quinta-feira, 30 de outubro de 2008

A simbologia de Obama e de Lula

É de se suspeitar que um brasileiro queira comparar o candidato democrata à Casa Branca, Barack Obama, com o presidente Lula, mas o jeito deles de fazer política não é lá tão distante assim. Já escrevi aqui que a simbologia de Obama é mais forte do que a de Lula, mas não expliquei direito o que penso. Como as eleições dos EUA são semana que vem e a vitória do negão é mais provável, vamos lá. O raciocínio tem a sociedade do amigo Caio Quero, mais esquerdista do que eu, é necessário dizer:

Obama é o símbolo dos Estados Unidos que dão certo, enquanto Lula é um brasileiro símbolo que deu certo. Obama é a personificação das políticas sociais, incluindo a afirmativa, que permitem às minorias ocupar um espaço verdadeiro na democracia americana, com chance de ocupar o poder. É o candidato que precisou de oportunidades reais para chegar longe e que as obteve com a ajuda do Estado.

Lula é a personificação de um brasileiro que encarna em si o fodão e o fudido ao mesmo tempo, como diz o seu marqueteiro, João Santana. Ele não chegou ao Palácio do Planalto porque o Brasil deu mole. Teve de superar cada obstáculo para ficar perto da tomada de decisão. O Estado não o ajudou em nada antes da eleição. Toda a sua trajetória tem como base a luta por esse tipo de benefício.

Na esfera partidária, Obama tem outra diferença com Lula. O senador pende mais para uma espécie de Luiza Erundina, que tomou de Plínio de Arruda Sampaio a candidatura petista à prefeitura de São Paulo, em 1988, porque mexeu com as bases, não com a cúpula. Lula sempre esteve acima do bem e do mal no PT. E mudou a esquerda brasileira sem que o partido passasse por um processo de rediscussão pré-poder. Foi diferente na Alemanha, na Inglaterra, na Itália, na Espanha, onde vocês quiserem.

Qual dos dois é melhor nessa simbologia? Obama parece mais completo, mas nada garante que ele saberá transformar todo esse capital político em ações positivas para conter a crise econômica, vencer duas guerras no exterior e unir um país tão fracionado. Um país que ele ajuda a fracionar na campanha contra John McCain.

Apesar dos pesares, talvez o rapaz devesse pedir uns conselhos pro tio Lula. Na hora de governar, a simbologia vai pro vinagre.

P.S> Deixo duas dicas de vídeos: as peças finais de propaganda eleitoral de Obama e de Lula, favoritos nas pesquisas dias antes da eleição. Ali já se vê que a simbologia conta menos do que a necessidade de um tom presidencial.

Neste vídeo de 27 minutos, transmitido num monte de canais de TV na noite de quarta-feira. Obama até faz referência ao que representa (afinal, é difícil encher meia hora de programa), mas isso é o que menos importa ali. As propostas ganham o centro.



E aqui o melhor vídeo de propaganda eleitoral da história recente do Brasil. O slogan da mudança não serve como simbologia de Lula per se. Nenhuma palavra sobre operário, nordestino, sofrido, esquerdista, oposição ou seja o que for. É pra todo mundo.

segunda-feira, 27 de outubro de 2008

Um informe e um pedido

Pousei em São Paulo, vindo de Paris, no dia 19 de setembro. Voltei ao trabalho no dia 22. E desde então, tive dois dias de descanso (um sábado e um domingo). Tudo porque além de cobrir as eleições municipais, aceitei uma proposta para mudar de emprego depois de pouco mais de quatro anos. E tive de aceitar no meio da campanha, o que não raro implicou em jornadas de trabalho de até 17 horas.

Além de repórter da agência Reuters, cobrindo os candidatos nas regiões mais afastadas da cidade (o que é sempre mais interessante), trabalhei como editor-chefe da edição brasileira da revista de futebol inglesa FourFourTwo, cuja primeira edição está chegando às bancas das maiores capitais nesta semana.

