Para quem cobriu os Jogos Olímpicos no Green, Pequim é um sonho de lugar, bem organizado, prestativo e merecedor de todos os aplausos pelo sucesso de público que conduziu entre 8 e 24 de agosto. Para quem está fora e fez uma cobertura alternativa do maior evento do esporte mundial, a capital chinesa é apenas onde você toma na cabeça sem parar, tendo sua liberdade vigiada por espiões em todo lugar ou sendo barrado pela estúpida e comunista burocracia local, sem nenhuma regra clara.
Quando o tio Jacques Rogge, presidente do Comitê Olímpico Internacional, seguiu a tradição de decretar as Olimpíadas de Pequim como as melhores da história, me lembrei de como foi gostoso andar pelas ruas da cidade recheadas de supostos voluntários vinculados a várias empresas. Na verdade, eles eram observadores e alguns admitiram acompanhar os estrangeiros nas ruas para garantir sua segurança durante a estada na sede dos Jogos.
Ah, claro, segurança. Obrigado, voluntários!
Lembrei também do perrengue que outros conhecidos tiveram antes e depois de agosto para renovar uma porcaria de visto por alguns dias. Uns pagaram multa, outros tiveram a saída acelerada e alguns rumaram a outras cidades durante os Jogos. Agora sou eu quem precisaria renovar o visto, mas o governo chinês quer que me dane.
Minha volta está marcada para o dia 5 e meu visto --de turista-- venceu no sábado. Eles dão dez dias de lambuja, mas meu bilhete conta 13 dias depois de expirado o visto. Sinal de que vou receber a visita de policiais em casa dizendo que tenho prazo para deixar a China e que, possivelmente, pague uma multa.
Muito mais fácil seria renovar a porcaria, não?
Não aqui.
No sábado fui à imigração e me disseram que eu precisaria abrir uma conta chinesa e fazer um depósito de 100 dólares para cada dia que ficasse aqui até o meu vôo. Eles seguram essa grana para comprovar que você tem meios de ficar aqui e dias depois devolvem, provavelmente depois de fazer a grana girar. Sem condição de fazer isso, mandaram eu voltar na segunda-feira.
Fui ao banco onde tenho conta bancária, o HSBC, cujo nome quer dizer Hong Kong Shanghai Banking Corporation, mas apesar de ser uma empresa chinesa com presença internacional os figuras não podem me dar um documento que comprove que tenho a droga do dinheiro para ansiosamente esperar o avião que me tirará daqui.
Resolvo voltar à imigração para ver se depois do fim dos Jogos se esquecem dessa regra idiota do depósito --que costumava ser aplicada para a segunda renovação, e não para algo simples como o meu caso. Chegando lá a atendente não fala nada sobre depósito. Mas pede que eu atualize um registro na polícia do bairro onde estou para me dar autorização para ficar os dias a mais.
Chego à delegacia, 40 minutos depois, e a escrivã não fala pica de inglês. Meu amigo Victor, fluente em chinês, conversa com a tia. Ela diz que não pode atualizar o meu documento se não tiver o visto. O mesmo visto que me foi negado pela imigração, que hora antes disse que para eu recebê-lo preciso de atualização do cadastro da polícia.
Viram que coisa linda?
A ajuda que ganhei foram 30 minutos de espera e um pedaço de papel com um pedido --em chinês-- para eu ir a um lugar que desconheço na manhã de terça-feira onde resolveriam meu problema. A tia, no entanto, não soube dizer se eu precisaria pagar para isso. Ah, claro. Resolver o meu problema.
Faltei e cá estou esperando a polícia bater na porta. Pelo menos um dos guardas fala inglês. Esse é o mundo de quem não tem credencial.
Tudo bem, é do jogo. Fui eu quem decidiu vir, mesmo sem ajuda.
Mas se alguém vier me falar de como o comunismo é bacana quando eu voltar, já aviso que vou dar porrada. Não dá para ter bom senso com quem defende ditadura que vigia e cria regras vagas só para pegar no pé de estrangeiro que aparece aqui.
Já chamo minha passagem de volta de "Passaporte da Alegria".
Mudamos (01/16)
Há 8 anos
Um comentário:
Eu também fiquei fora da "Ilha da Fantasia", mas não vou deixar a China com essa impressão tãããão ruim, não... Ah, só um pouquinho, né? Mas acho que eu já estava esperando pelo pior - e aí, no fim das contas, acabei não achando tão ruim assim.
Se bem que não fiquei tanto na rua como você. Certamente deve ter sofrido bem mais.
E, realmente, falar bem do comunismo chinês é o fim da picada! Defender ditadura não dá.
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