O amigo e jornalista Felipe Corazza, meu anfitrião em Pequim, tem a tese de que onde estiverem pelo menos cinco brasileiros haverá um pandeiro. Nada mais adequado para definir o caos criado por pelo menos trinta pessoas de verde e amarelo que ocuparam na noite de sábado a gringolândia local, chamada de Sanlitun.
Em uma região cercada de bares metidos a besta, eu e outros amigos paramos para conversar com dois nigerianos e um mexicano que estavam bebendo do lado de fora das baladas, sentados em cadeiras mal ajambradas de uma tiazinha da cerveja na entrada de um estacionamento. Sim, somos do terceiro mundo.
Minutos mais tarde pararam alguns blogueiros de Brasília. Pouco depois, com um pandeiro, chegou o pessoal que vinha da partida de vôlei entre Brasil x Polônia. Em seguida, junto da batucada, surgiram mais tupiniquins e, surpresa!, outro pandeiro. Eis o furdúncio que deixou os seguranças e a polícia preocupados.
Foram pelo menos três horas de batucadas, capoeira de nível iniciante no meio da rua, cervejas a 75 centavos de real --para mim, água, por 60 centavos-- e até homenagem a Dorival Caymmi, que neste fim de semana foi para Maracangalha.
Uma chinesa que via a cena disse que achou engraçado. Outros estrangeiros se esbaldaram e pelo menos três deles me contaram que seria ótimo realizarmos grandes eventos esportivos no Brasil porque o povo compensa a falta de estrutura. "É a primeira vez que vejo um grupo de pessoas realmente feliz aqui em Pequim nas Olímpiadas", disse um canadense de Winnipeg.
Faz sentido.
Foi a primeira vez que vi um grupo não se preocupar com polícia para fazer bagunça. As pessoas aqui não estão lá muito estimuladas a serem barulhentas nas ruas, com medo de terem os vistos cassados ou de irem para o xilindró. O maior exemplo disso foi o um grupo de irlandeses bêbados andando no metrô após a cerimônia de abertura sem dar um pio. Nada mais anti-natural.
Para os policiais chineses, no fim das contas, o único problema que realmente criamos foi de trânsito na rua. Ali não é área residencial e os pequineses que ali aparecem já são bastante escolados --o que muitas vezes faz com que eles sejam acusados de serem ocidentalizados demais.
Mas nos demos por satisfeitos ao promovermos um encontro de dezenas de pessoas sem pedir autorização ao governo chinês. Um grupo brasileiro que luta capoeira tentou conseguir permissão para jogar na rua dias antes e foi barrado. Por estas bandas, o importante é fazer sem pedir licença. Façamos.
Mudamos (01/16)
Há 8 anos
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