sábado, 2 de fevereiro de 2008

Corinthians que não pensa

O Corinthians já não pensa. Não ri. E a torcida, que era o seu mais importante diferencial, é cada vez mais parecida com as outras.

Falta bom senso para dar paz ao clube após o maior trauma da sua história. Preferiram acomodar facções em troca de uma breve trégua em vez de fazer os expurgos necessários, como os do ex-presidente Alberto Dualibi, do ex-vice Nési Curi e da mafiosa MSI, vão andar de soslaio até que a pressão seja insuportável.

Mas essa pressão, quem diria?, não virá da torcida.

Se há algumas décadas ela ia para os estádios para ver a si mesma e cobrar os cartolas inaptos que mantiveram o clube na fila por 23 anos, hoje ela anda de mãos dadas com o presidente Andrés Sanches, que pouco crédito merece por seu histórico de alianças mal fadadas e nem sempre confessáveis.

Da maior comunidade corintiana no Orkut, passando pelas arquibancadas e pelo torcedor de botequim, a Fiel não é mais a mesma. Perdeu o humor e perdeu o juízo.

O maior símbolo disso é a torcida organizada Gaviões da Fiel, criada para fiscalizar o clube nos anos 1960 e hoje prestes a se tornar um braço uniformizado da diretoria "Kia II- A missão".

Uma torcida que tinha cara de movimento social há alguns anos, inclusive com proximidade com o Movimento Sem-Terra e outros descamisados do Brasil, agora é um anexo do poder--o que desonra a história de quem a criou e de tantos que a exaltaram.

Apenas a preferência clubística separa hoje a Gaviões da são-paulina Independente, que sabidamente depende da diretoria tricolor para conter as críticas e ver jogos da Libertadores no exterior. Ambas foram compradas por ninharia.

O que separa a Gaviões da Mancha Alviverde, cujo dirigente mais famoso se vê no direito de dar porrada em treinador mirim só porque o filho dele não joga no time titular? Ambas brigam por espaço, e não por transparência.

Nesse caldo todo só pode prevalescer a máxima de Millor Fernandes: a única coisa que não tem limite neste mundo é a burrice.

A participação do torcedor fica restrita, para os analfabetos funcionais de plantão, a comprar ou não comprar produtos do clube, ir ou não aos jogos, defender ou não o Corinthians das críticas da imprensa e dos rivais. E isso é muito, muito pouco.

Esse sectarismo estúpido cada vez mais forte na torcida corintiana está em descompasso com a história de um clube que atraiu faixas pela anistia aos exilados pela ditadura e foi palco da democracia corintiana --um fenômeno que não conheço igual e se houver algo parecido no futebol mundial, peço que me contem.

E o saldo da ausência da torcida na fiscalização, sabe-se, é negociatas aos borbotões, fanatismo em vez de paixão e, no futuro, derrocada. Uma inevitável derrocada por falta de inteligência.

Muito triste.

Por isso, quando falam da equipe atual do Corinthians, cujo meio-de-campo não funciona direito, me vem à cabeça a idéia de que um time também é reflexo da sua diretoria. Independentemente do treinador que o comande.

Afinal, é a diretoria do Corinthians que faz de tudo para se defender, mesmo que isso não traga nenhuma vitória. E é também a diretoria na qual ninguém usa a cabeça em vez da força para fazer a diferença em favor do clube.

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