sexta-feira, 29 de fevereiro de 2008

Em defesa de Taylor


O desconhecido zagueiro do Birmingham, em um lance fortuito, participou da mais horrenda cena do futebol mundial neste ano. O carrinho que ele deu no atacante Eduardo da Silva fez com que o jogador do Arsenal corresse risco de perder o pé, tamanha foi a gravidade da fratura que sofreu.

Mas isso nem de longe serviria para uma campanha midiática tão grande contra o jogador menos famoso, que até ameaça de morte sofreu.

O fatídico lance aconteceu na semana passada aos três minutos de jogo, quando Taylor deu um carrinho que fraturou a perna de Eduardo. Foi expulso apenas depois de o juiz da partida ver a perna quebrada do brasileiro naturalizado croata.

Mas ninguém parece ter estranhado o fato de os jogadores e o árbitro só se darem conta da gravidade do incidente depois de verem a lesão sofrida pelo atacante do Arsenal.

Até ali ninguém tinha ido para cima do zagueiro do Birmingham. Ninguém foi para cima do juiz na hora, como acontece em casos típicos de expulsão. Apenas fizeram isso depois de ver a perna de Eduardo, arrebentada. Mas todos viram que Taylor se condoía pela lesão do colega e é nítido que deixaram de pressioná-lo por isso.

Os jornalistas não repararam.

Não bastasse isso, os jornalistas não esfriaram a cabeça para relatar o incidente depois de se fazerem perguntas óbvias.

Uma delas é: "Quem é que em consciência plena correria o risco de prejudicar o time com uma entrada "criminosa" aos 3 minutos de jogo?" Outra delas seria: "Quem faria isso em um lance na intermediária, só para quebrar um colega de profissão?"

A única coisa que não se teve na hora foi dúvida. A fratura era exposta e o culpado, único.

O próprio Eduardo, no entanto, desmente. Diz que foi claramente um acidente de trabalho. Não viu maldade no adversário. O técnico do Arsenal, que primeiro acusou Taylor de praticamente cometer um crime, voltou atrás. O zagueiro cansou de dizer que foi um acidente e pediu dez mil perdões pelo sofrimento que ajudou a causar.

Só a mídia toda não voltou atrás.

Ainda defende prisão perpétua para o zagueiro. Como se isso significasse defender o futebol de verdade, aquele que só os comentaristas e repórteres esportivos podem conhecer.

Eles teriam toda a razão em fazer isso. Se não houvesse um pequeno impecilho, um probleminha com a tese deles.

Um probleminha chamado realidade.

domingo, 24 de fevereiro de 2008

Coelho e Éder Luis

Não entendi nada das duas transferências mais recentes do Atlético Mineiro, que em março completará 100 anos de idade. Primeiro o clube recebeu o lateral-direito Coelho, do Corinthians, absolutamente de graça. Semanas depois, entregou ao São Paulo sua maior revelação, o atacante Éder Luis, sem receber um centavo.

São duas transações, no mínimo, curiosas.

Sobre Coelho há de se dizer que o jogador caiu em desgraça com a torcida corintiana desde a atuação pavorosa na derrota por 3 x 1 diante do River Plate na Taça Libertadores de 2006.

Depois de uma boa passagem pelo Galo no ano passado, o atleta ficou no time do Corinthians a pedido do treinador Mano Menezes, atuou sem destaque em algumas partidas e logo insistiu para voltar a Belo Horizonte.

Pediu para sair mesmo depois de desfrutar por anos da relação com o presidente Andres Sanchez. Comenta-se até que o dirigente seria dono de parte do passe de Coelho, o que a documentação oficial do clube nega. Por hora não vejo motivo para dar crédito ao mandatário corintiano, tão vinculado à atual situação do Timão.

Fato é que o Corinthians quis ter Éder Luis. A negociação com Coelho ajudaria nisso, já que o Galo não se interessou pelos jogadores palmeirenses oferecidos pela Traffic para contar com o jovem atacante.

No entanto, o presidente atleticano, Ziza Valadares, preferiu barrar o negócio e disse que o jovem jogador é titular e seria negociado apenas com clubes do exterior. Na cara de pau, afirmou que só aceitaria Coelho se fosse de graça.

E não é que o lateral-direito foi para o Galo? Apesar da declaração que ofenderia os brios de qualquer dirigente, Coelho foi para o Atlético absolutamente de graça.

