Há alguns meses eu dava por certa a eleição do tucano Geraldo Alckmin como prefeito de São Paulo. Pelo visto ele não vai nem para o segundo turno. E possivelmente ainda pegue o caminho da rua do PSDB e se filie a uma sigla lulista, como o PSB. Quem sabe ainda opte por uma sigla de oposição menos tucana, como o PPS. Mas o fato é que a perspectiva do ex-governador está sendo frustrada pelo atual prefeito, Gilberto Kassab, que conta com amplo apoio da mídia e, é claro, da máquina municipal para se manter no cargo.
Um bom termômetro para mensurar o clima pró-Kassab é a Folha de S.Paulo, que tem publicado as matérias menos favoráveis ao prefeito no caderno da cidade, não no de política, onde sobram pancadas para Alckmin e para a petista Marta Suplicy. Não poderia ser diferente dada a pública amizade dos donos do jornal com o governador José Serra, que age nos bastidores em favor de Kassab.
A prática é legítima. O jornal vende seu produto e as pessoas compram se quiserem. E por ser empresa privada, tem o direito de apoiar quem bem entender. Seria melhor se o fizesse.
O problema é quando esse apoio se torna intelectualmente desonesto. Matéria publicada no site UOL, de propriedade da Folha, diz que a petista, líder nas pesquisas de intenção de voto, já é superada por Alckmin e por Kassab no segundo turno das eleições. No site, o título da referida reportagem é "Pela primeira vez, Marta é ultrapassada por Alckmin e por Kassab no 2º turno".
Diz a reportagem que, de acordo com dados do Datafolha, "Alckmin tem a maior vantagem sobre Marta em um eventual segundo turno. Ele venceria por 48% a 45%. Já Kassab está um ponto a frente, com 47% a 46%". No país de onde eu venho, as pessoas falavam sobre margem de erro, que nessa sondagem fica nos dois pontos percentuais para mais ou para menos. Mas para o UOL, do grupo Folha, isso permite uma matéria mesmo em uma campanha acirrada como é a corrida pela prefeitura de São Paulo.
Nas poucas semanas em que cobri a eleição paulistana, cansei de ouvir no trabalho a respeito da necessidade de se tomar cuidado com a linguagem na hora de falar sobre pesquisas eleitorais. E de tentar ser equilibrado, uma vez que, no fim das contas, as diferenças entre os três são bem poucas --a diferença recai apenas em quem é o chefe do grupo que vai aparelhar a prefeitura nos próximos quatro anos. No fundo, é o que importa.
Por isso fico um tanto enfadado com quem tenta criar um clima anti-petista, como se a sigla fosse o mal maior a ser evitado. Nunca fui petista, estou à esquerda do PT e não consigo não achar um tanto ingênuo o excesso de crítica com a ex-prefeita, Clima que agora se estende a Alckmin, unicamente porque o personalista governador de São Paulo quer um aliado mais próximo na Prefeitura.
Esse é o tipo de aproximação que ajuda a inventar divisões onde elas não existem de verdade. E que hoje, por meio da mídia, despolitiza a campanha em relação aos temas que poderiam importar e trabalha em favor de Kassab e Serra. E de ninguém mais.
Tem gente que pode dizer que eu não estou acompanhando a eleição paulistana há tanto tempo, porque só comecei a segui-la de perto há algumas semanas. É verdade. Mas pelo menos no caso da conjuntura paulistana, ainda posso me valer de um velho bordão, porém pertinente, para me sentir livre para falar a respeito dela.
Não é preciso entrar no chiqueiro para saber que os porcos fedem.
Mudamos (01/16)
Há 8 anos
2 comentários:
Nem vem!!! Alckmin no PPS??? Chance zero. Sai fora! Xô! Credo!
Mas seria divertidíssimo se ele parasse no PSB, vai. Cobra coerência do Kassab e termina em um partido absolutamente vassalo do PT, do governo lulista, e que tem como principal nome... Ciro Gomes!
Isso é que é coerência, hein?
Alckmin? Blergh! Pindamonhangaba está bom pra ele. E olhe lá! :)
Esse sujeito é Serrista, não tenho dúvida. Fato é que, ao contrário do que se pensa, Serra é um trator sem caráter algum e que eu quero muito longe do Palácio do Planalto, pelo simples prazer de vê-lo perder mais uma vez e tropeçar na própria empáfia. Aguardemos cenas dos próximos capítulos.
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