segunda-feira, 31 de março de 2008

O tédio dos cartões corporativos


Não dá para não ter sono com o chamado escândalo dos cartões corporativos. Quando a oposição precisa citar gastos com tapiocas e carpetes como algumas de suas bandeiras para chutar um governo popular e que tem dez mil outros motivos para ser chutado com força, é sinal de que pior do que os áulicos só mesmo os seus rivais.

Fiquei com a impressão de que, talvez cansados de ouvir as piadas repetitivas de Mão Santa e saudosos dos bombons de cupuaçu antes trazidos por Ney Suassuna, os senadores resolveram dar uma agitada e criaram uma CPI logo no começo do ano. Assim eles iriam mostrar que não estão de vagabundagem.

Ouviram as dicas de uns figuras por aí, deram uma olhada num site do governo federal e zaz! Acharam dados para serem usados sem parcimônia e, melhor do que tudo, sem precisar mover uma palha para terem acesso à numeralha.

Além dos discursos éticos em profusão, do tipo que fariam o chatíssimo José Lins do Rego corar, veio a criação da CPI mais picareta dos últimos anos, que conseguiu a proeza de praticamente terminar os trabalhos quando ainda nem tinha sido instalada.

(Mais)Uma desmoralização para o Parlamento.

Mas, enfim, CPI é um instrumento das minorias, já sentenciou a Suprema Corte. Não importa se a comissão será um desperdício de tempo, de energia e de massa cinzenta em um ano encurtado pelas eleições municipais. O importante é participar.

O pior de toda a pretensa polêmica, que dia-a-dia invade a mídia com dezenas de reportagens sobre o quase-nada-absoluto, sem causar grande comoção, é ver que os figurões de um lado e de outro concordam em quase tudo.

Cartão corporativo é uma boa, mas tem de fiscalizar. E tem gente que sacaneia. E tem de investigar os casos de corrupção já detectados ou os suspeitos.

Ah, vão se lavar.

A obviedade é tamanha que é digna do Djavan, ainda incapaz de ler japonês em braile.

Tem dengue matando de montão, crise econômica rondando os emergentes, assassinatos às dezenas nos grotões amazônicos do Brasil, falta de infra-estrutura para aguentar o tranco da globalização e os rapazolas vêm me falar de cartão corporativo?

Dá um tempo.

Ainda tentaram reesquentar o caso com as groselhas sobre um suposto dossiê do governo contra os adversários, que usavam os tais cartões quando estiveram no Palácio do Planalto. Mas o tédio, felizmente, prosseguiu.

Me pergunto se alguém falaria de cartão corporativo se este não fosse um ano de eleições municipais. Afinal das contas, na eleição presidencial de 2006 apareceu o tal do escândalo do tal dossiê anti-tucano e assim que a última urna foi fechada esse assunto simplesmente desapareceu da mídia e das tribunas do Congresso.

Naquela ocasião, até fazia sentido, politicamente, surgir o tal dossiê anti-tucano. Isso pesou no adiamento da definição da eleição presidencial para o 2o turno.

Mas o que produzirá esse pretenso escândalo dos cartões corporativos?

Se bobear, a única mudança que vai rolar depois de mais umas semanas de tediosa gritaria será um belo desconto na anuidade dos cartões dos congressistas. Assim eles vão poder economizar um pouco e distribuir ranhetice em outras bandas.

sexta-feira, 28 de março de 2008

Roubo clássico e midiático

Nunca na história recente deste país, como diria o presidente Lula, houve um clássico paulista tão roubado quanto o de quarta-feira, no qual o Santos bateu o Corinthians por 2 x 1. Mas o autor da obra-prima, o juiz caseiro Sálvio Spínola, continua sendo o chuchuzinho da Federação Paulista de Futebol. Candidato a apitar partidas da Olimpíada e da Copa do Mundo de 2010, dizem os bem-informados. Vejo apenas uma justificativa para tão pouco ter mudado na vida do árbitro depois do crime de lesa-pátria cometido na quarta-feira.