Dirigente profissional é isso aí!

Depois do sucesso na contratação gratuita do lateral-direito do Corinthians, que hoje só tem um atleta para a posição, o mesmo Ziza Valadares resolve compensar: libera a revelação Éder Luis para o São Paulo por nenhum centavinho.

Nadica.

Apesar de ter sido antes procurado por outros clubes com interesse no jogador, o presidente do Galo o entregou para o Tricolor porque, supresa!, o atleta quis.

Tô sabendo.

O técnico do Atlético, Geninho, lamenta a saída do craque do time e pede reposição urgente. Foi claramente surpreendido.

Tudo, no mínimo, muito estranho.

A impressão é de que em alguma dessas duas tubas, tem gato.

Ou será que tem nas duas tubas?

sábado, 23 de fevereiro de 2008

A mídia esportiva gosta de quem ganha

Estou achando cada vez mais engraçado quando dizem que determinado clube é ajudado pela complacência da imprensa, seja em São Paulo seja no resto do Brasil. É o mesmo papo da Bahia ao Rio Grande do Sul, onde muitos torcedores vêem a mídia como uma eterna conspiradora contra os seus clubes de coração.

Só nessa última semana, que passei trabalhando no estado do Rio de Janeiro, ouvi pelo menos cinco flamenguistas falando da mídia tricolor. E uns três tricolores enxovalhando a mídia flamenguista. Em São Paulo é o mesmo, creio eu que com uma divisão entre são-paulinos e corintianos.

(Os palmeirenses parecem se sentir perseguidos pelo mundo, não necessariamente por uma mídia próxima aos rivais.)

Muitos corintianos vêem excesso de informação e fofoca sobre o clube, já que há muito tempo é a equipe do Parque São Jorge que mais vende jornal e mais Ibope dá na televisão --tanto pela simpatia como pela antipatia. E lamentam por a imprensa não pegar no pé do rival com a mesma frequência.

Já os são-paulinos reclamam da adulação da TV Globo ao Corinthians, com o inexplicável direito a legenda de grito da torcida durante o clássico com o tricolor do Morumbi. E lamentam o menor interesse por seu clube nas páginas dos jornais, em comparação com o Alvinegro, o que atrapalha seus interesses marqueteiros.

Diante de reclamação de tanta gente, só consegui chegar a uma conclusão: a única predileção da mídia é por quem vence. Seja na atenção do público ou em campo.

A mesma mídia que exaltou o Corinthians até cansar nas conquistas de 1998, 1999 e 2005, para ficar nos casos mais recentes, é a que muito justamente apontou o dedo para as falcatruas da MSI e da direção do clube no ano passado. É a mesma que ajuda a plantar crises no time após um ou dois maus resultados.

Quando o Corinthians vence e convence, os alertas sobre má administração do clube são muito mais esparsos e raramente merecem o destaque de uma xoxa entrevista como algum atleta do time. Isso também vale para outras equipes e em outros momentos.

A mídia que exaltou o São Paulo nas recentes conquistas é a mesma que batia horrores alguns anos antes, praticamente expulsando grandes jogadores do Morumbi, como Kaká --vendido pelo mesmo preço que Roque Júnior saiu do Palmeiras--e Luis Fabiano, entre outros que sofreram pressão para sair porque eram "apenas" bons jogadores.

Essa mesma imprensa, hoje aduladora à sesmaria do presidente Juvenal Juvêncio, tratou Kaká e Luis Fabiano, que hoje brilham no exterior, como amarelões e pipoqueiros. E nada disso foi por uma questão de predileção.

O motivo era a falta de títulos. A lógica é absolutamente mercantil.

Essa mesma lógica se aplica ao enxovalhado Grêmio na segunda divisão e ao vingador Grêmio vice-campeão da Libertadores. Ou ao decrépito Fluminense que perdeu a classficação para a Libertadores em 2005 e a suposta máquina campeã da Copa do Brasil no ano passado.

O futuro é um problema que a maior parte da imprensa esportiva não quer discutir. Ela vive e analisa conforme os resultados. Não enxerga tendências, trajetórias. Sendo assim, fácil é gostar de quem está na frente. Usa-se menos tutano.

