Três ministros fizeram uso irregular do cartão corporativo do governo. Um freeshop, uma churrascaria, uma cervejaria e uma tapiocaria receberam --de forma ilegal, ao que tudo indica-- quase mil reais vindos do erário público e que ainda não se sabe se foram ressarcidos devidamente ou não.
Parece uma idiotice.
E é. Mas os jornais deram alto de página. Trombetearam essa besteira, propagandeada há anos pelos partidos da oposição, em vez de trabalhar mais pesadamente em outras questões que hoje merecem mais atenção.
A Amazônia, com seu desmatamento recorde, o relatório sobre assassinatos no Brasil e tantos outros assuntos perderam espaço para os assustadores R$8,30 que o ministro do Esporte gastou com tapioca. Ou os R$500 que o secretário da Pesca (?) desperdiçou em um almoço com uma comitiva chinesa. Ou ainda os mais de R$400 usados pela secretária da Igualdade Racial em um freeshop aeroportuário.
Não estou dizendo que não se deva investigar a história e que a infração é insignificante só porque não se equivale aos milhões pagos em mensalões e outras cositas mas. Digo apenas que para haver tanto destaque a uma história tão singela, a imprensa está a fim mesmo de afastar leitores.
Se o melhor que ela consegue é encontrar mil reais em supostas irregularidades, imaginem o tanto de sujeira que ela não consegue descobrir. Ou o tanto de sujeira que não publica, por conta de compromissos inconfessáveis e interesses escusos, com valores dezenas de vezes superiores aos mil reais dos ministros.
Até porque o mensalão imperou por anos no governo petista e quase nada se soube pela imprensa antes das denúncias de Roberto Jefferson, o sócio desapontado com os pagamentos dos chefes de aluguel. Havia dezenas de parlamentares implicados no esquema e vários operadores. Mas os jornais apenas descobriram tudo, coitados, após o probo deputado ditar os acontecimentos à Folha de S.Paulo.
Se a imprensa dependeu do rompimento de Jefferson com o governo para noticiar o mensalão e precisou do PSDB e do DEM para cavar a sensacional história dos cartões corporativos, hoje destaque dos principais jornais do país, quanto mais acontece sem nenhuma participação da imprensa na investigação? Ela dependerá sempre dos interesses em voga para trabalhar?
Quem lê sobre o assombroso desfalque de mil reais feito por três ministros só pode pensar que sim. Ou então desencana de ler, porque corre risco de tropeçar em mais verdade na mesa de bar do que nas linhas mal traçadas dos periódicos brasileiros.
Mudamos (01/16)
Há 8 anos
Nenhum comentário:
Postar um comentário