E a justificativa é que o descrédito do time do Parque São Jorge após o mal-fadado acordo com a máfia russa é tamanho que nem o prejuízo evidente em um jogo aberrante como esse dá voz ao alvinegro nas reclamações sobre a arbitragem. Aos fatos:

Sálvio marcou faltinhas irritantes a favor do time da Vila Belmiro. Deu três minutos de acréscimo em um jogo que mereceria o dobro disso --além das substituições, teve expulsão, contusão, comemoração de gol. Anulou um gol legítimo do Corinthians. E validou o gol da vitória santista, no qual Kleber Pereira derruba Carlão em um lance que seria falta até no futebol americano.

Em prejuízo dos santistas, não expulsou Herrera, que se ajoelhou nas costas de Betão. Preferiu tirar de campo o zagueiro.

Tudo isso compõe uma arbitragem no mínimo polêmica. Mas quase ninguém que escreveu sobre o jogo viu desse jeito. Ninguém nos principais sites brasileiros. Ninguém da Folha de S.Paulo. Ninguém do Estadão. Ficou fora da capa do Lance! Por quê?

Apesar de as reclamações serem óbvias e pouca dúvida haver sobre o prejuízo sofrido pelo Corinthians, apenas a Gazeta Esportiva se dignou a dizer que a arbitragem foi "polêmica". Nos outros textos, olímpica indiferença. Apenas as TVs alimentaram a discussão, já que o tempo dos seus vazios programas esportivos precisa andar. No mais, deram as batatas ao vencedor e bola pra frente.

O assunto só ressurgiu na repercussão, com muitos verbos no condicional para fingir imparcialidade. Uma imparcialidade que apenas reforça o desquilíbrio.

No pior ano da sua história, 2007, o Corinthians frequentou as páginas policiais tanto quanto as esportivas. Sendo assim, é natural que haja desconfiança com exigências e reclamações vindas de um clube que ainda não se limpou das mazelas que o mancharam. Mas tudo tem limite. Se esse tratamento da mídia não é justo com clubes de menor importância, cujas reclamações sempre foram tratadas com desdém, ele é ainda menos justo para com o clube mais importante do Brasil, que move milhões de pessoas --a seu favor e contra ele-- como nenhum outro destas bandas. E ponto.

É esse descrédito que ajuda os desocupados como Sálvio Spinola, um árbitro trapalhão há pelo menos um ano, a não se incomodarem com cobranças muito justas feitas por um clube tão importante que leva a atenção de primeira divisão mesmo na segundona. Assim como aconteceu em 2007, errar contra o Corinthians não pode se tornar motivo para referendar a suposta isenção de árbitros de todo o país.

Os lances ditos polêmicos do clássico nada têm de polêmicos. Nem de interpretação. São lances absolutamente claros e que apenas um árbitro indolente ou mal preparado não acertaria. No clássico São Paulo 0 x 0 Corinthians deste ano, Salvio anulou um gol do são-paulino Adriano porque viu falta dele sobre William. Houve discussão. Mas quem é que discute que Kleber Pereira empurrou Carlão? Quem discordou que o gol de Fabinho deveria ser validado?

Polêmico coisa nenhuma.

O clássico foi um garfo nas costas do Corinthians.

E só.

terça-feira, 25 de março de 2008

Os idiotas ganharam o Bope

Os idiotas sempre foram maioria, convenhamos. Mas nunca como nestes nossos obscuros tempos tantos deles descobriram que poderiam controlar o mundo. Foi isso que me veio à mente depois de ler uma reportagem da Revista da Folha de S.Paulo que trata das palestras motivacionais proferidas por ex-dirigentes e policiais do Batalhão de Operações Especiais (Bope).

Para quem não se lembra, o Bope é aquela corporação policial do Rio de Janeiro diversas vezes acusada de usar a declaração dos direitos humanos como papel higiênico. E de promover execuções sumárias, torturas e delícias que fariam as Farc corar de vergonha.

