domingo, 30 de novembro de 2008

Sobre pornografia

Mino Carta é fotografado dando abraços quase ginecológicos no presidente Lula. Soninha Francine aceita cargo na administração do prefeito Gilberto Kassab, apoiado pelo governador José Serra apesar da candidatura de um membro do seu partido. Coerência zero.

Mas tem gente que acha isso tudo natural e que Carta, Francine e Serra recebem críticas apenas dos invejosos. Não tenho inveja de nenhum deles e acho que os três não fazem mais que pornografia barata e de mau gosto com suas posições.

Como pode o dono de uma revista que se pretende crítica dar afagos de Ursinho Carinhoso no presidente e depois dizer que a publicação não é petista? Como pode ele apontar o dedo para o ranço direitóide da revista Veja se CartaCapital é vendida com desconto para os filiados do PT? O senso crítico só vale para os outros?

Um amigo que é repórter da revista diz que batem em Henrique Meirelles, José Dirceu e Antonio Palloci e, por isso, ela não poderia ser classificada de governista ou petista, já que o partido não é um só: tem várias caras. A minha resposta foi "e daí?" Quando o dono da revista quase salta no colo de Lula no meio de um evento que promoveu, isso joga a publicação toda no colo de Lula. E ponto.

A vereadora Soninha é outro desses casos bizarros, com a diferença de que nunca prestou serviços relevantes ao país, enquanto o jornalista Carta é decisivo no desenvolvimento da profissão no Brasil no século passado. A ex-candidata à prefeitura deve ser indicada para comandar uma subprefeitura na gestão pefelista, mas acha injusto que digam que ela não é de esquerda por causa disso.

Se Francisco Weffort, um histórico da esquerda, foi taxado direitista quando aderiu ao governo Fernando Henrique e se tornou ministro da Cultura, por que uma figura tão pouco significante como essa moça, cuja história na esquerda é fantasia, mereceria destino diferente ao se aliar (desde a campanha) ao candidato que deu ao partido da ditadura a sua primeira vitória na capital paulista?

Soninha pode ser cheia de boas intenções. Mas não a levo a sério.

Sobre Serra, o que mais dizer? Tudo já foi dito e a briga dele com Alckmin, iniciada no início da década de 90, vai continuar até 2010. O ex-governador ainda vai ter de disputar com Afif Domingos, também do DEM, a indicação para concorrer ao Palácio dos Bandeirantes. E adivinha quem vai dar a bênção? Um pornógrafo.

Esses três só não fundam um partido juntos porque malandro que é malandro não diz que é malandro e sabe quem é malandro.

quinta-feira, 27 de novembro de 2008

Dois vídeos

Eu não gosto do Jô Soares. É um dos maiores malas da televisão brasileira. Mas por absoluta preguiça de escrever, posto aqui dois vídeos com trechos de entrevistas dos presidentes Lula e Fernando Henrique Cardoso no programa dele.



domingo, 23 de novembro de 2008

O fator Haddad


Os amigos e os adversários reconhecem que o governador de São Paulo está bem cotado para disputar a Presidência em 2010, com boas chances de vencer. Além dos seus próprios méritos, ele conta também com a falta de um quadro governista natural à sucessão do presidente Lula. Não faço futurologia, mas dada a configuração pouco favorável a Aécio Neves em Minas Gerais, José Serra pode ter como grande adversário no seu projeto um candidato competitivo do PT em São Paulo, maior colégio eleitoral do país.

Tem gente que comenta que Dilma Rousseff é "boi de piranha". A dois anos das eleições, Lula teria lançado o nome da ministra-chefe da Casa Civil para, no fim das contas, entregar a candidatura a outra pessoa: o ministro da Educação, Fernando Haddad. Eu não acredito nessa tese. Dilma parece mesmo ser a candidata.

Mas depois dos resultados das eleições municipais de São Paulo, o recado para a votação para o governo do estado em 2010 é o seguinte: na maior cidade do Brasil, não terá chance nenhum quadro petista que já venceu eleições.

Nem Marta Suplicy nem Aloizio Mercadante.

Além da cara nova, Haddad é professor universitário, bonito, jovem e respeitável. É melhor candidato do que o presidente da Câmara, Arlindo Chinaglia, ex-sindicalista de quem pouco se ouviu falar por estas bandas. Se Haddad for o candidato ao governo do estado e tiver chances reais de vencer a disputa, o que nunca aconteceu com o PT e provavelmente não aconteceria com Marta nem com Mercadante, Serra terá problemas.

