terça-feira, 1 de abril de 2008

Um ano atrás em Sum Paulo

Dois de abril não é o Dia da Mentira. Ficou na minha cabeça porque tive um daqueles momentos de epifania com a cidade de São Paulo.

Era pouco depois das 10 da manhã, uma segunda-feira na capital paulista. Ponto de ônibus da estação Santa Cruz do metrô.

Uma mocinha pouco atraente e bastante magra comia Doritos ao lado de um monte de gente que esperava veículos com nomes pouco promissores -- Grajaú, Terminal Capelinha, J.M Sampaio.

Eu era um desses que aguardava.

Na frente dela, abriu-se a porta do lotado coletivo rumo à Divisa de Diadema. Nenhum passageiro tinha feito sinal.

O motorista -- bochechas à la Heráclito Fortes e pança à lá Tim Maia -- disse à garota que não tomou café da manhã. Juntou as mãos e pediu comida.

Algo espantada, a menina sobiu os degraus do ônibus, derramou um tanto do melequento salgadinho nas mãos do glutão faminto e desceu. O farol estava aberto, os carros buzinavam atrás, mas ele não poderia ter se importado menos.

Com as mãos ainda unidas, a camisa um pouco levantada e mostrando a barriga, ele devorou o salgadinho como se estivesse bebendo água. Desesperadamente.

Um tanto ainda ficou colado na bochecha dele. Ninguém deve ter ousado alertá-lo. Sinal vermelho. As pessoas do ponto se entreolham. Umas criticam o motorista, que fecha a porta.

Outros riem disfarçadamente.

Só caem na gargalhada um minuto depois, quando ele finalmente prossegue a sua viagem. Ainda com fome, provavelmente.

Mas trabalhando. Afinal de contas, São Paulo não perdoa.

2 comentários:

Bruno Ferrari disse...

fiquei com fome...

Anônimo disse...

Charge do Nani (acho) no JB há uns anos atrás: um motorista xexelento como esse que você falou, com berebas na cara. Ao lado dele, um cara tão xexelento quanto, com a camisa aberta no peito e rodelas de suor no suvaco. Acima dos dois, uma plaqueta com a inscrição "fale com o motorista somente o necessário". E o cara ao lado dele, o das rodelas no suvaco, diz: "Te amo".