Ex-capitão da entidade que ganhou notoriedade mundial por conta do filme "Tropa de Elite", Paulo Storani ganha até 10 mil reais para motivar vendedores de seguros, executivos, bancários e o diabo a quatro, diz a reportagem. E isso permite a ele levar posters de caveirões, símbolo maior da corporação, com slogans robertoshiniashikicos como "Missão dada é missão cumprida" ou "Vá e vença". Ou encerrar seus discursos cobrando de todos o grito de "Eu sou caveira!" Alguns suspeitam que estão assistindo ao embuste do século, mas a maioria apenas se empolga.

Para justificar o sucesso de um evento tão desumanizador e consagrador da violência pela violência e da nossa estupidez terceiro mundista, nada melhor do que citar dois espécimes que viram e aprovaram a exposição do senhor Storari.

Eis Patrícia Olivani, coordenadora de vendas de seguros do Unibanco AIG: "Nas palestras, fazemos uma auto-reflexão, buscando as características do 'caveira' dentro da gente".

Mas é claro, Patrícia! Assim como o Bope enche os vagabundos de chumbo, um bom vendedor vai encher os vagabundos de seguros de todos os tipos. Afinal, ela é brasileira e não vai desistir nunca. E aprendeu direitinho com o ex-capitão do Bope que alguns desafios podem ser mais perigosos, mas todos podem ser caveira.

Fiquemos agora com Gustavo Rosset, diretor comercial da Rosset Têxtil, dona da Valisère. Ele se inspirou na linguaguem do capitão Nascimento, anti-herói do filme, para tratar os seus funcionários.

"Na empresa, a gente agora só se chama por número", comemora.

Esse com certeza merece ser chamado de zero zero. É o número que combina com a capacidade de julgamento que ele tem.

Não tem jeito, a cada dia a máxima se confirma.

Só existe uma coisa neste mundo que não tem limite: a burrice.

segunda-feira, 24 de março de 2008

Democracia corintiana


O melhor depoimento que vi sobre a ação mais interessante da história do futebol brasileiro, a Democracia Corintiana, foi dado à TV Cultura há alguns meses por Marco Aurélio Cunha, superintendente de futebol do São Paulo. Disse ele que somente um clube popular como o Corinthians seria capaz de traduzir tão lindamente o anseio por democracia no país. E apenas o clube do Parque São Jorge tinha cérebros capazes de entender o momento e a simbologia de o clube do povo decidir tudo pelo voto. Tudo.

Mas se em 1982 o presidente Waldemar Pires, o sociólogo e diretor de futebol Adílson Monteiro Alves e o meia Sócrates comandaram o processo que Marco Aurélio bem descreveu, ao mesmo tempo em que davam uma lição ao agonizante governo dos militares, o que acontecerá com o Corinthians agora, depois de decidir mudar seu estatuto e permitir que os sócios votem nas eleições do clube?

Se depender de quem pensou e autorizou esse processo, nada.

A mudança estatutária para permitir o voto dos sócios não é um passo tão grande quanto o dado pela brilhante geração da década de 1980. Nem sequer é nova, já que há outros clubes que adotam o expediente. Então por que imaginar que o presidente Andres Sanchez e o diretor de futebol Mario Gobbi repetiriam minimamente o que seus antecesssores de quase 30 anos atrás fizeram? Como crer em quem vê democracia como voto na urna e despreza o diálogo permanente, sem interesses inconfessáveis?

Não há liderança corintiana capaz de ver hoje como viam há 30 anos. E isso porque se mantêm no poder os admiradores da involução da autoritária presidência de Alberto Dualib, o interminável, que sequestrou o Corinthians e roubou o clube também em nome de muitos que votaram pelas "Diretas Já" do clube do Parque São Jorge. Mudança de postura? De visão? Ou apenas um meio de mudar as coisas para que elas continuem como têm sido? E agora com anuência das torcidas organizadas?

Poder para o povo pobre, com Andres e demais asseclas no poder?

Faz-me-rir.

terça-feira, 18 de março de 2008

Pinceladas pré-feriado

Para poupar o tempo dos pacientes leitores, serei sucinto:

1 - Zinedine Zidane autografou minha camisa da seleção francesa. Eu o cumprimentei e agradeci "par tout". Simples, ele apenas acenou com a cabeça para o jornalista que acabara de perguntar na sua entrevista coletiva se ele voltaria aos campos. Mais tiete do que repórter pela primeira vez, admito. Ele é o melhor que vi em campo nos meus parcos 26 anos de idade. Não me desapontei.

