terça-feira, 5 de fevereiro de 2008

Superterça de Obama

Para quem gosta de política, independentemente das matizes ideológicas que abraça, esta é uma real superterça. A mais acirrada disputa da história para concorrer à Casa Branca chegou ao seu auge, para republicanos e democratas. E independentes.

A razão principal de tudo estar como está, completamente imprevisível, é o fato de o senador Barack Obama disputar o emprego de homem mais poderoso do mundo.

Obama, um símbolo mais do que um homem de propostas, se posiciona contra a mulher de um ex-presidente, um mormon endinheirado e um veterano de guerra republicano quase tão democrata quanto ele próprio.

Por isso, nunca o clichê de que se trata de uma briga entre o passado e o futuro fez tanto sentido em uma eleição americana.

Com descendentes africanos pobres, mas alguma tranquilidade de classe média ao longo do resto da juventude, Obama tem 46 anos, assim como o ex-presidente Bill Clinton quando foi eleito pela primeira vez. O vínculo dele com os mais jovens --mostraram pesquisas-- é um dos principais motivos para acirrar a disputa e levar gente antes ociosa a votar, já que por aquelas bandas o sufrágio não é obrigatório.

Obama não tem o passado pobre dos reverendos Jesse Jackson e Al Sharpton, negros como ele e candidatos presidenciais sem chances de vencer quando concorreram --sem votos por serem negros e por serem cristãos demais. Mas supre a falta de miséria aliando o carisma de senso de humor, tiradas rápidas e comentários acidos à retórica do não-sou-candidato-negro-apesar-de-usar-músicas-da-Motown-na-campanha.

E funciona.

O problema nisso tudo, já diria Garrincha, é combinar com os russos.

A estrutura do Partido Democrata é pró-Hillary. A América rural, conservadora, mostrou que teme um candidato negro com chance de se eleger para a Casa Branca. E o provável candidato republicano, o senador John McCain, não atrai tanta antipatia quanto o atual presidente George W.Bush. Nada disso ajuda Obama.

Por isso, esta superterça histórica será um grande teste não apenas para Obama, mas também para uma sociedade que até algumas décadas atrás não se envergonhava de empurrar os negros para a traseira dos ônibus.

O maior exemplo disso é o fato de alguns republicanos e muitos democratas favoráveis a Hillary ressaltarem a pouca idade e experiência de Obama. Como se Bill Clinton não tivesse sido eleito com a mesma idade.

Aí está parte da diversão desta superterça. Quem vencerá no dia em que Obama despertou a América? Quem olha para a frente com mais idéias do que propostas? Ou aqueles que querem o negro na traseira do ônibus, e não ao volante?

Sendo os EUA o que são, eu não apostaria tanto na primeira possibilidade.

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