Agora é esse o meu único trabalho. E até a revista vender bem, a equipe da revista sou eu. E uma diretora de arte. E um revisor.

Por favor, me ajuda. Eu podia estar matando, eu podia estar roubando, mas estou só pedindo para vocês comprarem uma revistinha por sete real. A gente não temos verba de publicidade.

Que nossosenhorJesusCristo te abençoa.

domingo, 26 de outubro de 2008

Venceu a política tradicional

Nas eleições que minimamente importam neste país, ficou claro que venceu quem soube usar a política tradicional: formação de alianças, exploração do tempo de TV e conservadorismo em relação aos governos federal e estadual. Por mais se exalte o prefeito-eleito de São Paulo como novidade ou que se critique o colega dele no Rio de Janeiro, por exemplo, o fato é que os eleitores demonstraram não estar interessados em muita mudança em relação ao que está posto.

Kassab se viabilizou pela disposição de Serra de rachar o PSDB paulistano, por medo de perdê-lo para um Geraldo Alckmin cada vez mais inclinado às Minas Gerais, e pela capacidade de se acertar com o PMDB de Orestes Quércia, que pode ser oco, mas oferece tempo de TV e capilaridade nos bairros. Nada mais tradicional.

Eduardo "Troca-Troca" Paes (mudou de partido sete vezes) é um tradicionalista por definição. Sabe medir os ventos e ajustá-los, com uma assustadora flexibilidade ideológica. Elegeu-se rachando o eleitorado e colocando-se ao lado de um presidente popular que já acusou dos piores crimes. Mas na política segue valendo o ditado: quem não sabe virar a página, não merece ler o livro. Paes sabe.

Em Belo Horizonte, há quem tente diminuir a vitória de Márcio Lacerda, poste do governador Aécio Neves e do prefeito Fernando Pimentel, arquitetos da aliança entre os dois partidos que polarizam as eleições nacionais. O peemedebista Leonardo Quintão veio com o papo de que o eleitor tinha dado seu grito de independência, mesmo depois de ele ser derrotado. Tudo conversa mole. Perdeu para um candidato fabricado em laboratório. O eleitorado comprou.

Salvador, Porto Alegre, Recife, Fortaleza, Goiânia, Curitiba, Belo Horizonte. Onde é que alguém contrariou essa lógica da tradição? Diante de candidatos representantes desse tipo de política, o máximo os rebeldes conseguiram foi chegar ao segundo turno. Raramente fizeram mais que isso - talvez o exemplo mais claro seja Santo André, onde o petista Vanderlei Siraque conseguiu a alckminiana façanha de terminar o segundo turno com menos votos do que obteve no primeiro. Que beleza.

Até em São Luís, quem diria?, o tradicionalismo venceu por meio de um candidato da oposição. O eleito, João Castelo (PSDB), é adversário da família Sarney, da qual foi cria. E o comunista Flávio Dino, apoiado pelo clã, perdeu. O governo estadual está nas mãos de Jackson Lago (PDT), que alijou o ex-presidente do poder no Maranhão pela primeira vez em 40 anos, em 2006.

A tradição venceu, de lavada. E venceu sem um candidato se eleger batendo no presidente da República cuja popularidade bate nos 80 por cento. Não acho que o eleitor brasileiro seja conservador por natureza, mas que desta vez ele foi bastante cauteloso e atento ao "continuaremos o que está bom", ah, isso ele está.

sábado, 25 de outubro de 2008

Nada além da obrigação

Não dá para negar: a campanha do Corinthians na Série B pouco teve de comovente. O time, ao contrário do que alguns críticos previram no início do ano, sobrou na competição e garantiu o acesso à elite do futebol brasileiro, de onde nunca deveria ter saído, com várias rodadas de antecedência. Os jogadores e a diretoria não fizeram nada além da obrigação, já que até clubes menos portentosos como Atlético Mineiro e Botafogo retornaram um ano depois de terem caído. Isso tudo é fato.

