terça-feira, 5 de agosto de 2008

Negócios da China

O comerciante chinês é, antes de tudo, um espertalhão. O nível da picaretagem é tão grande que eles parecem até brasileiros. Talvez com um pouco mais de vergonha. Talvez.

A sacanagem mais óbvia é vê-los oferecendo um produto por quatro vezes o preço original. Especialmente os gringos bobos se empolgam, pechincham até metade e vão embora bem satisfeitos. E o chinês vendeu pelo dobro do preço.

Outros são apenas desonestos. Oferecem um produto e entregam outro. Foi isso que tentaram fazer comigo e uma amiga quando tentamos comprar um laptop em um desses shoppings pequineses onde aparecem hordas de atletas babacas fingindo negociar.

Fomos a uma espécie de paraíso dos eletrônicos acompanhados por um amigo fluente em chinês. Achamos que isso ajudaria na negociação. Depois de puxadas de braço e disputa entre os vendedores de diferentes lojas, optamos por um comerciante menos agressivo. Dois andares acima estavam as máquinas.

Chega a dona da loja, sorridente demais pro meu gosto. Lembrei do Chico Buarque e da sugestão do Ministério do Vai dar Merda, que serviria apenas para alertar sobre projetos do governo que corressem grande risco de dar errado. Começa a negociação, em chinês para ver se há alguma empatia.

Vinte minutos de conversa e chegamos a um modelo. Laptop moderno, com webcam, memória isso, placa daquilo e outros tremiliques mais. O preço: 4,3 mil iuans ou cerca de mil reais. Consultados os oráculos, a conclusão foi de que o preço era bom para o aparelho, que poderia custar mil iuans a mais.

Negócio fechado.

Saio para buscar dinheiro no caixa eletrônico.

Volto 10 minutos depois e o negócio está desfeito.

Malandra, a vendedora tentou empurrar um computador bem pior, sem webcam, sem memória disso nem placa daquilo. Uma máquina que custaria na Internet 3 mil iuans. E admitiu dando risada de leve, como se dissesse "vocês não foram otários pra comprar este, mas vão ser otários pra comprar outro".

Ela não sabia que somos brasileiros e não desistimos nunca.

Comunista vagabunda foi a ofensa mais branda à moça. Que, na cara de pau, dizia que era melhor comprar ali do que na Internet, porque na loja podíamos ver a mercadoria.

Coisa de gênio o argumento.

Ainda bem que as vendas pela Internet na China só crescem. Lidar com os caras do comércio daqui é uma experiência desnecessária.

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