Essa parcela preguiçosa e majoritária da mídia que trabalha no futebol prostitui suas opiniões e investigações conforme os retornos, em campo e no Ibope, e não por qualquer paixão clubística. Muito menos pela paixão pelo ofício de jornalista.

Ainda há quem se esforce para não entrar de cabeça no circo esportivo, é sempre bom dizer.

Mas o poder dos palhaços é maior do que o dos domadores, então continuaremos lendo e ouvindo mais gente dar risada do que enfrentando os leões.

domingo, 17 de fevereiro de 2008

Má-fé

O apresentador Paulo Henrique Amorim e o repórter Afonso Monaco são bons empregados da TV Record. É um lugar que os merece. Afinal, dramaturgia no nosso analfabeto Brasil é peça tipicamente televisiva. E é isso que os dois se mostraram capazes de produzir em uma pretensa matéria sobre "perseguição religiosa" à Igreja Universal e ao bispo Edir Macedo, supostamente estampada nos jornais Folha de S.Paulo e O Globo.

Não vou me ater ao caso do jornal O Globo. Não li a matéria e vi na "reportagem" de Monaco apenas reclamações confusas, como a insatisfação com o termo "seita" para designar a Iurd em uma matéria e supostas agressões a fiéis por parte de supostos leitores do jornal em cidades bem longe do Rio de Janeiro, onde o diário é editado.

O caso da Folha de S.Paulo é mais interessante. Segundo Amorim e Monaco, fiéis da Iurd foram atacados por uma matéria da conceituada e longeva repórter Elvira Lobato cujo título era "Igreja Universal completa trinta anos com império empresarial", apontando que diversos membros da Iurd são também proprietários de companhias vinculadas ao proprietário da TV Record.

Diz a matéria supostamente persecutória que a Iurd tem 23 emissoras de TV e 40 de rádio, além de outras 19 empresas registradas em nome de 32 integrantes da igreja. Entre essas empresas, diz a reportagem, há dois jornais diários, duas gráficas, quatro empresas de participações, uma agência de turismo, uma imobiliária, uma empresa de seguro de saúde e uma de táxi aéreo, a Alliance Jet.

Reparem que não há menção à fé dos seguidores do bispo Macedo, não há reflexão teológica nem uma condenação a quem frequenta a Iurd. A perseguição está na grana.

Apesar de a matéria tocar o ouro da Universal, e não o seu povo, Amorim e Monaco se prestaram ao papel de divulgar as acusações contra a repórter e contra o jornal no programa Domingo Espetacular sem citar uma única vez que fiéis e pastores da Iurd dominam esses recursos todos. Nenhuma.

E mentiram ao dizer que não foi por orientação jurídica da Iurd que mais de 50 ações de danos morais contra a Folha e Elvira foram ajuizadas em cidades a até 200 quilômetros das capitais de estados como Rondônia e Tocantins, que não são exatamente o público alvo da Folha de S.Paulo.

Os dois jornalistas omitiram que a primeira dessas ações já foi julgada e que o juiz viu má-fé do querelante no processo. Má-fé por querer uma indenização absurda.

A picaretagem foi tamanha que até o texto das ações ajuizadas é parecido.

Mas isso passou longe da revolta que Amorim e Monaco demonstraram no seu arremedo de matéria jornalística. Usaram a fé de quem vai à Iurd para reforçar ataques e tentativas de censura a quem apontou para o uso dos recursos amealhados pela igreja.

Uma grande vergonha.

Amorim e Monaco se prestaram a um papel vexatório, talvez à espera de um carimbinho de funcionário do mês na testa. Espero que sejam premiados, porque eles certamente trabalharam para merecer isso. Faço votos para que eles candidatem a escrever alguma novela para a TV de que tanto gostam.

Certamente de ficção eles entendem.

domingo, 10 de fevereiro de 2008

Corintiano, esquerdista e agnóstico

Achei muito curiosos alguns comentários que li sobre o texto "Ibope", publicado neste espaço e também pelo corajoso colega Paulinho (www.oblogdopaulinho.zip.net).

Agradeço aos leitores pela disposição em comentar o texto, porque deu para ver que ele gerou mais debate do que polêmica --e jornalismo serve para isso.

Entretanto, alguns dos comentários reforçam a idéia nada nova de que os brasileiros ainda têm uma noção muito vaga e inocente sobre o que é democracia. E, por consequência, são muito simplórios na visão sobre o jornalismo, que tem na liberdade de expressão a sua principal matéria-prima e premissa para existir de fato.