Assim como é fato que o goleiro Felipe não fez nada além da sua obrigação ao pular o alambrado e se misturar a milhares de corintianos aliviados pelo retorno à elite do Brasileirão. Pode parecer algo muito fora do comum para quem não torce pelo Alvinegro, mas quem faz parte da torcida mais fiel do Brasil sabe que belas demonstrações como aquela são corriqueiras na história do Coringão. Felipe apenas seguiu uma antiga tradição do clube. Emocionar era com o Corinthians. E continua sendo.

No ano passado, assisti ao Corinthians cair para a segunda divisão enquanto trabalhava no plantão do fim de semana. Havia eleições na Rússia, referendo na Venezuela e três TVs ligadas nos jogos que decretariam o destino do meu time de coração no ano seguinte. Assisti aos três enquanto escrevia. Qualquer corintiano faria o mesmo. Não era mais do que a minha obrigação.

Perdemos. Senti o baque por dois minutos. Pensei em como neste ano a fórmula se repetiria: derrotas aumentadas e vitórias menosprezadas. É assim que acontece na periferia desde antes de 1910, ano em que surgiu o primeiro clube no Brasil, salvo engano, a ter um negro entre os seus dirigentes fundadores.

Depois de quase 11 meses de incômodo - nunca foi calvário, porque a certeza da volta à primeira divisão existe há meses -, assisti pela TV ao Corinthians cumprir sua obrigação.

Tudo bem, não foi nada demais voltar ao lugar devido. Mas foi bom demais reviver o heroísmo das pequenas coisas. Aquelas que um torcedor mais identificado com os troféus do que com o futebol não entende. Aquelas que só o Corinthians desperta em tanta gente.

Nada além da obrigação de quem é tão diferente dos outros.

terça-feira, 21 de outubro de 2008

Um exemplo de baixaria

Ainda em referência ao que vale e o que não vale na política - sempre de acordo com a minha opinião: não vejo problema em mexer com a vida pessoal do adversário político quando o limite da verdade é respeitado. Por isso que se diz que os eleitos têm vida pública. Supostamente para servir ao público.

Mas é muito baixo envolver em uma discussão política pessoas que não pediram para entrar nela. Que não disputam cargo público.

Eis aqui um exemplo.



É por isso que eu bebo.

segunda-feira, 20 de outubro de 2008

Sobre política suja

Sou bastante mais liberal do que muita gente em relação ao que é jogo sujo ou não na política. Claro, respeito a opinião de todos, não me julgo mais esperto nem mais ingênuo do que ninguém. Mas vou deixar aqui uma posição mais clara sobre o que pode valer e o que não vale - sempre segundo minha opinião.

Eu acho que o limite da política é a verdade. Um político que conta mentiras, faz jogo sujo. Já inventaram que a campanha dos cinco dedos do FHC em 1994 servia como alusão ao dedo a menos de Lula. Isso é ignorância ou mentira. O gesto servia apenas para reverenciar Tancredo Neves. E nada mais.

Assim como inventaram de dar camisas do PT a sequestradores do empresário Abílio Diniz. Uma armação escrota, desmascarada apenas anos depois. Mentira deslavada.

Quando não é mentira, torna-se opção. E digo a razão.

Ninguém espera que os políticos digam a verdade o tempo todo. Ninguém. Eles estão autorizados a serem, digamos, ambíguos, porque a política nunca foi feita apenas da verdade. E isso qualquer sociólogo mais ou menos já disse muitas vezes.

Política é instrumentalização.

Nunca li Kant na vida, mas já ouvi muita gente falar que o filósofo defende que nunca devemos usar os outros para fins que beneficiam apenas a nós mesmos. Mas a política cabe nesse tipo de ética?

Na minha visão, não.

Portanto, se alguém utiliza seja o que for contra um rival e essa ferramenta não está distante da verdade, não vejo como falta de ética. Pode ser uma opção mal ou bem utilizada, que sempre resvala nas condições políticas e sociais.

