quinta-feira, 12 de junho de 2008

Uma resposta corintiana


Por pouco o Corinthians não conquistou seu terceiro título da Copa do Brasil. Mas chegar à final do torneio já demonstra que a trajetória do clube na competição foi inesquecível. Não porque o troféu seria novidade no Parque São Jorge, mas porque nunca houve dentro de campo uma reviravolta tão rápida.

Nunca.

Desafio quem quiser a provar o contrário.

Há seis meses assisti ao rebaixamento do Corinthians para a Série B com algum conformismo. O clube tinha sido mal administrado demais (e ainda é) e a equipe era fraca além da conta para merecer um destino que não fosse o descenso.

Um resultado justo.

Mas o que não foi nada justo em 2007 foi o Corinthians ser alçado à condição de Zé Dirceu do futebol nacional. Tudo de negativo que dissessem, comprovado ou não, só podia ser verdade, berravam nas ruas e na mídia. Os choros históricos contra o clube foram revividos em um único ano, como se tudo estivesse relacionado.

Os erros de arbitragem contra o Corinthians se tornaram vestais da imparcialidade dos árbitros. Criticar o clube na mídia se converteu em sinônimo de ponderação. Nas ruas e escritórios, o preconceito de classe calcado no binômio corintiano-desonesto se fortaleceu sem censura, em meio a piadas nem sempre limitadas ao futebol. E os ódios regionais se canalizavam, com a mira centrada no alvinegro.

Os comentários do treinador Mano Menezes são exagerados para o jogo final contra o Sport –os dois times foram prejudicados e o Corinthians não perdeu por influência decisiva da arbitragem. Mas ajudam a explicar o sofrimento do time fora de casa desde o controverso Brasileirão de 2005.

Ao longo do último ano, muita gente estrapolou e desrespeitou o Corinthians e a sua torcida sem dó. Confundiram uma mancha na história do clube com o seu espírito, como se o clube e a torcida fossem um mal a ser extirpado da Terra.

Esses os mesmos comemoraram o título do Sport com a maior alegria do mundo. Nada contra. Até porque atenua a dor da derrota saber que eles comemoram não um vexame corintiano, mas sim por de alívio. Agora muita gente tenta esconder os próprios fracassos, como se apenas o surpreendente Corinthians tivesse perdido em um ano que tinha tudo para ser azedo no Parque São Jorge.

A tradução dos fogos de artifício com a derrota do Corinthians é: ainda bem que eles não ganharam essa, senão iam ficar insuportáveis. Há quem finja rir, mas na verdade estão muito preocupados com um clube que mostra tamanho poder de reação.

E isso sem ajuda de verdade da diretoria. Apenas porque o clube é grande demais e atrairia interesse até na Série Z.

Há quem torça por outros clubes e saiba se portar. Assim como há corintianos que não sabem. Há também quem entenda que secar o adversário é diferente de hostilizá-lo. Para esses, o jogo é jogado, no rebaixamento, na Copa do Brasil ou onde for.

Mas essa recuperação corintiana, que está apenas começando, não são esses que vão ter de engolir a seco. Quem vai se dar mal por ter subestimado o Corinthians são todos aqueles que encontraram sentido no futebol apenas na torcida contra o alvinegro que tanta gente ama. Nunca se deve subestimar o Corinthians. Nunca.

Que se prepare o palmeirense que comemorou mais o rebaixamento do rival do que lamentou a própria derrota em casa em um jogo que o classificaria para a Libertadores deste ano. E que há pouco tempo disputou a segunda divisão com muito menos atenção da mídia e menos sucesso esportivo.

Que se prepare o colorado, ainda com espírito de Municipal, que torceu contra a própria equipe para ajudar a rebaixar o time que o bateu no Campeonato Brasileiro de 2005. E três anos depois ainda chora, chora, chora...

