Há alguns dias, o colunista Clovis Rossi, da Folha de S.Paulo, escreveu um texto cheio de boas intenções em que chama de terrorista o colega Vladimir Herzog, executado pela ditadura apoiada por gente graúda do diário onde Rossi trabalha. Depois, ele pediu desculpas. No mesmo jornal e no seu blog na Internet, Juca Kfouri, ex-editor da Playboy, previu o fechamento das revistas que, alienadas, falam mais sobre futebol internacional. Não explicou suas razões, os leitores desaprovaram, mas ele parece não ligar.
Os exemplos de apropriação e distorção dos fatos pelos jornalistas das antigas cada vez mais reverberam por aí. Haja saco. Entendo que é preciso respeitar quem carregou bobina nas costas, brigou com grandes barões da elite nacional em troca de uma boa reportagem e se esforçou para que a imprensa do Brasil melhorasse.
Mas não dá para sentir um pesado enfado quando essas raposas velhas tratam o resto da mídia nacional como devedora a eles, que mostram dia a dia, no afã do jornalismo do chute pelo chute, que não vivem os melhores momentos das suas carreiras.
Nessa profissão, todos cometem erros: tanto de interpretação como de informação. Mas quem se vê como ombudsman do trabalho de todos os outros merece escrutínio mais embasado e distanciado do que tem havido para figurões como Rossi, Kfouri e alguns outros, que escrevem como se estivessem na Guerra Fria.
O mundo mudou e eles não parecem se dar conta.
O mundo mudou para melhor, apesar do pessimismo de grande parte dessa turma que já cogitou pegar em armas para libertar o Brasil do Regime Militar. Hoje em dia não há mais ditadura para enfrentar, embora haja quem veja no mercado um câncer em metástase, que proibe e autoriza apenas segundo uma lógica perversa. Não estou entre esses. E ainda acho que o primeiro compromisso do jornalismo é com a verdade, e não com o achismo e o risco do erro.
Todos nós temos direito a nossas próprias opiniões. Mas ninguém tem direito aos seus próprios fatos. Alguns próceres dessa turma mais antiga querem os fatos só para si. Não os terão. Não mesmo.
P.S.> Dadas algumas justas manifestações sobre este texto, é necessário pontuar isto: critico a falta de contundência nas críticas ao trabalho de Rossi e ao de Kfouri quando eles erram porque os dois são jornalistas respeitados e respeitáveis. Não se enquadram na categoria deles figuras como Mino Carta (empresário), Reinaldo Azevedo (maluco) e Paulo Henrique Amorim (puxa-saco e babaca).
Mudamos (01/16)
Há 8 anos
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