O presidente dos EUA, George W. Bush, fez na noite de segunda-feira o seu último discurso sobre o Estado da União. Já não era sem tempo. Sabendo que pouca gente terá saudade dele --pesquisas chegaram a lhe dar 3 por cento de aprovação há poucos meses-- o rapaz conseguiu defender supostos avanços na segurança do Iraque. Pediu confiança na economia e parou por aí.
Eis o que disseram os rivais democratas, candidatos a sucedê-lo na Casa Branca:
Hillary Clinton: "O presidente Bush teve uma chance final nesta noite de reconhecer aquilo que o povo americano sabe há anos: que a economia não está funcionando para famílias de classe média. Infelizmente, o que ele ofereceu foi mais do mesmo, um compromisso frustrante com as mesmas políticas fracassadas que ajudaram a transformar superávits recordes em grandes déficits, e a empurrar uma vibrante economia do século 21 para a beira da recessão."
Barack Obama: "Foi requentado em relação a discursos anteriores do Estado da União. Conforme viajo pelo país, (vejo que) o povo norte-americano quer mais, muito mais. Está ansioso com seu futuro econômico. Está vendo (a hipoteca de) sua casa ser executada. Está vendo empregos se contraindo. Está preocupado em conseguir enviar seus filhos à faculdade. O que eles querem é liderança da Casa Branca."
John Edwards: "O presidente esta noite renovou seu apelo por um plano de recuperação econômica. Mas o plano que ele e o Congresso ofereceram deixa de fora dezenas de milhões de norte-americanos que mais precisam de ajuda. Este plano levaria meses para ter impacto, e as pessoas que eu encontro todo dia na campanha não podem esperar meses. Essa gente está sofrendo agora e precisa desta ajuda agora."
Nem uma palavra sobre o Iraque.
Nenhuma palavra sobre o maior fracasso diplomático da história recente. O mundo que se colocava ao lado dos EUA no dia 12 de setembro de 2001 --a manchete do jornal francês Le Monde nesse dia foi "Somos todos americanos"-- transformou-se na antipatia mais profunda.
Tudo bem que a eleição dos EUA, assim como todas, se guie em torno da economia --como diziam os gurus do ex-presidente Bill Clinton, é a economia que leva eleitores às urnas, e não os estúpidos que se digladiam em um país longe demais.
Mas líderes são moldados em torno de idéias, e não apenas de eleições.
Ao relegarem a segundo plano a questão iraquiana, que representa a perda da credibilidade americana, Hillary, Obama ou Edwards reforçam os sinais de que, se eleitos presidente, pouco mexerão no barril de pólvora iraquiano. E que tampouco merecem muito crédito pela suposta esperança que geram.
Não nos enganemos. A eleição americana fala em mudança --seja com Hillary ou Obama, seja com o republicano John McCain, mais afastado dos neoconservadores de Bush. Mas no fim das contas, estão todos do mesmo lado. Do lado da eleição, estúpido.
Mudamos (01/16)
Há 8 anos
Um comentário:
Bush não tinha outra alternativa a não ser fazer um discurso requentado.
Todas as indicações apontam para problemas no seu final de governo: das guerras à economia.
Um discurso mais polêmico seria um prato cheio para críticas dos democratas, que em muito têm se diferenciado dos DEMocratas daqui...
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