sábado, 8 de novembro de 2008

Pra que serve campanha

Confesso que tenho me divertido com muito do que li depois da vitória do negão nos EUA. Tem um grupo, ex-entusiasmado, que fala da Obamania como se tivesse ficado fora dela. E tem outro que chuta o presidente-eleito porque a campanha dele não detalhou cada milímetro do que pretende fazer ou do que pensa sobre os dez milhões de assuntos que envolvem um mandato dessa estirpe.

O primeiro grupo não me interessa, porque ele cai nas mesmas obviedades de quem quer se mostrar isento só depois que a parada está decidida. Do jeitinho que a Folha fez na última semana de eleição em São Paulo, quando desceu o sarrafo no prefeito Gilberto Kassab, cuja vitória estava garantida. E por quem nada secretamente torceu por meses e meses de campanha.

O segundo grupo é mais divertido. São os profetas da sensatez reinaldoazevediana, que acham que os candidatos devem saber tudo o que vão fazer para governar. Como se em algum momento da história da democracia eles se antecipassem tanto assim. Como se todos os seus pensamentos tivessem de ser escrachados numa campanha na qual não entram para participar, e sim para vencer. Como se governassem primeiro e ganhassem a eleição depois.

Campanhas eleitorais tratam de compromissos, não de propostas minuciosas sobre tudo que afeta uma sociedade. Servem para destacar quatro ou cinco pontos que possam ser debatidos num jantar do Rotary e no buteco da Vila Mané. Há alguns anos ouvi o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso comentar sobre isso em uma palestra e me pareceu um exemplo perfeito dessa postura.

Conta ele que na sua candidatura ao Senado, no fim da década de 70, fazia um discurso em cada lugar, para mostrar substância. Até que o doutor Ulysses Guimarães o alertou: "Professor, tente repetir apenas umas três idéias. É isso que importa." FHC não conseguiu. Perdeu. Duas décadas depois, menos arrogante, venceu duas eleições para presidente levantando uma mão e falando em cinco pontos cruciais. Resolveu já no primeiro turno nas duas vezes.

Obama elegeu-se não porque detalhou as propostas nos mínimos detalhes, inclusive com eventuais ajustes e recuos. Elegeu-se porque deixou claros quais eram seus compromissos, hoje alinhados à maioria dos americanos. O compromisso é mudar exorcisar Bush.

As críticas dirigidas ao presidente-eleito dos EUA caem nesse terreno: ele só dá falsas esperanças, não tem conteúdo, não detalha propostas, repete o mantra único da esperança, com informações gerais sobre o que quer fazer especialmente em três áreas: economia, saúde e dar fim à guerra no Iraque. Como isso vai acontecer não interessa para os americanos. Eles elegeram essas prioridades, não a forma como elas serão conduzidas.

E fizeram a melhor escolha que poderiam.

No fim das contas, campanha serve mesmo é para ganhar a eleição.

E criar na memória coletiva momentos como este aqui:



O resto é conversa de quem perdeu.

P.S.> O Corinthians é campeão da Série B. E daí?

Um comentário:

Anônimo disse...

Belo texto. Pra mim, o Obama já entrou na história como a primeira "campanha presidencial mundial".
Agora, quanto as promessas, isso é outra história. Por enquanto, não tenho tanta ESPERANÇA assim...rs