Em suma, política suja é inventar e mentir.

O resto, é escolha, bem ou mal feita.

sexta-feira, 17 de outubro de 2008

Retificando e andando

Já que o colega Ricardo Noblat não retifica o erro, faço isso por ele: ao contrário do que informou o seu blog, Gilberto Kassab não ganhou um monte de pontos nas pesquisas após a gritaria a respeito da propaganda da rival Marta Suplicy. As projeções extra-oficiais do blog do Noblat apontavam para esse cenário, mas lamentavelmente os eleitores não corroboraram sua tese. Que pena.

Kassab segue rumo à reeleição, sim, com tranquilidade. Mas ficou claro que o povo de São Paulo não deu a mínima para a polêmica da propaganda da petista. Só serviu para consolidar votos já consolidados. A fatura está liquidada. Nunca houve virada em segundo turno na eleição paulistana e não haverá agora.

Desde que o 2o turno se configurou, os paulistanos já sabem em quem vão votar. E o mesmo se aplica a várias outras capitais onde haverá eleição no dia 26. A única grande exceção é o Rio de Janeiro.

Talvez alguns jornalistas tenham sido mais sensíveis à propaganda de Marta e acreditaram que ela despencaria nas pesquisas porque não são casados nem têm filhos. Estou na mesma condição, provavelmente por motivos diferentes, mas respeito a opção que fazem. Inclusive a de ficarem bem histéricas.

José Serra e as polícias

O governador paulista não deveria ter denunciado um suposto uso eleitoral para a greve dos policiais civis do estado - a troco de quê, se o seu candidato vai sucedê-lo na prefeitura de São Paulo?

Ele também foi pouco hábil por não ter tido comando para aplacar as reclamações dos grevistas e ajudar a resolver o impasse. Não explicou nada e não disse palavra sobre o que pretende fazer para acalmar as tensões entre as polícias militar e civil.

Mas certamente agiu como deveria ao mandar os militares para cima dos revoltosos que foram ao Palácio dos Bandeirantes para tornar ainda mais públicas as queixas, sejam elas justas ou não.

Policiais civis têm permissão para andar com arma. E armados foram eles até a sede do governo, numa clara afronta, cobrando ainda que os colegas militares os acompanhassem no protesto. A recepção que tiveram foi a que mereceram.

Até porque se eles tivessem chegado às grades do palácio sem resistência, o governador passaria a impressão de ser frouxo. E foi por uma situação assim que André Franco Montoro ganhou pecha de bundão quando ocupou o cargo. Perdeu o comando das polícias, foi desafiado e vergou. Polícia é a única coisa que os paulistas sabem que realmente tem a ver com o governo estadual e é o maior ponto de pressão para os governantes daqui, sempre presidenciáveis só por ocupar o cargo na região mais rica do país.

Serra, ex-secretário de Montoro, não cometeu o mesmo erro. Quem quer porque quer ser presidente da República não fica com coração mole nesse tipo de situação. E apela até ao programa do Datena para justificar a necessária truculência, ainda que não convoque uma coletiva para explicar o assunto com a devida seriedade.

Mas o que ele pensa em fazer para resolver o impasse?

O governador não parece saber.

Por mais que impedir a chegada dos manifestantes tenha sido justo, nada disse Serra para explicar como o estado de São Paulo, pela primeira vez na sua história, viu um conflito desse tipo.

Por isso, ou Serra aprende a tratar direito com os policiais ou vai ver sua cadeira balançar bastante até 2010. Não adianta ganhar a prefeitura de São Paulo se perder o comando das polícias.

Não mesmo.

segunda-feira, 13 de outubro de 2008

Marta já mira Kassab como líder do ex-PFL

Depois do 1o debate apenas entre o prefeito-candidato Gilberto Kassab (DEM) e Marta Suplicy (PT), dois importantes momentos foram ignorados -ou substituídos- pela imprensa. Ambos vieram da boca da petista, como não podia deixar de ser, já que é ela quem tem de reverter desvantagem, não Kassab.

