Tudo muito bem, tudo muito bom. É justo que pouco mais da metade dos estadunidenses quisesse dar um bico no presidente que produziu um dos maiores fracassos diplomáticos da história - no dia 12 de setembro de 2001 a manchete do principal jornal francês era "Somos todos americanos" e aquele apoio todo, visível nos cinco continentes após os ataques aos EUA, foi jogado na lata do lixo.
É compreensível que colocassem na Casa Branca as antípodas de George W. Bush, o presidente da crise econômica e da indiferença com o multilateralismo. É notável que o candidato do partido republicano, vítima da campanha negativa de Bush nas primárias de 2000, tenha se distanciado tanto do atual governo americano.
É justificável toda a emoção da comunidade negra dos EUA, que ajudou a eleger um dos seus para o cargo mais poderoso do mundo depois de décadas de segregação racial, tanto por medidas declaradas como por regras sociais arcaicas que ainda hoje são aceitas em parte da chamada América rural.
É notório que Barack Obama, além de todo o contexto, era um bom candidato, que cometeu poucos erros em uma eleição apertada para ele desde o início. Tão bom candidato era que movimentou uma das campanhas mais revolucionárias da história moderna (não sem uma bela ajuda da imprensa em um país onde a mídia exerce um poder ainda mais poderoso do que nestas bandas).
Mas é bom que o presidente-eleito dos EUA tenha em mente o tamanho da pressão que terá nas costas agora - afinal, além de tudo, ganhou votos em Estados que há décadas não elegia um democrata, como Indiana e Virgínia. Obama não tem mais um país tão dividido como nos últimos oito anos. O discurso do adversário John McCain admitindo a derrota é o maior exemplo disso.
Nenhuma semelhança com o clima de inconformidade dos democratas com as vitórias de Bush, sendo a primeira muito nebulosa e a segunda, com vantagem quase mínima.
McCain foi apenas elegante e resignado. Entendeu o momento.
Mais do que a guerra, a crise econômica une povos que antes pareciam inconciliáveis. Por isso também o mundo está em lua-de-mel com Obama. A oportunidade de superar as divisões americanas, que muitas vezes se repetem em outros países, está à vista. Exatamente por essa razão o presidente-eleito não pode pensar que tem carta branca por conta da comoção que gerou sua vitória.
Ela não se basta.
Vitórias avassaladoras são facas de dois gumes mais do que os triunfos apertados. Depois de passar a emoção, o que sobra é quanto da sua palavra Obama poderá cumprir. As suas escolhas nas próximas semanas vão indicar muito disso. O mundo pode estar apaixonado por Obama, mas gosta mais de si mesmo. O negão nem tomou posse, é verdade, mas o relógio para ele já está andando.
É bom que ele comece a correr. Bem rápido.
Mudamos (01/16)
Há 8 anos
Um comentário:
Assinadíssimo embaixo. Também fui mais ou menos por aí lá nos meus pitacos.
E, justiça seja feita mesmo, o discurso do McCain foi primoroso! Não tão bom quanto o do Obama (aliás, além de todo o carisma fora do comum, o negão é bom de papo, hein! Quase chorei enquanto ele falava em Chicago, hehehe!), mas muito elegante, como você disse, e notável. Essa eleição foi tão legal que até o candidato do Partido Republicano não era tão conservador assim.
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