sexta-feira, 17 de outubro de 2008

José Serra e as polícias

O governador paulista não deveria ter denunciado um suposto uso eleitoral para a greve dos policiais civis do estado - a troco de quê, se o seu candidato vai sucedê-lo na prefeitura de São Paulo?

Ele também foi pouco hábil por não ter tido comando para aplacar as reclamações dos grevistas e ajudar a resolver o impasse. Não explicou nada e não disse palavra sobre o que pretende fazer para acalmar as tensões entre as polícias militar e civil.

Mas certamente agiu como deveria ao mandar os militares para cima dos revoltosos que foram ao Palácio dos Bandeirantes para tornar ainda mais públicas as queixas, sejam elas justas ou não.

Policiais civis têm permissão para andar com arma. E armados foram eles até a sede do governo, numa clara afronta, cobrando ainda que os colegas militares os acompanhassem no protesto. A recepção que tiveram foi a que mereceram.

Até porque se eles tivessem chegado às grades do palácio sem resistência, o governador passaria a impressão de ser frouxo. E foi por uma situação assim que André Franco Montoro ganhou pecha de bundão quando ocupou o cargo. Perdeu o comando das polícias, foi desafiado e vergou. Polícia é a única coisa que os paulistas sabem que realmente tem a ver com o governo estadual e é o maior ponto de pressão para os governantes daqui, sempre presidenciáveis só por ocupar o cargo na região mais rica do país.

Serra, ex-secretário de Montoro, não cometeu o mesmo erro. Quem quer porque quer ser presidente da República não fica com coração mole nesse tipo de situação. E apela até ao programa do Datena para justificar a necessária truculência, ainda que não convoque uma coletiva para explicar o assunto com a devida seriedade.

Mas o que ele pensa em fazer para resolver o impasse?

O governador não parece saber.

Por mais que impedir a chegada dos manifestantes tenha sido justo, nada disse Serra para explicar como o estado de São Paulo, pela primeira vez na sua história, viu um conflito desse tipo.

Por isso, ou Serra aprende a tratar direito com os policiais ou vai ver sua cadeira balançar bastante até 2010. Não adianta ganhar a prefeitura de São Paulo se perder o comando das polícias.

Não mesmo.

2 comentários:

Anônimo disse...

Pois eu acho que o Serra foi, sim, um pouco bundão. A PM demorou até demais para descer o pau nos criminosos: sim, quem vai armado a uma manifestação EM ÁREA DE SEGURANÇA como aquela está cometendo um crime.

E o que se viu ali não foi nada além disso: um ato CRIMINOSO de um grupo de policiais civis comandados por partidos políticos e centrais sindicais. É só procurar as aspas do discurso feito pelo Paulinho da Força (argh!), que é do PDT e um dos principais apoiadores da candidatura Marta Suplicy, na sexta-feira passada, a uma semana da "manifestação". Tá tudo ali, sem tirar nem pôr: a confissão de uso político do movimento dos policiais. Coisa de bandido mesmo.

Reivindicar aumento de salário é legítimo, mas desde que a reivindicação seja feita sem armas e, de preferência, à mesa. O resto é "trololó", como diz o Serra. Ou crime, como diz a lei.

RR disse...

Noossa. Discordo totalmente. Acho que está na hora de parar com essa história de que manifestação de que acabar com pancadaria. Ora, minha gente, manifestar é algo pleno da democracia, da liberdade. Acho que o governo tem que saber dialogar mais. Historicamente o governo do PSDB trata manifestantes, sejam eles professores, agentes de saúde ou policiais como lixo. Meu deus, o Palácio dos Bandeirantes não é a Meca religiosa. Na Angentina, na Ucrania ou na Birmânia qualquer um pode manifestar-se em frente ao prédio da república. Pq em São PAulo não pode?