A ingenuidade se deve ao desejo por uma suposta isenção, como se não fossem pessoas reais ao redor de toda notícia que é publicada. As fontes, os repórteres, os editores e os leitores buscam sempre a melhor versão que se pode obter sobre a verdade. Mas por estas bandas muitas vezes isso implica em desqualificar quem deixa clara a posição da qual enxerga o mundo. A preferência é de quem omite.

Eu não omito. Sou corintiano, esquerdista e agnóstico, como escrevi no primeiro post deste blog. É dessas premissas que eu parto para discutir o resto. Sem sectarismo e alguma vocação para ouvir.

Mas ainda assim, corintiano, esquerdista e agnóstico.

Apesar de ser tradicional em muitos países importantes, no Brasil a imprensa prefere esconder suas preferências em encontros furtivos com candidatos, empresários e dirigentes a declarar onde se posiciona. E os meios e jornalistas que admitem essas questões são quase forçados a fazer críticas mais contundentes àqueles que apóia, para mostrar a tal isenção.

Felizmente há quem se recuse a desempenhar papel tão patético.

Nem nas matérias que escrevo desde 2004 nem neste espaço eu me sinto obrigado a fazer elogios ou críticas ao Corinthians, à esquerda e ao agnosticismo. Tampouco faria isso em relação ao Palmeiras, à direita ou ao cristianismo apenas por diversão.

Os textos que escrevo buscam somente o diálogo com os interessados, especialmente, em política e futebol, como diz a abertura deste blog.

Por isso, recomendo aos sedentos por isenção que procurem bulas de remédio para ler. Ali certamente não haverá nenhuma carga ideológica incorporada ao texto.

Neste blog não haverá isenção. Nem para elogiar nem para criticar. Haverá, sim, senso crítico, espírito democrático e argumentos defensáveis. E é isso o máximo que um jornalista pode prometer.

sábado, 9 de fevereiro de 2008

Um good boy na cartolagem?

Eu adoro ver como andam as carreiras daqueles rapazes que gostam de carimbar como "bom-moço". Saber o que fazem Romário, Ronaldo Fofômeno ou Adriano é fichinha, porque as modelos grávidas e os frequentadores de boates já dão conta disso. Mas acompanhar as sonolentas vidas dos brasileiros impecáveis, isso sim, é desafiador.

Como dizer que ex-jogador Leonardo, atual dirigente do Milan, se imiscuiu com a sujeira da cartolagem mundial e brasileira? Quem criticaria o rapaz, dono de uma ONG interessada de verdade nos mais carentes? Um poliglota, cidadão do mundo, que conseguiu vencer até em cargo de dirigente?

De que reclamar de um homem brilhante, cujo único pecado nesta vida, dizem, foi a cotovelada no rosto do americano Tab Ramos na Copa do Mundo de 1994?

Há motivo para reclamar, sim.

E Leonardo os deu em entrevista à TV Globo.

Em trechos divulgados no SporTV na tarde de sábado, Leonardo faz elogios ao presidente da CBF, Ricardo Teixeira, e ao dirigente máximo do futebol mundial, Joseph Blatter. Para o bom-moço, o futebol mundial está melhor por causa dos dois poderosos chefões.

Leonardo disse que a Copa do Mundo de 2014 veio para o Brasil por causa do trabalho de Teixeira e do seu poder na Fifa. Viu tudo com bons olhos, como se não estivesse falando de um homem que foi alvo de uma CPI e de múltiplas investigações. Sem falar nos rumores de achaques a empresas que patrocinam a seleção brasileira.

Tem gente do meio empresarial que conta sobre pedido de um helicóptero à operadora celular Vivo. Até algums meses atrás a CBF reclamava da empresa. Já não faz mais isso.

Mas Leonardo, coitado, está na Itália e deve saber ainda menos. As viagens pelo mundo o atordoaram e o fizeram se esquecer do papel de Teixeira à frente da CBF.

Blatter, suspeito de receber propina da falida empresa de marketing esportivo ISL e sobre quem pairam pesados rumores de ter comprado sua eleição, com belos envelopes sob as portas de delegados da Fifa na convenção que o elegeu pela primeira vez, em 1998, também mereceu elogios do buon ragazzo.