O primeiro foi quando Marta mostrou um documento perguntando sobre uma decisão do prefeito de barrar licença maternidade por seis meses. Kassab se enrolou todo e explicou o veto como se fosse uma questão burocrática, tanto que reapresentou o mesmo texto com pequenas alterações no ano eleitoral.

A petista leu o texto do veto do prefeito, no qual ele questiona o mérito da licença de seis meses, uma vez que, segundo ele não há indícios científicos de que ele seja necessário.

(Durante o debate, o blog do jornalista Ricardo Noblat postou o trecho de vídeo com a enrolada de Kassab. Estranhamente, horas depois o post tinha desaparecido. Não sei qual foi o motivo.)

A resposta do prefeito-candidato foi tão ruim que ele se perdeu na tréplica, achando que era hora de fazer pergunta, e não de tentar rebater o motivo. Perdeu os dois primeiros blocos do programa.

O segundo momento importante foi quando Marta afirmou com todas as letras que Kassab será o líder que restou do ex-PFL, visto que o partido foi o que mais perdeu nas eleições. A petista, ao que parece, sabe que não vai vencer, quer apenas diminuir a desvantagem em relação a Kassab e fazer com que haja mais em torno do prefeito-candidato do que a aura de bom moço.

Em um debate com pico de 9 pontos no Ibope, nada absolutamente sensacional, vejamos os acontecimentos dos próximos dias para saber como as coisas evoluíram. Até porque além do debate, conforme eu previa, entrou em pauta a sexualidade de Kassab.

Até que demorou.

A campanha da petista Marta Suplicy jogou uma frase ao vento e a imprensa, que não sabia como discutir o assunto e possivelmente nem sequer o faria até o fim da disputa, embarcou. Embarcou com um tom de indignação com toda a cara de ópera bufa.

Pelo que me lembro, Luiza Erundina cansou de sofrer com insinuações de ser lésbica e não me recordo, talvez pela pouca idade, de uma reação igualmente indignada. Ao contrário: o tom de chacota malufista reverberava por aqui e por ali.

Marta Suplicy possivelmente tenha respondido mais sobre seu estilo de vestir do que sobre qualquer ação que desenvolveu quando prefeita. Então qual é o problema para os conservadores eleitores de São Paulo se deparar com essa questão sobre Kassab?

A questão é que mulher não pode fazer o que quiser e homem, pode? É esse o pano de fundo. Não se condena ninguém pelas escolhas pessoais que faz, mas utilizar termos como "paraíba-masculina" e "dona Marta", em referência a dondoca, me parece ainda mais pornográfico e apelativo. Ou será que a imprensa não tem memória?

Seja como for, mesmo com a provável vitória em São Paulo, Kassab finalmente descobriu que participar do cenário político nacional tem custo -e é custo pessoal sim, senhor. Ou será que ele esperava ganhar projeção, ser o mais poderoso político de um partido importante sem nenhum sacrifício?

P.S.> Lembra o amigo Fernando Vives que em um dos debates da disputa para a prefeitura de São Paulo em 2000, o jornalista Fernando Rodrigues perguntou a Marta durante debate na TV Bandeirantes: "A senhora já traiu o seu marido?" A petista reagiu bastante irritada, como de costume, mas o estrago já estava feito.

Nos dias anteriores, o adversário Paulo Maluf cansou de dar entrevistas com insinuações e piadinhas sobre isso. A indignação da imprensa foi tão grande que eu nem lembrava desse episódio.

quinta-feira, 9 de outubro de 2008

Uma chance para o Rio discutir

São Paulo vai voltar aos braços da direita mais direitosa. Salvador vai superando o carlismo. Fortaleza começa a abandonar Ciro Gomes e Tasso Jereissatti. Belo Horizonte discute se vale ou não eleger um poste só porque ele tem amizade com o prefeito e com o governador. Porto Alegre segue dividida no seu Gre-Nal político entre PMDB e PT. E o que será que será do Rio de Janeiro?