2 - O Palmeiras fez 4 x 1 no São Paulo. E como a imprensa esportiva gosta de quem está ganhando, bandeou-se toda pro lado do alviverde. Como se o Tricolor não tivesse atuado com desfalque de meio time. Assim como o Corinthians, que perdeu para o rival jogando apenas na defesa. O time do Parque Antártica tem potencial, mas não é a equipe mais avalassadora do Brasil. Aproveitou-se das chances que teve, mas não é nada além disso. Terá de provar na fase final do Paulistão e da Copa do Brasil.

3 - O Cruzeiro é o time mais ajeitado do Brasil. Empatou por 1 x 1 com o Caracas fora de casa e, por hora, está com mais perfil de vencedor de Libertadores do que os estrelados São Paulo, Fluminense e Flamengo. Que oscilam muito mais do que o time mineiro e que disputam estaduais mais desgastantes. Na fase aguda do torneio sul-americano, na qual os brasileiros se enfrentarão, isso pode fazer diferença.

4 - A tal CPI dos Cartões Corporativos acabou sem nem começar. Quem esperava algo diferente?

5 - Paulo Henrique Amorim perdeu seu blog no IG. Disseram que o moço custava muito caro. Antes tarde do que mais tarde.

quarta-feira, 12 de março de 2008

Colômbia ameaça estabilidade sul-americana


Agora que acabou a possibilidade da Guerra de las Bananas entre Equador, Venezuela e Colômbia e depois de duas revistas semanais brasileiras dissertarem sobre o perigo de um governo venezuelano bem armado, vamos aos fatos. As fontes são a revista Jane's The Military Balance 2006 e o site www.globalsecurity.org, cujos dados foram compilados pela agência Reuters.

1) O Exército da Colômbia tem 178.000 soldados, o dobro do que têm Venezuela e Equador juntos. A Marinha colombiana equivale à soma dos dois rivais, cerca de 22 mil pessoas. Na Aeronáutica há empate de colombianos e venezuelanos, com sete mil.

2) Os aviões da Colômbia são semi-novos. A maioria dos da Venezuela são inoperantes.

3) Os Estados Unidos enviam bilhões de dólares para manter o presidente Alvaro Uribe bem tranquilo, enquanto impõem restrições ao patético Hugo Chávez e o inexperiente Rafael Correa por eles não serem simpáticos ao Tio Sam.

4) Uribe vai tentar um terceiro mandato na Colômbia, assim como em outros tempos fez o peruano Alberto Fujimori, outro darling de Washington. Para os americanos, isso é bacana. Chávez tentou reformar a Constituição para se perpetuar no poder na Venezuela. Para os americanos, isso é feio, chato, bobo e antidemocrático.

5) A Colômbia é o único país sul-americano onde há uma guerra civil. Há décadas. E não tem controle sobre suas fronteiras apesar do tamanho das suas Forças Armadas.

Diante disso tudo, por que raios tanta gente acha que a ameaça à estabilidade na região é a Venezuela, e não a Colômbia? A crise recente evidenciou isso com toda a clareza e a interpretação mais corrente foi de que Chávez, o fanfarrão, mandou tropas para pressionar a Colômbia, que, afinal de contas, está em guerra civil.

Quem deu ao presidente Uribe o direito de culpar os vizinhos por não ser capaz de impedir que os guerrilheiros das Farc saiam do território colombiano?

"Ah, mas os tiranos vagabundos da Venezuela e do Equador simpatizam com os caras da Farc", gritaria o moço de recado de Washington por estas bandas. E eu respondo: e daí? Por que o señor Uribe demorou tanto tempo para procurar os canais diplomáticos adequados ou o tribunal internacional de Haia?

Exercer o controle do seu território com autoridade é premissa para qualquer presidente. Mas señor Uribe preferiu responsabilizar inúteis como Chávez e Correa por não conseguir impedir a entrada de colombianos nos países vizinhos. E o mundo engoliu.