Sempre com um sorriso no rosto, Leonardo só exaltou o sucessor de João "O Probo" Havelange, provavelmente porque o suíço se comprometeu a dar dinheiro aos clubes, entre os quais o seu Milan, para que eles cedam jogadores a seleções nacionais.

Para um moço tão estudado, fazer esses elogios sem corar nenhum pouco é uma vergonha.

Imaginem só se as declarações fossem do Neto? Ou do Djalminha? Quem sabe do Serginho Chulapa? E se fosse o Edmundo?

Diriam que é falta de cabeça, os rapazes sempre foram desequilibrados e irresponsáveis, andam em má companhia e coisa e tal.

Pimenta no bad-boy dos outros é refresco.

Pelo bom humor na Casa Branca

Este blog decidirá agora as confusas primárias da eleição presidencial norte-americana. Sabendo do seu peso para as definições democrata e republicana, ele declara apoio aos candidatos Barack Obama e Mike Huckabee.

O motivo é simples: eles sabem fazer piadas.

A preocupação não é o que é melhor para os EUA ou para o mundo. Afinal de contas, as discordâncias entre os candidatos não é tão sensacional e nas terras do Tio Sam o Congresso funciona de verdade, não é apenas um anexo do Poder Executivo.

Eis as comprovações da capacidade humoristica de ambos, em vídeos sem tradução para o português:

Huckabee e Chuck Norris: http://www.youtube.com/watch?v=EjYv2YW6azE&feature=user

Obama pede assessoria a Hillary: http://www.youtube.com/watch?v=rhPxSm9Es0w

Os sem-agenda

Governo e oposição iniciaram o ano legislativo após o Carnaval do mesmo jeito que caminharam no ano passado: sem debate, sem idéias e sem agenda. A meses das eleições municipais, o Congresso brasileiro andará a passos de pepino-do-mar, já que mais importante do que discutir as reformas necessárias para o país é promover figurinhas carimbadas que querem disputar prefeituras de cidades como Itapipoca ou Quixeramobim do Oeste.

Um tédio. E o exemplo maior dessa postura é a polêmica pelo uso dos cartões corporativos.

Ao alimentar a notícia velha que recentemente ganhou nuances mais dramáticas, os parlamentares optam por transformar o Planalto Central em delegacia de polícia até maio –depois disso todo mundo vai fazer campanha para si ou para outros—e inutilizar qualquer tentativa de reforma tributária, de formatar uma proposta de reforma universitária que não seja refém dos tubarões da educação (como o senador governista Wellington Salgado, sósia do Shrek) ou de responder à crise dos Estados Unidos com estímulos à economia.

Preferem não legislar e fazer um jogo governo-oposição no qual as questões diante do país têm muito pouca importância, já que a prioridade é polemizar e travar o debate sobre o que realmente importa: como combater a corrupção com um sistema de saúde mais justo, como melhorar a educação de alunos e professores...

Agora a proposta é de mais uma investigação parlamentar fadada ao fracasso prático –eu sugiro o nome dado pelo ministro do Planejamento, Paulo Bernardo, de CPI da Tapioca, em referência aos quitutes comprados por R$8,30 pelo colega dele na pasta do esporte.

Os gastos são públicos e a Controladoria Geral da União está estudando os casos. Mas os deputados e senadores, em vez de optarem pelo “vamos aproveitar o ano até chegar a eleição municipal”, preferem a alternativa “precisamos de mais um argumento para dizermos que esse é o governo mais corrupto da história/esse é o governo que mais combateu a corrupção na história”. Não é à toa que a aprovação do trabalho dos parlamentares raramente supera os 50 por cento da população.

Por que será?

Eu mostrarei agora o meu dom de prever o futuro (tá certo que isso aconteceu outras vezes, mas futuro é futuro...). Daqui algumas semanas, quando a CPI estiver fora do foco, os parlamentares vão reclamar do Poder Executivo por enviar medidas provisórias em excesso para o Congresso.

Dirão que é isso que atrapalha o seu trabalho. Como se os governos forem os únicos culpados por os parlamentares gostarem tanto de uma CPI quanto o ministro do Esporte gosta de tapioca...

Fado triste.

