Estou achando cada vez mais engraçado quando dizem que determinado clube é ajudado pela complacência da imprensa, seja em São Paulo seja no resto do Brasil. É o mesmo papo da Bahia ao Rio Grande do Sul, onde muitos torcedores vêem a mídia como uma eterna conspiradora contra os seus clubes de coração.
Só nessa última semana, que passei trabalhando no estado do Rio de Janeiro, ouvi pelo menos cinco flamenguistas falando da mídia tricolor. E uns três tricolores enxovalhando a mídia flamenguista. Em São Paulo é o mesmo, creio eu que com uma divisão entre são-paulinos e corintianos.
(Os palmeirenses parecem se sentir perseguidos pelo mundo, não necessariamente por uma mídia próxima aos rivais.)
Muitos corintianos vêem excesso de informação e fofoca sobre o clube, já que há muito tempo é a equipe do Parque São Jorge que mais vende jornal e mais Ibope dá na televisão --tanto pela simpatia como pela antipatia. E lamentam por a imprensa não pegar no pé do rival com a mesma frequência.
Já os são-paulinos reclamam da adulação da TV Globo ao Corinthians, com o inexplicável direito a legenda de grito da torcida durante o clássico com o tricolor do Morumbi. E lamentam o menor interesse por seu clube nas páginas dos jornais, em comparação com o Alvinegro, o que atrapalha seus interesses marqueteiros.
Diante de reclamação de tanta gente, só consegui chegar a uma conclusão: a única predileção da mídia é por quem vence. Seja na atenção do público ou em campo.
A mesma mídia que exaltou o Corinthians até cansar nas conquistas de 1998, 1999 e 2005, para ficar nos casos mais recentes, é a que muito justamente apontou o dedo para as falcatruas da MSI e da direção do clube no ano passado. É a mesma que ajuda a plantar crises no time após um ou dois maus resultados.
Quando o Corinthians vence e convence, os alertas sobre má administração do clube são muito mais esparsos e raramente merecem o destaque de uma xoxa entrevista como algum atleta do time. Isso também vale para outras equipes e em outros momentos.
A mídia que exaltou o São Paulo nas recentes conquistas é a mesma que batia horrores alguns anos antes, praticamente expulsando grandes jogadores do Morumbi, como Kaká --vendido pelo mesmo preço que Roque Júnior saiu do Palmeiras--e Luis Fabiano, entre outros que sofreram pressão para sair porque eram "apenas" bons jogadores.
Essa mesma imprensa, hoje aduladora à sesmaria do presidente Juvenal Juvêncio, tratou Kaká e Luis Fabiano, que hoje brilham no exterior, como amarelões e pipoqueiros. E nada disso foi por uma questão de predileção.
O motivo era a falta de títulos. A lógica é absolutamente mercantil.
Essa mesma lógica se aplica ao enxovalhado Grêmio na segunda divisão e ao vingador Grêmio vice-campeão da Libertadores. Ou ao decrépito Fluminense que perdeu a classficação para a Libertadores em 2005 e a suposta máquina campeã da Copa do Brasil no ano passado.
O futuro é um problema que a maior parte da imprensa esportiva não quer discutir. Ela vive e analisa conforme os resultados. Não enxerga tendências, trajetórias. Sendo assim, fácil é gostar de quem está na frente. Usa-se menos tutano.
Essa parcela preguiçosa e majoritária da mídia que trabalha no futebol prostitui suas opiniões e investigações conforme os retornos, em campo e no Ibope, e não por qualquer paixão clubística. Muito menos pela paixão pelo ofício de jornalista.
Ainda há quem se esforce para não entrar de cabeça no circo esportivo, é sempre bom dizer.
Mas o poder dos palhaços é maior do que o dos domadores, então continuaremos lendo e ouvindo mais gente dar risada do que enfrentando os leões.
Mudamos (01/16)
Há 8 anos
Um comentário:
Os são-paulinos dizem que a mídia é corintiana, os vascaínos dizem que a mídia é rubro-negra, os rubro-negros dizem que a mídia é tricolor e os petistas dizem que a mídia é golpista.
Durma-se com uma barulho desses!
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