Se for candidato a presidente e não vencer no estado que governa, dificilmente o tucano terá resultado diferente no resto do país. Ao contrário das eleições municipais, nas quais as questões locais são mais importantes, os governadores são eleitos também em função daqueles com quem se alinham. E diante da possibilidade de um nome petista vingar em São Paulo, é Serra quem não contaria com um candidato natural para sucedê-lo, a não ser que o prefeito Gilberto Kassab reconsidere sua decisão de ficar no cargo.

2010 promete ser muito divertido.

sexta-feira, 21 de novembro de 2008

Os fatos e as opiniões

Há alguns dias, o colunista Clovis Rossi, da Folha de S.Paulo, escreveu um texto cheio de boas intenções em que chama de terrorista o colega Vladimir Herzog, executado pela ditadura apoiada por gente graúda do diário onde Rossi trabalha. Depois, ele pediu desculpas. No mesmo jornal e no seu blog na Internet, Juca Kfouri, ex-editor da Playboy, previu o fechamento das revistas que, alienadas, falam mais sobre futebol internacional. Não explicou suas razões, os leitores desaprovaram, mas ele parece não ligar.

Os exemplos de apropriação e distorção dos fatos pelos jornalistas das antigas cada vez mais reverberam por aí. Haja saco. Entendo que é preciso respeitar quem carregou bobina nas costas, brigou com grandes barões da elite nacional em troca de uma boa reportagem e se esforçou para que a imprensa do Brasil melhorasse.

Mas não dá para sentir um pesado enfado quando essas raposas velhas tratam o resto da mídia nacional como devedora a eles, que mostram dia a dia, no afã do jornalismo do chute pelo chute, que não vivem os melhores momentos das suas carreiras.

Nessa profissão, todos cometem erros: tanto de interpretação como de informação. Mas quem se vê como ombudsman do trabalho de todos os outros merece escrutínio mais embasado e distanciado do que tem havido para figurões como Rossi, Kfouri e alguns outros, que escrevem como se estivessem na Guerra Fria.

O mundo mudou e eles não parecem se dar conta.

O mundo mudou para melhor, apesar do pessimismo de grande parte dessa turma que já cogitou pegar em armas para libertar o Brasil do Regime Militar. Hoje em dia não há mais ditadura para enfrentar, embora haja quem veja no mercado um câncer em metástase, que proibe e autoriza apenas segundo uma lógica perversa. Não estou entre esses. E ainda acho que o primeiro compromisso do jornalismo é com a verdade, e não com o achismo e o risco do erro.

Todos nós temos direito a nossas próprias opiniões. Mas ninguém tem direito aos seus próprios fatos. Alguns próceres dessa turma mais antiga querem os fatos só para si. Não os terão. Não mesmo.

P.S.> Dadas algumas justas manifestações sobre este texto, é necessário pontuar isto: critico a falta de contundência nas críticas ao trabalho de Rossi e ao de Kfouri quando eles erram porque os dois são jornalistas respeitados e respeitáveis. Não se enquadram na categoria deles figuras como Mino Carta (empresário), Reinaldo Azevedo (maluco) e Paulo Henrique Amorim (puxa-saco e babaca).

sábado, 8 de novembro de 2008

Pra que serve campanha

Confesso que tenho me divertido com muito do que li depois da vitória do negão nos EUA. Tem um grupo, ex-entusiasmado, que fala da Obamania como se tivesse ficado fora dela. E tem outro que chuta o presidente-eleito porque a campanha dele não detalhou cada milímetro do que pretende fazer ou do que pensa sobre os dez milhões de assuntos que envolvem um mandato dessa estirpe.

O primeiro grupo não me interessa, porque ele cai nas mesmas obviedades de quem quer se mostrar isento só depois que a parada está decidida. Do jeitinho que a Folha fez na última semana de eleição em São Paulo, quando desceu o sarrafo no prefeito Gilberto Kassab, cuja vitória estava garantida. E por quem nada secretamente torceu por meses e meses de campanha.

O segundo grupo é mais divertido. São os profetas da sensatez reinaldoazevediana, que acham que os candidatos devem saber tudo o que vão fazer para governar. Como se em algum momento da história da democracia eles se antecipassem tanto assim. Como se todos os seus pensamentos tivessem de ser escrachados numa campanha na qual não entram para participar, e sim para vencer. Como se governassem primeiro e ganhassem a eleição depois.