A maior dúvida sobre esse assunto continuará: com tanto deputado e senador paralisado pelos holofotes, gente que dá declarações até para a luz da geladeira quando vai fazer mais uma boquinha de madrugada, como poderia ser diferente?

Alguém precisa governar e parece que deputados e senadores não querem ajudar nisso.

Não há nada de errado na imprensa fazer o seu papel ao cobrar transparência e noticiar o mau-uso dos cartões, tanto na esfera federal como na dos estados, como São Paulo. Apesar dos exageros que podem ocorrer, é melhor haver exagero do que censura.

O problema de verdade está na falta de agenda do Congresso. Os mesmos parlamentares que fingem lutar contra o desperdício de um lado, do outro despejam recursos públicos na lata do lixo, ao não exercerem seus mandatos com independência em relação ao calendário das urnas e à atenção da mídia.

quinta-feira, 7 de fevereiro de 2008

Ibope

O jornalismo esportivo não se pauta muito pelo jornalismo. O jornalismo cultural também não. Juntando os dois, o que daria? Eu não sei dizer, mas que é ruim pacas, é sim.

Foi isso que me veio à cabeça ao ler o texto de um colega (?) na Internet, com o título "Corinthians faz Globo levar tombo histórico no Ibope" e ilustrado pela foto de um atleta do clube com as mãos no rosto, em sinal de desespero.

A partida da derrubada histórica foi a tediosa Barueri 1 x 1 Corinthians, pela sétima rodada do desinteressante Campeonato Paulista em uma Quarta-feira de Cinzas (contextualizar é jornalismo e ajuda a pesar as coisas).

Naquela noite, diz o colunista, "de acordo com o 'minuto a minuto', o jogo teve uma das piores audiências já registradas em um jogo de futebol exibido pela Globo, em São Paulo".

O rapaz afirma que ao fim do primeiro tempo a Globo somava 15 pontos e "incríveis 27 pontos para a Record", que exibia sua novela. Diz ele que é a primeira vez em que isso acontece durante um capítulo inteiro. Pois bem.

Surgiram então as sugestões de que a torcida do Corinthians teria desistido de acompanhar o clube, que não é Fiel coisa nenhuma, que a Globo estaria sendo repreendida por gostar demais do clube do Parque São Jorge, que tem de repensar se valeria pagar muito para transmitir os jogos do time na Serie B do Brasileirão...

Tudo muito lindo. Só faltou contextualizar.

- A Globo está sendo frequentemente derrotada no Ibope pela Record nas últimas semanas. Fantástico, novela, jornal. Todos perdendo, mesmo sem dependerem do Corinthians. Se o time não está no seu melhor momento, tampouco está a Globo.

- O Campeonato Paulista só interessa de verdade para clubes médios e pequenos. Os grandes têm outras preocupações, assim como os seus torcedores.

- A Record está investindo em muita coisa, inclusive em um novo jornal cuja primeira edição deve sair ainda em fevereiro. A TV está melhor e atrai mais espectadores. Ao contrário do que diz o repórter (?) os números da Record só são incríveis para quem não acompanha esse movimento.

- Quando as empregadas domésticas já começam a comentar da novela, é sinal de que o bicho está pegando de verdade. A Record copiou a fórmula da Globo e está fazendo sucesso com a sua teledramaturgia.

Dessas coisas, todos os funcionários da Globo e da Record já sabem. Mas parece que o colunista --hoje em dia todo mundo é colunista-- não foi avisado.

Outros incautos que repercutiram a notícia sem espírito crítico estão na mesma.

quarta-feira, 6 de fevereiro de 2008

Sem entender

Já que ainda não dá para entender direito o fundamentalismo islâmico de Osama bin Laden, fiquemos com este vídeo. Pelo menos ele ajuda a notar que o rapaz não está de brincadeira, mesmo que isso signifique acabar com a infância de dezenas de crianças.

http://edition.cnn.com/2008/WORLD/meast/02/06/iraq.main/index.html#cnnSTCVideo

terça-feira, 5 de fevereiro de 2008

Superterça de Obama

Para quem gosta de política, independentemente das matizes ideológicas que abraça, esta é uma real superterça. A mais acirrada disputa da história para concorrer à Casa Branca chegou ao seu auge, para republicanos e democratas. E independentes.

A razão principal de tudo estar como está, completamente imprevisível, é o fato de o senador Barack Obama disputar o emprego de homem mais poderoso do mundo.

