sexta-feira, 7 de março de 2008

Uma crise aérea de verdade

No Brasil voar de avião ainda é benefício para cinco por cento da população. Antes do recente surto de crescimento, devia ser luxo de metade da metade disso. Por isso me embrulhou o estômago ver entre 2006 e 2007 as tentativas de associar a crise aérea que assolou os país a uma demonstração inexorável de que a culpa era do mordomo: o lulo-petismo em vigor.

Apesar de não ser lulista, petista nem muito pelo contrário, cansei de ouvir que nos todos poderosos Estados Unidos o sistema aéreo era muito pior há décadas, não necessariamente por causa do loteamento nos órgãos de fiscalização ou por conta de reformas que, ah, meu Deus!, não colocaram o tal grooving nas malditas pistas.

Quase um ano após o que muitos chamaram de assassinato de passageiros da TAM em Congonhas, a Southwest Airlines, maior companhia de baixo custo do mundo, aliviou minha consciência. Vai pagar US$10 milhões de multa porque, nos mesmos anos da crise aérea brasileira, transportou milhares de passageiros em aviões que não eram seguros, em pelo menos 117 aeronaves.

Isso sim é que é crise aérea!

Uma das críticas de políticos à acusação sobre a Southwestern é que a agência fiscalizadora da aviação americana, a FAA, não observou as regras que garantiriam a segurança dos passageiros porque os seus membros têm relacionamento especial com as empresas.

Ninguém citou o fato de que são indicações políticas desse ou daquele. O problema não é indicar, é não fazer o trabalho direito. E por isso caiu um supervisor da FAA.

Já no Brasil a crítica que coube aos antigos diretores da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) foi a de terem sido indicados por políticos para fazer o trabalho. E daí que foram indicados? O problema é a indicação ou é a conduta, que, assim como nos EUA, era benevolente com as empresas aéreas?

Fico com a segunda opção.

Mas a solução que se deu por estas bandas foi mais ou menos essa: as companhias não obedecem estritamente à legislação e à Anac, então vamos mudar a Anac para ver se eles respeitam os novos diretores. Nos EUA, preferiram multar a empresa em vultosos US$ 10 milhões e demitir o supervisor responsável pela área onde se concentram as operações da Southwest Airlines. Não caiu toda a diretoria da FAA.

Importante dizer que os parlamentares americanos não estão pedindo uma comissão de investigação que não vai dar em nada, como aconteceu no Brasil. Por lá a preocupação com os holofotes parece menor. Tanto que um deputado democrata --adversário ferrenho das políticas do governo Bush-- disse que fará o máximo que puder para cobrar explicações... da empresa. É ela a clara responsável pelo incidente, afirmou ele.

Vale lembrar que, ao contrário do Brasil, uma crise aérea nos EUA é crise aérea para milhões de americanos usam aviões para se locomover. E que além do problema da Southwest, recentemente houve problemas graves com a companhia Jet Blue, que levava até 10 horas para decolar porque queria encher seus vôos com mais passageiros.

Mas os americanos entenderam que antes de cobrar o órgão de fiscalização, tinham de cobrar uma postura correta das empresas. O problema por estas bandas é que cobrar companhia aérea, que pode ajudar em campanhas eleitorais, sai muito caro.

Barato é fazer bravata com a segurança dos outros e seguir dando os mesmos benefícios, por meio de novos agentes, às operações da aerocracia da TAM e da Gol.

2 comentários:

Anônimo disse...

savarese,os estados unidos tem uma cultura de exercer a sua cidadania quase diariamente,enquanto aqui no brasil ética não existe ou é coisa de filósofo.

Anônimo disse...

Nos States, o político que se preocupa *só* com os holofotes sempre se ferra.