Que se prepare o são-paulino que não entende de futebol, mas sabe que tem de torcer contra quem dedica muito mais amor, tempo e dinheiro ao seu clube de coração, na vitória ou na derrota.

Que se prepare o gremista que celebrou o descenso do Corinthians no estádio Olímpico na esperança de que não houvesse uma daquelas viradas de mesa que beneficiaram o tricolor gaúcho anos antes. E que lamentou ver Mano Menezes e William preferirem a Série B no Timão à elite nacional com o tricolor gaúcho.

Que se prepare o vascaíno que comemorou a derrota corintiana como se fosse uma vingança pelo fracasso cruzmaltino diante do alvinegro no Mundial de 2000, no qual estranhamente os cariocas herdaram a vaga do Palmeiras.

Que se prepare o torcedor do Fluminense que celebrou a queda do Corinthians como se a própria equipe não tivesse sido rebaixada três vezes, uma delas para a terceira divisão, e que voltou à elite apenas por conta de uma deliciosa canetada.

Que se prepare o flamenguista que viu benefícios flagrantes ao Corinthians para ganhar títulos e torcida, mesmo após o rubro-negro receber de lambuja várias rodadas de descanso no meio do Brasileirão de 2007 apenas porque não podia usar o Maracanã.

Que se preparem os torcedores do Cruzeiro e do Atlético que ainda lamentam as derrotas nos Brasileirões de 1998 e 1999 e que viram vingança no rebaixamento corintiano.

Que se prepare o torcedor do Goiás que, enfim, já sofre o suficiente apenas pelo fato de defender as cores dessa equipe.

Que se prepare o torcedor do Sport que, carente de um título nacional na sua história, forçou um clima negativo para a decisão da Copa do Brasil, como se houvesse um grande embate Sul x Nordeste, entre o bem e o mal, e não apenas uma partida de futebol.

Que se prepare quem brevemente se esqueceu de que a camisa do Corinthians merece respeito. Muito respeito. Enquanto outros levaram anos para se reerguer, levamos seis meses.

Seis meses.

Que os anti-corintianos se preparem para os próximos anos. Eles serão mais divertidos para mim, tenho certeza.

5 comentários:

Anônimo disse...

Parabéns.
Um texto belíssimo e sensato.

Anônimo disse...

Corinthiano profeta?
Pff patético.
Fracassado, sem história internacional sem merda nenhuma a não esa empáfia de quem se acha povão, mas na verdade é corja.

Anônimo disse...

Bonito texto, embora um pouco do tipo "corintiano coitadinho", né? Hehehehe, sou mais o do Obama!

;)

Mas sério: não há nada mais normal do que um palmeirense e um são-paulino vibrarem com a derrota do Corinthians, uai! Como o corintiano e o palmeirense vibraram com a eliminação do São Paulo contra o Fluminense. E como o corintiano e são-paulino vibraram com a queda do Palmeiras na mesma Copa do Brasil diante do mesmo Sport!

Essa é a graça do futebol, ora bolas! Quem zoa hoje, foi zoado ontem e certamente será zoado amanhã. O anormal seria se não fosse assim, certo? As pessoas precisam se levar um pouco menos a sério...

E, só para terminar, porque ninguém é de ferro:

CHUPA!!!

(Hehehehehe... "Não chora, não chora, não chora...")

M.S. disse...

Eu também acho que é normal palmeirenses e são-paulinos vibrarem. E é bom que seja assim. Só acho que tem gente que passou do limite da brincadeira nos últimos tempos, o que certamente não é o seu caso e nem de muitos outros rivais corintianos. Mas que houve, houve. Assim como os rivais também celebraram mais por alívio do que por uma vergonha corintiana. Se tem um time grande que não tinha obrigação de ser campeão quando a Copa do Brasil começou, esse time é o Corinthians. Rumo a Dubai 2010! rs

Anônimo disse...

Savarese, versão "sanguenosoio".
Ainda vamos rir muito dessas situações todas. Grande abraço, irmão