Não sei dizer.

Eduardo Paes é do PMDB. Mas também passou pelo PSDB, que o alçou à condição de menino da Globo na CPI dos Correios, e pelo DEM, por afinidade política com o prefeito César Maia. Meu Deus, o que é César Maia? Nem ele mesmo deve saber.

Pois bem. O adversário dele é Fernando Gabeira, revolucionário que, segundo um ex-colega de guerrilha, era mais eficiente pedindo pizzas e fumando maconha do que pensando no que fazer para libertar o Brasil da ditadura. O mesmo Gabeira que foi do PT e há três anos flerta com o PSDB.

O que muda com a eleição de um desses dois? Paes é mais próximo do governador Sérgio Cabral. E se for eleito, ficará mais próximo do presidente Lula, cujo governo cansou de chutar em sua arrebatadora passagem pela Câmara dos Deputados.

Mas por que seria diferente se o vencedor for Gabeira? Ele também bateu sem cansar no governo Lula e, se eleito, cairá gostosamente no colo do Palácio do Planalto. Afinal, nenhum prefeito administra sem ajuda do governador e do presidente.

Então qual é a diferença? O que eles mostraram que farão de diferente de César Maia? Não moro no Rio, mas dá pra saber: nadinha. Nada que mereça ser chamado de algo.

Para a sucessão presidencial de 2010, tanto faz. Mas os candidatos poderiam ao menos se dar uma chance para discutir política. Política para a cidade, e não discurso udenista para a zona sul contra discurso populista para o povão.

Em São Paulo, cidade da única eleição municipal que realmente importa para o país, dá para entender parte do clima anti-Marta. Ela faz política e representa idéias, com as quais as pessoas concordam ou não (apesar dos machistas e das pudicas que a detestam porque ela se separou do panguão do senador Eduardo Suplicy).

Mas o que pensa Eduardo Paes sobre política? Dane-se que ele é amigo do governador. O que ele acha? Não sei quem saiba responder. E o rapaz já passou por sete partidos, já deveríamos saber o que ele pensa. Ou será que ele também não sabe?

E Gabeira? Tem mais alguma coisa além do discurso udenista-ex-petista pela ética e pela moralidade ou tem algo a oferecer além das perspectivas de fazer o Bolsa Tanga de Crochê?

Tentei saber, mas não consegui.

O último político do Rio que foi levado a sério é Leonel Brizola, um gaúcho. Antes dele, talvez tenha sido Carlos Lacerda, que hoje se sentiria à vontade no Democratas fazendo campanha por Jorge Bornhausen presidente. Alguém consegue ver o Rio muito diferente com Paes ou com Gabeira? Sinceramente, não consigo.

O segundo turno carioca pode ser ainda ser uma boa chance para os candidatos do Rio fazerem política. Já passou da hora de simpatia vencer eleição na cidade que tem o cenário natural mais lindo do mundo. Até porque votar por simpatia é coisa para caipira paulista.

sábado, 4 de outubro de 2008

Eu ouvi, ninguém me contou

Na sexta-feira, antevéspera das eleições municipais, cobri a vistoria do prefeito-candidato Gilberto Kassab ao Parque do Povo, construído na popular área nobre do Itaim Bibi, zona sul de São Paulo.

Durante a caminhada, fui andando a esmo até que me vi caminhando lado-a-lado com um grão membro da administração DEM-PSDB, que conversava com alguns subprefeitos. E ele, que ao chegar conversou comigo e com outros colegas, disse aos companheiros de campanha, obviamente sem notar a minha presença:

"Está tudo caminhando para o nosso lado, a imprensa toda está a nosso favor", disse ele, que comentou também sobre a beleza do Museu do Futebol, recém-inaugurado.

