segunda-feira, 24 de março de 2008

Democracia corintiana


O melhor depoimento que vi sobre a ação mais interessante da história do futebol brasileiro, a Democracia Corintiana, foi dado à TV Cultura há alguns meses por Marco Aurélio Cunha, superintendente de futebol do São Paulo. Disse ele que somente um clube popular como o Corinthians seria capaz de traduzir tão lindamente o anseio por democracia no país. E apenas o clube do Parque São Jorge tinha cérebros capazes de entender o momento e a simbologia de o clube do povo decidir tudo pelo voto. Tudo.

Mas se em 1982 o presidente Waldemar Pires, o sociólogo e diretor de futebol Adílson Monteiro Alves e o meia Sócrates comandaram o processo que Marco Aurélio bem descreveu, ao mesmo tempo em que davam uma lição ao agonizante governo dos militares, o que acontecerá com o Corinthians agora, depois de decidir mudar seu estatuto e permitir que os sócios votem nas eleições do clube?

Se depender de quem pensou e autorizou esse processo, nada.

A mudança estatutária para permitir o voto dos sócios não é um passo tão grande quanto o dado pela brilhante geração da década de 1980. Nem sequer é nova, já que há outros clubes que adotam o expediente. Então por que imaginar que o presidente Andres Sanchez e o diretor de futebol Mario Gobbi repetiriam minimamente o que seus antecesssores de quase 30 anos atrás fizeram? Como crer em quem vê democracia como voto na urna e despreza o diálogo permanente, sem interesses inconfessáveis?

Não há liderança corintiana capaz de ver hoje como viam há 30 anos. E isso porque se mantêm no poder os admiradores da involução da autoritária presidência de Alberto Dualib, o interminável, que sequestrou o Corinthians e roubou o clube também em nome de muitos que votaram pelas "Diretas Já" do clube do Parque São Jorge. Mudança de postura? De visão? Ou apenas um meio de mudar as coisas para que elas continuem como têm sido? E agora com anuência das torcidas organizadas?

Poder para o povo pobre, com Andres e demais asseclas no poder?

Faz-me-rir.

Um comentário:

Mãe Dinah disse...

Palavras de Marco Aurélio?
Curioso.
Ele sempre foi um grande "morde e assopra"!