Obama, um símbolo mais do que um homem de propostas, se posiciona contra a mulher de um ex-presidente, um mormon endinheirado e um veterano de guerra republicano quase tão democrata quanto ele próprio.

Por isso, nunca o clichê de que se trata de uma briga entre o passado e o futuro fez tanto sentido em uma eleição americana.

Com descendentes africanos pobres, mas alguma tranquilidade de classe média ao longo do resto da juventude, Obama tem 46 anos, assim como o ex-presidente Bill Clinton quando foi eleito pela primeira vez. O vínculo dele com os mais jovens --mostraram pesquisas-- é um dos principais motivos para acirrar a disputa e levar gente antes ociosa a votar, já que por aquelas bandas o sufrágio não é obrigatório.

Obama não tem o passado pobre dos reverendos Jesse Jackson e Al Sharpton, negros como ele e candidatos presidenciais sem chances de vencer quando concorreram --sem votos por serem negros e por serem cristãos demais. Mas supre a falta de miséria aliando o carisma de senso de humor, tiradas rápidas e comentários acidos à retórica do não-sou-candidato-negro-apesar-de-usar-músicas-da-Motown-na-campanha.

E funciona.

O problema nisso tudo, já diria Garrincha, é combinar com os russos.

A estrutura do Partido Democrata é pró-Hillary. A América rural, conservadora, mostrou que teme um candidato negro com chance de se eleger para a Casa Branca. E o provável candidato republicano, o senador John McCain, não atrai tanta antipatia quanto o atual presidente George W.Bush. Nada disso ajuda Obama.

Por isso, esta superterça histórica será um grande teste não apenas para Obama, mas também para uma sociedade que até algumas décadas atrás não se envergonhava de empurrar os negros para a traseira dos ônibus.

O maior exemplo disso é o fato de alguns republicanos e muitos democratas favoráveis a Hillary ressaltarem a pouca idade e experiência de Obama. Como se Bill Clinton não tivesse sido eleito com a mesma idade.

Aí está parte da diversão desta superterça. Quem vencerá no dia em que Obama despertou a América? Quem olha para a frente com mais idéias do que propostas? Ou aqueles que querem o negro na traseira do ônibus, e não ao volante?

Sendo os EUA o que são, eu não apostaria tanto na primeira possibilidade.

sábado, 2 de fevereiro de 2008

Saudades do Pacaembu

O Morumbi pode ser o mais forte candidato a receber o jogo de abertura da Copa do Mundo de 2014, mas nem a administração do estádio são-paulino nem Federação Paulista de Futebol (FPF) se mostraram aptos a organizar a inofensiva partida entre Corinthians x Mirassol pela sexta rodada do Paulistão, à qual tive o desprazer de comparecer.

Comprei ingressos pela manhã e estranhei de cara o fato de não haver entradas para a arquibancada vermelha, já que o fim de semana é mais de Carnaval do que de futebol. Já no Morumbi, com 32 graus na cabeça, era impossível não notar como o setor azul estava lotado, inclusive com pessoas sentadas nas passagens ainda a dez minutos do início jogo. Do outro lado, no setor vermelho, não havia quase ninguém.

E ainda continuava chegando gente no setor azul. Perto do início do jogo, havia empurra-empurra, discussões e gente passando mal, sob olhares pouco preocupados de alguns policiais. E tudo isso no setor azul, que estava claramente acima da capacidade ideal, enquanto o setor vermelho estava quase totalmente vazio!

Minha namorada foi uma das várias pessoas que passou mal por conta da confusão e por isso tentei, assim como outras pessoas, passar para o setor vermelho. Os policiais impediram. O jogo tinha acabado de começar e não tínhamos como assistir nada, nem no setor lotado nem no setor vazio. Tudo que os PMs diziam era para resolvermos com a federação e com a administração do estádio, porque eles não fariam nada que não fosse menosprezar aqueles que reclamavam. Não havia ninguém da federação por perto.

O número de queixosos cresceu, de dezenas para centenas, com gente de dentro do estádio e gente que chegava. Muitos com crianças, idosos e alguns com deficiência física. A partir daí –eram 30 minutos do primeiro tempo-- os PMs começaram a temer uma confusão. Um homem da tropa de choque resolveu contatar o comando da corporação para permitir a passagem dos torcedores. E isso só foi autorizado perto do fim da primeira etapa.