Não publiquei o nome dele nem a declaração no texto que escrevi para o lugar onde trabalho porque não tenho a gravação. Não que seja crime dizer isso, mas vindo de quem veio serviria para referendar o óbvio não-lulante.

Nunca fui petista nem tucano, muito pelo contrário, mas não tem como não ver a falta de equilíbro da imprensa na cobertura das eleições paulistanas --as únicas que realmente interessam neste país, porque são as únicas que têm caráter nacional.

Para quem discorda da minha crítica, já exposta antes neste mesmo espaço, sugiro a leitura da capa do caderno DNA Paulistano publicado pela Folha de S.Paulo na véspera da eleição.

É absolutamente didático.

Há três colunas horizontais com três fotos para cada um dos que, segundo as pesquisas de intenção de voto, são os primeiros colocados na disputa.

Na primeira coluna aparece uma série com a petista Marta Suplicy acima da frase "O que eles propõem..."

Na segunda está Kassab. E entre a série de fotos dele e a do rival Geraldo Alckmin, o pessoal lê "... o que a cidade quer".

Dada a amizade entre Kassab e o governador José Serra e deste com a direção do jornal mais importante do país, me pergunto se não tem algo de verdade na piada que diz que a Folha vai começar a acompanhar o padrão do maior diário italiano.

E trocar de nome para Corriere dello Serra.

De fato, seria mais honesto.

quinta-feira, 2 de outubro de 2008

Lewis Hamilton, o idiota

"Sei que sou tão bom quanto Senna foi", disse ele, maior campeão da história da Fórmula 1 e melhor piloto de todos os tempos, referindo-se ao tricampeão em entrevista ao canal alemão RTL.

Então tá.

quarta-feira, 1 de outubro de 2008

Brio e estupidez no Rio Grande do Sul

Sou paulista e não acho que onde nasci me faz superior em nada. Tem gente boa e gente ruim em todo lugar. Mas não consigo não ficar encucado com uma coisa: por que tantos gaúchos que conheci, pessoalmente ou pela mídia, confundem brio com estupidez?

Esse é certamente o caso do vice-presidente de futebol do Grêmio, André Krieger, que disse ver favorecimento ao Palmeiras na disputa pelo título brasileiro, uma vez que o Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD) absolveu o meia-atacante Diego Souza depois da cotovelada que ele deu em um rival do Cruzeiro.

"Não se pode abrir o coração sob risco de uma punição moral. Mas isso já aconteceu há alguns anos, contra o Inter, e o favorecido foi o Corinthians", afirmou ele, em entrevista à Rádio Bandeirantes.

Então tá.

O time dele é treinado pelo Celso Roth, estava surpreendentemente liderando o campeonato, caiu de produção e agora o Palmeiras está sendo beneficiado, igual ao Corinthians em 2005. Os parceiros do Palmeiras investiram milhões no time e na comissão técnica e o dirigente do Grêmio se vê prejudicado. Oquei.

A impressão que fica é que tem muito gaúcho provinciano comandando os dois clubes grandes do estado. Pra mim, os gaúchos são os chineses do Brasil: têm lá sua importância e ficam choramingando porque o mundo não admite que a terra deles é a mais importante que já existiu e que se eles não vencem sempre, é porque houve um terrível complo dos invejosos e inescrupulosos.

Um saco.

Em 2005 foi a mesma coisa em um grau muito maior com o Internacional. Eu defendia que o campeonato fosse anulado quando descobriram os roubos do juiz vagabundo. Mas os clubes quiseram jogar. Para continuar jogando, a exigência foi que se disputassem as partidas em questão mais uma vez. E o Corinthians saiu campeão. O Inter, como se nunca mais fosse ganhar um título na sua história, ainda reclama. Ganhou o Mundial e ainda reclama!

Um tédio.

Acho que alguém tinha de começar a dizer pros cartolas gaúchos que brio e estupidez são coisas diferentes. Os dirigentes do futebol do Rio Grande do Sul têm de aprender não apenas a perder, mas também a assumir responsabilidades.