Se Chávez é lamentável, Uribe não deve nada a ele. Só mudam os amigos e a retórica.

O colombiano pode não ser psicopata, como já disseram os dois outros presidentes que sonhavam com a que hoje é a Batalha de Itararé da política latino-americana recente.

Mas é, de fato, incompetente, manipulador e desestabiliza a América do Sul. Já deveria estar recebendo o tratamento e a preocupação devidos pelo governo brasileiro.

sexta-feira, 7 de março de 2008

Uma crise aérea de verdade

No Brasil voar de avião ainda é benefício para cinco por cento da população. Antes do recente surto de crescimento, devia ser luxo de metade da metade disso. Por isso me embrulhou o estômago ver entre 2006 e 2007 as tentativas de associar a crise aérea que assolou os país a uma demonstração inexorável de que a culpa era do mordomo: o lulo-petismo em vigor.

Apesar de não ser lulista, petista nem muito pelo contrário, cansei de ouvir que nos todos poderosos Estados Unidos o sistema aéreo era muito pior há décadas, não necessariamente por causa do loteamento nos órgãos de fiscalização ou por conta de reformas que, ah, meu Deus!, não colocaram o tal grooving nas malditas pistas.

Quase um ano após o que muitos chamaram de assassinato de passageiros da TAM em Congonhas, a Southwest Airlines, maior companhia de baixo custo do mundo, aliviou minha consciência. Vai pagar US$10 milhões de multa porque, nos mesmos anos da crise aérea brasileira, transportou milhares de passageiros em aviões que não eram seguros, em pelo menos 117 aeronaves.

Isso sim é que é crise aérea!

Uma das críticas de políticos à acusação sobre a Southwestern é que a agência fiscalizadora da aviação americana, a FAA, não observou as regras que garantiriam a segurança dos passageiros porque os seus membros têm relacionamento especial com as empresas.

Ninguém citou o fato de que são indicações políticas desse ou daquele. O problema não é indicar, é não fazer o trabalho direito. E por isso caiu um supervisor da FAA.

Já no Brasil a crítica que coube aos antigos diretores da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) foi a de terem sido indicados por políticos para fazer o trabalho. E daí que foram indicados? O problema é a indicação ou é a conduta, que, assim como nos EUA, era benevolente com as empresas aéreas?

Fico com a segunda opção.

Mas a solução que se deu por estas bandas foi mais ou menos essa: as companhias não obedecem estritamente à legislação e à Anac, então vamos mudar a Anac para ver se eles respeitam os novos diretores. Nos EUA, preferiram multar a empresa em vultosos US$ 10 milhões e demitir o supervisor responsável pela área onde se concentram as operações da Southwest Airlines. Não caiu toda a diretoria da FAA.

Importante dizer que os parlamentares americanos não estão pedindo uma comissão de investigação que não vai dar em nada, como aconteceu no Brasil. Por lá a preocupação com os holofotes parece menor. Tanto que um deputado democrata --adversário ferrenho das políticas do governo Bush-- disse que fará o máximo que puder para cobrar explicações... da empresa. É ela a clara responsável pelo incidente, afirmou ele.

Vale lembrar que, ao contrário do Brasil, uma crise aérea nos EUA é crise aérea para milhões de americanos usam aviões para se locomover. E que além do problema da Southwest, recentemente houve problemas graves com a companhia Jet Blue, que levava até 10 horas para decolar porque queria encher seus vôos com mais passageiros.

Mas os americanos entenderam que antes de cobrar o órgão de fiscalização, tinham de cobrar uma postura correta das empresas. O problema por estas bandas é que cobrar companhia aérea, que pode ajudar em campanhas eleitorais, sai muito caro.

Barato é fazer bravata com a segurança dos outros e seguir dando os mesmos benefícios, por meio de novos agentes, às operações da aerocracia da TAM e da Gol.

quarta-feira, 5 de março de 2008

Eu não gosto do São Paulo

Eu não gosto do São Paulo Futebol Clube. Nem um pouco.

