o campeonato inteiro --esse é um cansativo artifício utilizado pelos comentaristas de obra pronta--, quem definiu a situação foi o alvinegro praiano, nos últimos três jogos que fez pelo campeonato.

Na muito controversa vitória sobre o Corinthians, o Santos entrou na briga por uma vaga e, apesar de conter a ascenção do rival, ameaçou contribuir com a classificação do time de Mano Menezes por conta do confronto com a Ponte Preta na rodada derradeira. O Santos estava a dois pontos da zona de classificação.

Depois, contra o hoje rebaixado Rio Preto, o Santos praticamente garantiu a Ponte Preta e selou os destinos do Corinthians e da própria equipe no torneio. O empate por 1 x 1 acabou com as chances do time do chato de plantão Emerson Leão de se classificar para a fase final e empurrou para uma equipe reserva para um confronto que poderia valer uma vaga na semifinal.

O que, aliás, era a decisão mais sensata para quem vai jogar no México ainda nesta semana por um campeonato muito mais importante, a Taça Libertadores da América.

Se o Corinthians não teve futebol para bater o Noroeste fora de casa, tampouco teve a equipe reserva do Santos para oferecer a resistência à Ponte Preta. Assistindo aos dois jogos ao mesmo tempo, não havia como não notar que o time de Campinas era superior e que não havia como os santistas marcarem, dada a ruindade das finalizações dos desconhecidos jogadores em campo.

Kleber Pereira, um dos poucos titulares que atuaram, ainda tentou. Mas com Renatinho e Michael Jackson Quiñonez, não há quem possa. O empate por 2 x 2 só saiu para o Santos, aos 45 do segundo tempo, depois dos comemorados anúncios de que a partida em Bauru estava sendo vencida pelo Noroeste por 3 x 2. Só por isso.

Se a Ponte sair do seu centenário jejum neste ano, o que não é nada impossível, pode mandar umas faixas em nome de Marcelo Teixeira. E de Michael Jackson Quiñonez. Talvez outra para Sálvio Spínola.

P.S.> Envio aqui um bocejo aos muitos que disseram que o Corinthians não ter se classificado foi um "vexame". Poderia escrever um texto sobre isso, em especial tratando de como o oposicionismo fora de campo entorta a visão sobre o futebol lá dentro. Eu, que tenho um montão de restrições à atual diretoria, no entanto, fiquei com sono. Boa noite a todos.

terça-feira, 1 de abril de 2008

Um ano atrás em Sum Paulo

Dois de abril não é o Dia da Mentira. Ficou na minha cabeça porque tive um daqueles momentos de epifania com a cidade de São Paulo.

Era pouco depois das 10 da manhã, uma segunda-feira na capital paulista. Ponto de ônibus da estação Santa Cruz do metrô.

Uma mocinha pouco atraente e bastante magra comia Doritos ao lado de um monte de gente que esperava veículos com nomes pouco promissores -- Grajaú, Terminal Capelinha, J.M Sampaio.

Eu era um desses que aguardava.

Na frente dela, abriu-se a porta do lotado coletivo rumo à Divisa de Diadema. Nenhum passageiro tinha feito sinal.

O motorista -- bochechas à la Heráclito Fortes e pança à lá Tim Maia -- disse à garota que não tomou café da manhã. Juntou as mãos e pediu comida.

Algo espantada, a menina sobiu os degraus do ônibus, derramou um tanto do melequento salgadinho nas mãos do glutão faminto e desceu. O farol estava aberto, os carros buzinavam atrás, mas ele não poderia ter se importado menos.

Com as mãos ainda unidas, a camisa um pouco levantada e mostrando a barriga, ele devorou o salgadinho como se estivesse bebendo água. Desesperadamente.

Um tanto ainda ficou colado na bochecha dele. Ninguém deve ter ousado alertá-lo. Sinal vermelho. As pessoas do ponto se entreolham. Umas criticam o motorista, que fecha a porta.

Outros riem disfarçadamente.

Só caem na gargalhada um minuto depois, quando ele finalmente prossegue a sua viagem. Ainda com fome, provavelmente.

Mas trabalhando. Afinal de contas, São Paulo não perdoa.