Milhares de pessoas passaram para o setor vermelho, muitas correndo para não perder ainda mais tempo de jogo, o que poderia ter causado mais problemas ainda, tamanha a desordem. Todas essas pessoas tinham ingressos para o setor azul, que mesmo assim continuou repleto de gente, quase sem assentos livres.

Essa foi uma clara violação do artigo 22 do Estatuto do Torcedor, segundo o qual é direito do torcedor ocupar o local correspondente ao número constante do ingresso. Sendo mais rígido, é possível criticar ainda mais aspectos, mas esse que citei é absolutamente ponto pacífico. E é ainda mais vergonhoso por ter acontecido em um evento tranqüilo como foi esse jogo, com apenas 17 mil torcedores presentes.

Um estádio e uma federação de futebol que esperam abrigar a estréia da seleção brasileira na Copa de 2014 não podem prestar um serviço tão ruim como esse. Consegui até ficar com saudades do Pacaembu.

Corinthians que não pensa

O Corinthians já não pensa. Não ri. E a torcida, que era o seu mais importante diferencial, é cada vez mais parecida com as outras.

Falta bom senso para dar paz ao clube após o maior trauma da sua história. Preferiram acomodar facções em troca de uma breve trégua em vez de fazer os expurgos necessários, como os do ex-presidente Alberto Dualibi, do ex-vice Nési Curi e da mafiosa MSI, vão andar de soslaio até que a pressão seja insuportável.

Mas essa pressão, quem diria?, não virá da torcida.

Se há algumas décadas ela ia para os estádios para ver a si mesma e cobrar os cartolas inaptos que mantiveram o clube na fila por 23 anos, hoje ela anda de mãos dadas com o presidente Andrés Sanches, que pouco crédito merece por seu histórico de alianças mal fadadas e nem sempre confessáveis.

Da maior comunidade corintiana no Orkut, passando pelas arquibancadas e pelo torcedor de botequim, a Fiel não é mais a mesma. Perdeu o humor e perdeu o juízo.

O maior símbolo disso é a torcida organizada Gaviões da Fiel, criada para fiscalizar o clube nos anos 1960 e hoje prestes a se tornar um braço uniformizado da diretoria "Kia II- A missão".

Uma torcida que tinha cara de movimento social há alguns anos, inclusive com proximidade com o Movimento Sem-Terra e outros descamisados do Brasil, agora é um anexo do poder--o que desonra a história de quem a criou e de tantos que a exaltaram.

Apenas a preferência clubística separa hoje a Gaviões da são-paulina Independente, que sabidamente depende da diretoria tricolor para conter as críticas e ver jogos da Libertadores no exterior. Ambas foram compradas por ninharia.

O que separa a Gaviões da Mancha Alviverde, cujo dirigente mais famoso se vê no direito de dar porrada em treinador mirim só porque o filho dele não joga no time titular? Ambas brigam por espaço, e não por transparência.

Nesse caldo todo só pode prevalescer a máxima de Millor Fernandes: a única coisa que não tem limite neste mundo é a burrice.

A participação do torcedor fica restrita, para os analfabetos funcionais de plantão, a comprar ou não comprar produtos do clube, ir ou não aos jogos, defender ou não o Corinthians das críticas da imprensa e dos rivais. E isso é muito, muito pouco.

Esse sectarismo estúpido cada vez mais forte na torcida corintiana está em descompasso com a história de um clube que atraiu faixas pela anistia aos exilados pela ditadura e foi palco da democracia corintiana --um fenômeno que não conheço igual e se houver algo parecido no futebol mundial, peço que me contem.

E o saldo da ausência da torcida na fiscalização, sabe-se, é negociatas aos borbotões, fanatismo em vez de paixão e, no futuro, derrocada. Uma inevitável derrocada por falta de inteligência.

Muito triste.

Por isso, quando falam da equipe atual do Corinthians, cujo meio-de-campo não funciona direito, me vem à cabeça a idéia de que um time também é reflexo da sua diretoria. Independentemente do treinador que o comande.

Afinal, é a diretoria do Corinthians que faz de tudo para se defender, mesmo que isso não traga nenhuma vitória. E é também a diretoria na qual ninguém usa a cabeça em vez da força para fazer a diferença em favor do clube.