Como nos últimos dias algumas pessoas me cobraram mais equilíbrio para dissertar as minhas teses futebolísticas --todo mundo tem as suas-- eu parto para o absoluto despaupério, sem medo. E prometo seguir apoiando o ódio mesmo daqueles que querem o fim do meu Corinthians. Sem que isso reduza minha antipatia pelo Tricolor.

Entre todos os clubes brasileiros, o único pelo qual não torceria em hipótese nenhuma é o São Paulo. Sou corintiano e confesso que torci pelo Palmeiras no Mundial de 1999. Preferi o eterno rival a torcer por time inglês, coisa que detesto.

Mas antes a coisa que detesto ao São Paulo.

Em 2005 (só pode ter sido para me incomodar mais) a coisa que detesto se entregou para o Tricolor, tricampeão mundial como Milan e Boca Juniors. Bloody English.



Tudo bem. Eu sei que o São Paulo é o clube mais campeão do Brasil. Que hoje é bem organizado, pelo menos mais do que os concorrentes brasileiros. E que tem jogadores bons no campo e fora dele, exemplos para as crianças, como Rogério Ceni e Aloísio.

Mas e daí? Não tenho direito a ter antipatia pelo São Paulo?

Nenhum clube do país foi tão próximo à ditadura. Nenhum tem tanto retrospecto de aliciador, tanto de jogadores como de estádios. Nenhum clube parece ter uma torcida que mistura tanta alienação pelo futebol com, algumas vezes, preconceito de classe.

Opinião controversa? Pode ser.

Mas por que será que o mundo não me autoriza a declarar minha antipatia pelo time do Jardim Leonor? Não temos todos o direito de detestar o Palmeiras ou ter ojeriza ao Corinthians? Negar esses sentimentos nos tornaria mais humanos?

Afinal, qual é o problema de eu não gostar do Tricolor? Vai contra a lei? Faz de mim um provável terrorista? Desvirtua algum princípio futebolístico básico? Promove, de alguma forma, violência? Serve de inspiração para teses de limpeza étnica?



Eu acho que não.

Tanto é que apesar de desejar breve aposentadoria ou saída para o exterior aos melhores jogadores são-paulinos, só posso agradecer ao Tricolor e à sua torcida, que conta, eu sei, com alguns respeitáveis integrantes, todos eles meus amigos.

Obrigado, São Paulo, tanto pelas glórias que me irritam como pelos mau-fados que comemoro. Comemoro teu azar tanto quanto o sucesso do meu próprio clube de coração. E o contrário também vale.

Agradeço por manter alerta o meu lado secador e por me inspirar a não abrir mão do direito de, respeitosamente, querer te ver mal.

Que continue assim, com cada um do seu lado.

segunda-feira, 3 de março de 2008

Derby lamentável

A vitória do Palmeiras por 1 x 0 no derby contra o Corinthians foi um dos jogos mais tediosos que vi nos últimos tempos. O goleiro alvinegro, se tanto, fez duas defesas difíceis. O mítico Marcos não fez nenhuma. Além do time do Parque São Jorge, também perdeu a bola, maltratada pelas duas equipes do começo ao fim do jogo.

Desfalcado, o Corinthians entrou em campo para não perder. A semana toda só se falou nisso no Parque São Jorge, inclusive publicamente. Vai ter complexo de cachorro morto lá longe...

O inteligente e educado treinador Mano Menezes claramente preferiu não tentar a vitória. Apesar de dizer que dirige um time de macho, o gaúcho medrou. E pagou o preço, apesar da falta de críticas à sua falta de coragem no jogo.

Pela vantagem na classificação e por estar sem o goleiro Felipe, o polivalente Alessandro, o volante Fabinho e os atacantes Acosta e Dentinho, ele optou por uma formação indiferente ao ataque, como se o Corinthians nunca na história tivesse entrado em campo ainda mais arrebentado e não tivesse vencido equipes melhores.

Mereceu perder.

Mereceu perder apesar de o Palmeiras ser um time igualmente tedioso, talvez com um pouco mais de talento ofensivo. Apesar de entrar em campo pressionado pelos maus resultados recentes, o alviverde atacou pouquíssimo. Sem criatividade nenhuma.

