Depois do 1o debate apenas entre o prefeito-candidato Gilberto Kassab (DEM) e Marta Suplicy (PT), dois importantes momentos foram ignorados -ou substituídos- pela imprensa. Ambos vieram da boca da petista, como não podia deixar de ser, já que é ela quem tem de reverter desvantagem, não Kassab.
O primeiro foi quando Marta mostrou um documento perguntando sobre uma decisão do prefeito de barrar licença maternidade por seis meses. Kassab se enrolou todo e explicou o veto como se fosse uma questão burocrática, tanto que reapresentou o mesmo texto com pequenas alterações no ano eleitoral.
A petista leu o texto do veto do prefeito, no qual ele questiona o mérito da licença de seis meses, uma vez que, segundo ele não há indícios científicos de que ele seja necessário.
(Durante o debate, o blog do jornalista Ricardo Noblat postou o trecho de vídeo com a enrolada de Kassab. Estranhamente, horas depois o post tinha desaparecido. Não sei qual foi o motivo.)
A resposta do prefeito-candidato foi tão ruim que ele se perdeu na tréplica, achando que era hora de fazer pergunta, e não de tentar rebater o motivo. Perdeu os dois primeiros blocos do programa.
O segundo momento importante foi quando Marta afirmou com todas as letras que Kassab será o líder que restou do ex-PFL, visto que o partido foi o que mais perdeu nas eleições. A petista, ao que parece, sabe que não vai vencer, quer apenas diminuir a desvantagem em relação a Kassab e fazer com que haja mais em torno do prefeito-candidato do que a aura de bom moço.
Em um debate com pico de 9 pontos no Ibope, nada absolutamente sensacional, vejamos os acontecimentos dos próximos dias para saber como as coisas evoluíram. Até porque além do debate, conforme eu previa, entrou em pauta a sexualidade de Kassab.
Até que demorou.
A campanha da petista Marta Suplicy jogou uma frase ao vento e a imprensa, que não sabia como discutir o assunto e possivelmente nem sequer o faria até o fim da disputa, embarcou. Embarcou com um tom de indignação com toda a cara de ópera bufa.
Pelo que me lembro, Luiza Erundina cansou de sofrer com insinuações de ser lésbica e não me recordo, talvez pela pouca idade, de uma reação igualmente indignada. Ao contrário: o tom de chacota malufista reverberava por aqui e por ali.
Marta Suplicy possivelmente tenha respondido mais sobre seu estilo de vestir do que sobre qualquer ação que desenvolveu quando prefeita. Então qual é o problema para os conservadores eleitores de São Paulo se deparar com essa questão sobre Kassab?
A questão é que mulher não pode fazer o que quiser e homem, pode? É esse o pano de fundo. Não se condena ninguém pelas escolhas pessoais que faz, mas utilizar termos como "paraíba-masculina" e "dona Marta", em referência a dondoca, me parece ainda mais pornográfico e apelativo. Ou será que a imprensa não tem memória?
Seja como for, mesmo com a provável vitória em São Paulo, Kassab finalmente descobriu que participar do cenário político nacional tem custo -e é custo pessoal sim, senhor. Ou será que ele esperava ganhar projeção, ser o mais poderoso político de um partido importante sem nenhum sacrifício?
P.S.> Lembra o amigo Fernando Vives que em um dos debates da disputa para a prefeitura de São Paulo em 2000, o jornalista Fernando Rodrigues perguntou a Marta durante debate na TV Bandeirantes: "A senhora já traiu o seu marido?" A petista reagiu bastante irritada, como de costume, mas o estrago já estava feito.
Nos dias anteriores, o adversário Paulo Maluf cansou de dar entrevistas com insinuações e piadinhas sobre isso. A indignação da imprensa foi tão grande que eu nem lembrava desse episódio.
Mudamos (01/16)
Há 8 anos
5 comentários:
Credo, cara! Por acaso você está tentando justificar as lamentáveis baixarias da Marta no debate de ontem?
Vou votar na Marta no segundo turno no dia 26, mas fiquei enojado com as referências à sexualidade do Kassab.
Que importância tem se ele é hetero, bi ou homossexual? Sei que o PT há tempos perdeu a noção e o pudor, mas juro que não esperava isso da campanha da Marta. Justo ela, que a vida toda defendeu os gays. Que tristeza.
O desespero bateu na campanha do PT. O que é uma pena, até porque a campanha da Marta teria todas as condições de destacar as muitas realizações da ex-prefeita na cidade entre 2001 e 2004. Lamentável.
Dá dó.
Não estou justificando, a opção é da campanha dela que vai colher bônus ou ônus por isso. Mas é fato que o assunto ia aparecer, independentemente da propaganda. E eu já digo isso há mais de mês. E é fato também que indignação não resolve, o Kassab vai ter de saber como lidar com o assunto. Faz parte do jogo. Ainda mais para comandar uma cidade tão importante. Outros prefeitos, em especial as prefeitas, tiveram de lidar com isso. Duvido que Kassab pensou que ganharia a eleição sem nenhum obstáculo. Se os eleitores avaliarem que a campanha da Marta apelou, têm como responder. E se acharem que o Kassab é pior prefeito por causa de quem é, também têm. O fato concreto é que a campanha petista não é mais para evitar que o Kassab vença a eleição, mas sim para miná-lo mais para a frente. Ele é mesmo o líder que sobrou para o ex-PFL.
meu caro, discordo profundamente do seu texto. Acho que há limites. A campanha da Marta rompeu a linha da civilidade e se equiparou ao Collor, que trouxe a Lurian para o debate político. Querer minar o PFL é do jogo. Usar estratégia do malufismo é bater abaixo da linha da cintura. Um erro não justifica o outro.
Não justifica mesmo. Mas sinceramente essa reação toda me parece bem exagerada. Não sou nada poliânico nesse sentido, mas não duvido nada que tenham feito o anúncio mirando o eleitor do Alckmin, que se importa com isso, independentemente de o cara ser gay ou não. A reação da imprensa parece bem desproporcional. Respeito quem pensa o contrário, mas acho que o rumo natural era o Kassab não dar a mínima para esse anúncio e a vida ir em frente, com ele ganhando inclusive. A reação foi tão grande que duvido que ele mesmo esperasse. Sem contar que também não é do interesse dele surfar nessa onda de indignação. Aliás, se dependesse dos dois candidatos, o assunto já teria terminado. E eu não sou lá de me comover muito com esse tipo de escândalo. É da vida. Abração!
Gosto muito das suas postagens/analises políticas.
Também acho que a mídia (sociedade do espetáculo), como não tem profundidade para debater, embarcou nessa baixaria.
A campanha da Marta ao questionar o casamento e solteirice do ligeiro Kassab errou. Porém, a mesma difamação que fizeram com muitos outros candidatos, que temos em Lula o maior exemplo, isso poucas vezes foi levantado.
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