sábado, 9 de fevereiro de 2008

Os sem-agenda

Governo e oposição iniciaram o ano legislativo após o Carnaval do mesmo jeito que caminharam no ano passado: sem debate, sem idéias e sem agenda. A meses das eleições municipais, o Congresso brasileiro andará a passos de pepino-do-mar, já que mais importante do que discutir as reformas necessárias para o país é promover figurinhas carimbadas que querem disputar prefeituras de cidades como Itapipoca ou Quixeramobim do Oeste.

Um tédio. E o exemplo maior dessa postura é a polêmica pelo uso dos cartões corporativos.

Ao alimentar a notícia velha que recentemente ganhou nuances mais dramáticas, os parlamentares optam por transformar o Planalto Central em delegacia de polícia até maio –depois disso todo mundo vai fazer campanha para si ou para outros—e inutilizar qualquer tentativa de reforma tributária, de formatar uma proposta de reforma universitária que não seja refém dos tubarões da educação (como o senador governista Wellington Salgado, sósia do Shrek) ou de responder à crise dos Estados Unidos com estímulos à economia.

Preferem não legislar e fazer um jogo governo-oposição no qual as questões diante do país têm muito pouca importância, já que a prioridade é polemizar e travar o debate sobre o que realmente importa: como combater a corrupção com um sistema de saúde mais justo, como melhorar a educação de alunos e professores...

Agora a proposta é de mais uma investigação parlamentar fadada ao fracasso prático –eu sugiro o nome dado pelo ministro do Planejamento, Paulo Bernardo, de CPI da Tapioca, em referência aos quitutes comprados por R$8,30 pelo colega dele na pasta do esporte.

Os gastos são públicos e a Controladoria Geral da União está estudando os casos. Mas os deputados e senadores, em vez de optarem pelo “vamos aproveitar o ano até chegar a eleição municipal”, preferem a alternativa “precisamos de mais um argumento para dizermos que esse é o governo mais corrupto da história/esse é o governo que mais combateu a corrupção na história”. Não é à toa que a aprovação do trabalho dos parlamentares raramente supera os 50 por cento da população.

Por que será?

Eu mostrarei agora o meu dom de prever o futuro (tá certo que isso aconteceu outras vezes, mas futuro é futuro...). Daqui algumas semanas, quando a CPI estiver fora do foco, os parlamentares vão reclamar do Poder Executivo por enviar medidas provisórias em excesso para o Congresso.

Dirão que é isso que atrapalha o seu trabalho. Como se os governos forem os únicos culpados por os parlamentares gostarem tanto de uma CPI quanto o ministro do Esporte gosta de tapioca...

Fado triste.

A maior dúvida sobre esse assunto continuará: com tanto deputado e senador paralisado pelos holofotes, gente que dá declarações até para a luz da geladeira quando vai fazer mais uma boquinha de madrugada, como poderia ser diferente?

Alguém precisa governar e parece que deputados e senadores não querem ajudar nisso.

Não há nada de errado na imprensa fazer o seu papel ao cobrar transparência e noticiar o mau-uso dos cartões, tanto na esfera federal como na dos estados, como São Paulo. Apesar dos exageros que podem ocorrer, é melhor haver exagero do que censura.

O problema de verdade está na falta de agenda do Congresso. Os mesmos parlamentares que fingem lutar contra o desperdício de um lado, do outro despejam recursos públicos na lata do lixo, ao não exercerem seus mandatos com independência em relação ao calendário das urnas e à atenção da mídia.

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