sábado, 28 de junho de 2008

A fantasia direita-esquerda

Não será vazio de sentido o exercício que propõe este Politicômetro no site da Veja? De acordo com ele, estou na centro-esquerda liberal do pensamento ideológico. E isso porque ao mesmo tempo em que concordo com muitas das ações do Movimento Sem Terra, defendo, por exemplo, a instituição de algum ensino religioso nas escolas de todo o país, ainda que eu seja agnóstico.

E isso explica o quê? Nadica.

Até que ponto isso me aproxima de outras figuras que incluiria na centro-esquerda liberal, como o ex-governador Geraldo Alckmin ou o ex-ministro-chefe da Casa Civil José Dirceu?

Eles são, tenho certeza, tão moderados quanto eu.

Esse tipo de classificação ideológica é inútil não apenas porque o Muro de Berlim caiu há duas décadas. A questão é que as pessoas e os partidos hoje gravitam em torno de idéias pontuais que nem sempre têm relação com a linha ideológica que supostamente abraçam. Isso é, quando abraçam alguma delas.

Acho bom que seja assim, para incluir cada vez mais gente no processo de tomada de decisão e de construção do posicionamento político. Leva tempo, mas no fim isso acaba maturando. E acaba maturando porque agora a política é feita de consenso.

Os grandes enfrentamentos parecem longe de retornar. Isso certamente deixa tudo mais chato, mas permite uma construção que extrapola barreiras ideológicas e partidárias --apesar de isso nem sempre se aplicar ao Brasil, onde o governismo e o fisiologismo unem todo pensamento, por mais diverso que seja.

O fato é que há algumas décadas seria improvável unir guerrilheiros e defensores do Regime Militar em torno da defesa do meio-ambiente. É o que vemos quando Fernando Gabeira e Jorge Bornhausen, supostamente antagônicos, tomam essa bandeira como fundamental para a política do século 21.

Ou ainda quando vemos tucanos e petistas, adversários ferrenhos, com fraturas internas entre quem ama o livre mercado e quem tem profundo desprezo por ele.

Nesses nossos tempos não há linha mestra a ser defendida nem inimigo a ser enfrentado que esteja fora de nós mesmos --isso, é claro, falando das sociedades minimamente democráticas.

Certamente o individualismo exacerbado desta época conta para a forma como se faz política, mas é inevitável que dentro de algum tempo isso se transforme. Não estamos diante de um impasse entre uma ideologia ou a bárbarie e a vida hoje não é pior do que era há cem anos, ainda que não falte quem diga o contrário.

Talvez esse politicômetro sirva apenas para mostrar que, com tanta idéia circulando e em tamanha intensidade, os conservadores puros de esquerda ou direita logo serão peça de museu.

Melhor assim.

3 comentários:

Anônimo disse...

Alckmin é centro-esquerda liberal? Hummmm, sei não, hein...

Anônimo disse...

O meu também deu esquerda-liberal, o que, suponho, seja algo como "levemente aviadado".
Não dá pra levar a sério num sociólogo procurada pela Veja.

Anônimo disse...

Eu sou de centro-direita liberal porque defendo as liberdades individuais. A veja me jogou para a direita, vejam só.