Campanhas eleitorais tratam de compromissos, não de propostas minuciosas sobre tudo que afeta uma sociedade. Servem para destacar quatro ou cinco pontos que possam ser debatidos num jantar do Rotary e no buteco da Vila Mané. Há alguns anos ouvi o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso comentar sobre isso em uma palestra e me pareceu um exemplo perfeito dessa postura.

Conta ele que na sua candidatura ao Senado, no fim da década de 70, fazia um discurso em cada lugar, para mostrar substância. Até que o doutor Ulysses Guimarães o alertou: "Professor, tente repetir apenas umas três idéias. É isso que importa." FHC não conseguiu. Perdeu. Duas décadas depois, menos arrogante, venceu duas eleições para presidente levantando uma mão e falando em cinco pontos cruciais. Resolveu já no primeiro turno nas duas vezes.

Obama elegeu-se não porque detalhou as propostas nos mínimos detalhes, inclusive com eventuais ajustes e recuos. Elegeu-se porque deixou claros quais eram seus compromissos, hoje alinhados à maioria dos americanos. O compromisso é mudar exorcisar Bush.

As críticas dirigidas ao presidente-eleito dos EUA caem nesse terreno: ele só dá falsas esperanças, não tem conteúdo, não detalha propostas, repete o mantra único da esperança, com informações gerais sobre o que quer fazer especialmente em três áreas: economia, saúde e dar fim à guerra no Iraque. Como isso vai acontecer não interessa para os americanos. Eles elegeram essas prioridades, não a forma como elas serão conduzidas.

E fizeram a melhor escolha que poderiam.

No fim das contas, campanha serve mesmo é para ganhar a eleição.

E criar na memória coletiva momentos como este aqui:



O resto é conversa de quem perdeu.

P.S.> O Corinthians é campeão da Série B. E daí?

quarta-feira, 5 de novembro de 2008

Que Obama não se engane

Tudo muito bem, tudo muito bom. É justo que pouco mais da metade dos estadunidenses quisesse dar um bico no presidente que produziu um dos maiores fracassos diplomáticos da história - no dia 12 de setembro de 2001 a manchete do principal jornal francês era "Somos todos americanos" e aquele apoio todo, visível nos cinco continentes após os ataques aos EUA, foi jogado na lata do lixo.

É compreensível que colocassem na Casa Branca as antípodas de George W. Bush, o presidente da crise econômica e da indiferença com o multilateralismo. É notável que o candidato do partido republicano, vítima da campanha negativa de Bush nas primárias de 2000, tenha se distanciado tanto do atual governo americano.

É justificável toda a emoção da comunidade negra dos EUA, que ajudou a eleger um dos seus para o cargo mais poderoso do mundo depois de décadas de segregação racial, tanto por medidas declaradas como por regras sociais arcaicas que ainda hoje são aceitas em parte da chamada América rural.

É notório que Barack Obama, além de todo o contexto, era um bom candidato, que cometeu poucos erros em uma eleição apertada para ele desde o início. Tão bom candidato era que movimentou uma das campanhas mais revolucionárias da história moderna (não sem uma bela ajuda da imprensa em um país onde a mídia exerce um poder ainda mais poderoso do que nestas bandas).

Mas é bom que o presidente-eleito dos EUA tenha em mente o tamanho da pressão que terá nas costas agora - afinal, além de tudo, ganhou votos em Estados que há décadas não elegia um democrata, como Indiana e Virgínia. Obama não tem mais um país tão dividido como nos últimos oito anos. O discurso do adversário John McCain admitindo a derrota é o maior exemplo disso.



Nenhuma semelhança com o clima de inconformidade dos democratas com as vitórias de Bush, sendo a primeira muito nebulosa e a segunda, com vantagem quase mínima.

McCain foi apenas elegante e resignado. Entendeu o momento.

Mais do que a guerra, a crise econômica une povos que antes pareciam inconciliáveis. Por isso também o mundo está em lua-de-mel com Obama. A oportunidade de superar as divisões americanas, que muitas vezes se repetem em outros países, está à vista. Exatamente por essa razão o presidente-eleito não pode pensar que tem carta branca por conta da comoção que gerou sua vitória.

Ela não se basta.

Vitórias avassaladoras são facas de dois gumes mais do que os triunfos apertados. Depois de passar a emoção, o que sobra é quanto da sua palavra Obama poderá cumprir. As suas escolhas nas próximas semanas vão indicar muito disso. O mundo pode estar apaixonado por Obama, mas gosta mais de si mesmo. O negão nem tomou posse, é verdade, mas o relógio para ele já está andando.

É bom que ele comece a correr. Bem rápido.