Apesar da gritaria midiática, o meia Valdívia passou o jogo todo escondido atrás da marcação. O artilheiro Alex Mineiro não encostou na bola. Diego Souza deu uma caneta no lateral André Santos e depois assistiu o resto da partida em posição VIP.

O que decidiu foi um detalhe. Como acontece nos clássicos.

Como aconteceu no gol do corintiano Betão contra o São Paulo no Brasileirão de 2007. Ou no pênalti que definiu a classificação do Tricolor contra o Palmeiras na Libertadores de 2006.

No domingo passado, foi uma bola dividida. Deu Valdívia.

E é só.

Depois do jogo muita gente se esforçou em salvar o lamentável derby. Quiseram aproveitar para estimular alguma polêmica na comemoração chorona do palmeirense. Uma comemoração tão controversa que ninguém entendeu quando viu. E pouca gente realmente se importou depois de entender a que ela fazia alusão.

Depois que o chileno esclareceu que era uma resposta ao zagueiro corintiano William, que teria dado ao chileno o apelido de chorão, a jornalistada pensou ter achado um lide para uma partida tão tediosa, mas tediosa mesmo.

Comemoração irreverente? Comemoração debochada?

Os corintianos não deram a mínima. E os palmeirenses, mais interessados na ampliação do tabu de mais de um ano e meio sem perder para o arqui-rival, não ligaram.

No fim das contas, o derby, quem diria?, valeu pouco.

Para os palmeirenses valeu a chance de continuar na disputa pelo Paulistão, objetivo mais fácil para quem não conquista um título há quase nove anos. Mas será difícil...

Para os corintianos valeu a frustração de ver um time que briga muito e pensa pouco. Muito pouco mesmo...

E para mim, valeu apenas um post e a tristeza por não ter perdido o sono por uma derrota tão sem graça. Sem contar o desperdício de ansiedade e de saliva que me impeliram a desperdiçar 90 minutos em um jogo tão insosso e mal jogado.

sábado, 1 de março de 2008

Um juiz que não se pronuncia só nos autos


O presidente Luiz Inácio Lula da Silva pode até ter exagerado no tom das reclamações contra o presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Marco Aurélio de Mello, que antecipou seu juízo sobre o programa social Territórios da Cidadania ao classsificá-lo como eleitoreiro. Mas tem razão no cerne da polêmica, sobre interferência do fanfarrão ministro.

Diferente do seu eminente colega Joaquim Barbosa, que é ácido e eficiente, o ministro Marco Aurélio prefere ficar de piadinhas, com sua voz de sapo com laringite, e se pronunciar sobre qualquer questão que chame a atenção para ele próprio. A máxima de que um juiz só se pronuncia nos autos parece não valer para ele. Deve ser um problema genético da família (Collor) de Mello.

Quando líderes oposicionistas aparecem na TV há seis anos para dizer que um ministro do Supremo Tribunal Federal é independente, há de se desconfiar. A irritação ter chegado ao presidente da República, que deve ter calculado bem o passo que deu ao mexer com o rapaz de forma tão contumaz, é sinal de que Marco Aurélio vai ter de controlar a boca neste ano de eleições municipais.

É no mínimo esquisito um ministro da Suprema Corte, e presidente do TSE, chamar de eleitoreiro um programa social promovido pelo governo federal e que foi criticado exatamente pelo do fato de não fixar amplas parcerias com os Municípios --neste ano de eleições, sim, municipais. O que desejaria, afinal, Marco Aurélio?

Será que ele deseja que o Palácio do Planalto só tenha poder de ação em dois anos dos quatro de cada governo, já que nos outros dois sempre haverá eleições? Será que ele deseja continuar sendo chamado de ministro independente pelos líderes da oposição? Será que deseja continuar sendo voto vencido quase sempre no STF, dada a sua vocação para o palanque, maior do que para a toga?

Fato é que Marco Aurélio tem 61 anos. E a aposentadoria compulsória no STF só vem quando um ministro completa 70.

Será uma longa espera.