Nas eleições que minimamente importam neste país, ficou claro que venceu quem soube usar a política tradicional: formação de alianças, exploração do tempo de TV e conservadorismo em relação aos governos federal e estadual. Por mais se exalte o prefeito-eleito de São Paulo como novidade ou que se critique o colega dele no Rio de Janeiro, por exemplo, o fato é que os eleitores demonstraram não estar interessados em muita mudança em relação ao que está posto.
Kassab se viabilizou pela disposição de Serra de rachar o PSDB paulistano, por medo de perdê-lo para um Geraldo Alckmin cada vez mais inclinado às Minas Gerais, e pela capacidade de se acertar com o PMDB de Orestes Quércia, que pode ser oco, mas oferece tempo de TV e capilaridade nos bairros. Nada mais tradicional.
Eduardo "Troca-Troca" Paes (mudou de partido sete vezes) é um tradicionalista por definição. Sabe medir os ventos e ajustá-los, com uma assustadora flexibilidade ideológica. Elegeu-se rachando o eleitorado e colocando-se ao lado de um presidente popular que já acusou dos piores crimes. Mas na política segue valendo o ditado: quem não sabe virar a página, não merece ler o livro. Paes sabe.
Em Belo Horizonte, há quem tente diminuir a vitória de Márcio Lacerda, poste do governador Aécio Neves e do prefeito Fernando Pimentel, arquitetos da aliança entre os dois partidos que polarizam as eleições nacionais. O peemedebista Leonardo Quintão veio com o papo de que o eleitor tinha dado seu grito de independência, mesmo depois de ele ser derrotado. Tudo conversa mole. Perdeu para um candidato fabricado em laboratório. O eleitorado comprou.
Salvador, Porto Alegre, Recife, Fortaleza, Goiânia, Curitiba, Belo Horizonte. Onde é que alguém contrariou essa lógica da tradição? Diante de candidatos representantes desse tipo de política, o máximo os rebeldes conseguiram foi chegar ao segundo turno. Raramente fizeram mais que isso - talvez o exemplo mais claro seja Santo André, onde o petista Vanderlei Siraque conseguiu a alckminiana façanha de terminar o segundo turno com menos votos do que obteve no primeiro. Que beleza.
Até em São Luís, quem diria?, o tradicionalismo venceu por meio de um candidato da oposição. O eleito, João Castelo (PSDB), é adversário da família Sarney, da qual foi cria. E o comunista Flávio Dino, apoiado pelo clã, perdeu. O governo estadual está nas mãos de Jackson Lago (PDT), que alijou o ex-presidente do poder no Maranhão pela primeira vez em 40 anos, em 2006.
A tradição venceu, de lavada. E venceu sem um candidato se eleger batendo no presidente da República cuja popularidade bate nos 80 por cento. Não acho que o eleitor brasileiro seja conservador por natureza, mas que desta vez ele foi bastante cauteloso e atento ao "continuaremos o que está bom", ah, isso ele está.
Mudamos (01/16)
Há 8 anos
3 comentários:
Que pena que o "43" que eu digitei na urna para anular meu voto aqui em SP não pôde ser computado para a eleição do Rio, hehehe... Quase deu!
Se eu fosse mineiro, por pouco não estaria pedindo a volta da Ditadura...
A verdade é que, em todo o país - com raras exceções - a campanha eleitoral pra prefeito não pegou no povo. Foi uma eleição morna e, por isso, atípica.
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