Acordei nesta quarta-feira com um policial batendo à minha porta. Em um inglês sofrível, disse que eu precisava comparecer à delegacia para tratar do meu visto. Na verdade eu deveria ter ido no dia anterior, mas uma pizza na noite de segunda-feira me impediu de sair de casa o dia inteiro. Eu tinha 15 minutos para me ajeitar.
Fiz isso e caminhei com o guardinha, que se mostrou simpático depois de saber que eu sou do Brasil. "Furebor!", esclamou ele. Entrei no clima e falei da vitória da China no quadro geral de medalhas. Ele não entendeu pica e somou um "verrry gouda" para se repetir na conversa sobre o esporte bretão praticado pelos brasileiros.
Chegando à delegacia, o chefe dos guardinhas me recebeu. Ele é o único policial que fala inglês razoavelmente no bairro onde estou. Expliquei a situação, mostrando também que sentia muito por não ter resolvido o problema antes. Diante de outros colegas, me tratou com formalidade e pediu para eu voltar quatro horas depois.
Ainda baqueado pela pizza --comida chinesa é feita a altas temperaturas que matam micróbios e as pizzas, não--, voltei à delegacia. E o guardinha disse que por norma chinesa eu teria de ir na viatura de polícia até a imigração. Um Santana bem decrépito, ao contrário dos carros bonitos que se vê nas polícias de distritos mais cheios de gringos e endinheirados.
No caminho, o guardinha quer saber tudo sobre o Brasil. Quer saber o que eu acho sobre a China. Quer saber sobre minha namorada e sobre as mulheres brasileiras. Depois ele conta da vida dele, formado em engenharia, mas policial por causa da emoção. É o máximo que ele se permite explicar. Para não falar muito mais, ele me oferece uma garrafa de chá verde das várias que carrega na viatura. É bom para o estômago, diz ele, casado com uma artista plástica que é viciada em chá e que o ajuda a praticar inglês em casa.
Chegando à imigração, ele me pergunta se tenho dinheiro. Digo que não e começo a achar que o cara ia pedir uma propina para resolver a situação. Mas não era nada disso. Ele queria saber se eu tinha dinheiro para pagar a multa de 300 iuans para quem tem o visto expirado. O guardinha conversa com dois agentes e, zap, em três minutos está resolvida uma situação que me tomou pelo menos duas tardes inteiras, no sábado e na segunda-feira.
E eu não pago nenhuma multa.
Normalmente eu pagaria a multa e ficaria umas boas horas ali. Mas o exemplo do guardinha me lembrou de algo que um colega daqui contou: os chineses também dão jeitinho. Não com a malemolência brasileira, mas dão. No fim das contas, pessoas são pessoas. E nenhum regime repressivo consegue mudar isso.
Nem com as mais de 50 câmaras que contei naquele lugar, conseguiram barrar uma iniciativa livre.
Sorte minha.
Mudamos (01/16)
Há 8 anos
4 comentários:
Ti bonitinho...hauhauua
Mau, saudade!
caramba, ainda bem q o policial era um china legal, imagina se é um daqueles que é que nem cavalo, não pode nem olhar pros lados. Parabéns pela cobertura, descobri o blog pelo do paulinho. essa cobertura do que ocorre offline em Pequim está fantástica.
"Jeitinho chines né? Semerante ao jeitinho brasireiro né?"
Toma cuidado, rapá!
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