segunda-feira, 22 de setembro de 2008

Alckmin, Serra e o fim do PSDB

Eu tenho certeza de três coisas nesta vida: 1 - sou heterossexual, 2 - sou corintiano e 3 - vou escrever um livro sobre o fim do PSDB. E quando o texto estiver pronto, ainda não sei em que ano, ele será dominado por duas figuras: Geraldo Alckmin e José Serra.

São eses dois que há mais de 15 anos militam por duas correntes bem distintas do mais paulista dos partidos brasileiros. E são eles que darão fim à sigla para que surja alguma outra coisa que não faço idéia do que pode ser. Ainda que o nome fique, estará longe do que planejavam os seus pioneiros.

Serra é o homem do establishment. Intelectual, ideologicamente híbrido, egocêntrico, centralizador e cacique tucano desde que ajudou a fundar a legenda, por conta de supostas diferenças inconciliáveis com o PMDB de Orestes Quércia.

Fundador assim como Alckmin, não muito intelectual, conservador, um tanto mais capaz de delegar tarefas e pertencente ao baixo clero tucano, daqueles que foram praticamente aceitos sem que se esperasse muito deles em troca. Um homem das bases.

Neles dois, estão os modelos de partido que fazem o PSDB se debater há anos: apelar aos caciques e sem captar o senso das ruas ou buscar as bases e apontar representantes que não tenham o mesmo brilho? Os tucanos, coitados, ainda não sabem.

Assim como o ex-presidente José Sarney, Serra gosta de ser ungido. É assim desde quando promoveu conchavos que o levariam da Juventude Estudantil Católica à presidência da União Nacional dos Estudantes (UNE) em plena década de 1960 e, dali, ao exílio.

Somente décadas depois, pouco antes de ser alçado pelo padrinho FHC ao Ministério da Saúde, onde ganhou visibilidade e o direito de disputar a sucessão do grande amigo como candidato do governo, é que Serra percebeu que nem todos queriam ungi-lo.

E o artífice dessa situação se chama Geraldo Alckmin, ariete-mor de Mario Covas, grande rival interno do atual governador paulista desde a militância de ambos no MDB.

Engenheiro, santista e muito turrão, Covas não engolia Serra, professor de economia, palmeirense e muito turrão.

Foi por isso que em 1991, o deputado federal Alckmin teve apoio de Covas para destronar o candidato de Serra e do establishment tucano da presidência estadual da legenda.

O prêmio do falecido governador foi disputar o Palácio dos Bandeirantes e se alinhar para concorrer mais uma vez à Presidência. Alckmin ganhou o cargo de vice-governador e um inimigo poderoso. Serra conquistou uma vaga no Senado.

E quando concorreu à Prefeitura de São Paulo pela primeira vez, em 1996, não recebeu a mínima ajuda de Covas nem de Alckmin. Perdeu para Celso Pitta, candidato do então prefeito Paulo Maluf, tão popular que naquela época elegeria para sucedê-lo até a um hidrante de peruca --o que o tempo se encarregou de demonstrar.

A idéia de Covas era esperar a conclusão dos mandatos de Fernando Henrique Cardoso, eleito e reeleito pelo sucesso do Plano Real, e voltar a disputar com Serra. Desta vez, para concorrer à Presidência em 2002. Mas a morte chegou antes para o governador e abriu o caminho para o popular ministro da Saúde.

Serra foi ungido --apesar de defecções claras, como a de Tasso Jereissatti, defensor de Ciro Gomes. Covas, talvez, também desertaria. E Alckmin, tentando a reeleição como governador, parece não ter se empenhado pelo candidato tucano à Presidência.

Lula vence de lavada.

Inclusive em São Paulo, estado governado por Covas-Alckmin.

Em 2006, a divisão chega ao seu auge, com Serra querendo ser ungido e Alckmin ciente de que tem a base do partido com ele. E o então governador levou a melhor. Agora, em 2008, Alckmin tenta se eleger prefeito contra um candidato que era vice de Serra há quatro anos e que conta com vários tucanos no gabinete.

Serra sabe que não pode perder vexatoriamente uma eleição na capital do estado que governa. E Alckmin sabe que sua sobrevivência política depende de ir pelo menos ao segundo turno em São Paulo e destronar os serristas da máquina municipal.

Serra e Alckmin sabem que, depois da divisão na única eleição municipal que realmente importa no Brasil, o PSDB entrará em 2009 menor do que começou este ano. Se bobear, Alckmin já botou na conta do papa inclusive a sua saída do partido. E Serra sabe que isso o enfraquece para a disputa à Presidência em 2010.

O governador mineiro, Aécio Neves, sorri e espera na esquina.

Pelo visto é melhor eu já ir adiantando o livro.

P.S.> A referência ao hidrante de peruca é atribuída ao amigo Fernando Vives, o probo.

4 comentários:

Anônimo disse...

Ainda acho que o Alckmin, mesmo se não for pro segundo turno, tem boas chances de ser governador em 2010. É o bom moço do interior que faz Pindamonhangaba delirar.
E ainda bem que você não contextualizou o hidrante de peruca, hehehehe.

Anônimo disse...

Lamentável é o fato de o Serra ter de "enfrentar" dentro do partido alguém como o Alckmin - que não tem, nem de longe, a mesma estatura política de um Mário Covas, por exemplo.

No caso do embate Serra x Covas, o PSDB e o Brasil certamente só teriam a ganhar com o debate de idéias. Mas com Alckmin, o picolé de chuchu da Opus Dei, o representante maior da ala mais conservadora do ninho tucano, tudo sempre acaba terminando em mesquinharia. Ele é muito, muito pequeno.

Goste-se ou não do Serra (e eu, particularmente, até gosto), não dá para comparar os dois. Ainda acho que o Alckmin pode até acabar em um PTB da vida...

Anônimo disse...

Análise precisa, embora discorde sobre a ida de Alckmin para outro partido. Ele não tem tanta coragem. O PSDB ainda lhe dá chances de ser governador eterno. A base que construiu jamais sairia com ele. O que o deixa só.
Fato único é que o texto é bem escrito. E É o que importa, já que Serra é um político vaidoso e que, acima de tudo, busca os holofotes antes de qualquer outra coisa. Antes mesmo do interesse público que, a essa altura, nem se sabe mais o que lá seria esse tal de "público". Sabe-se menos ainda de seus interesses. A lamentar.

RR disse...

Análise precisa, embora discorde sobre a ida de Alckmin para outro partido. Ele não tem tanta coragem. O PSDB ainda lhe dá chances de ser governador eterno. A base que construiu jamais sairia com ele. O que o deixa só.
Fato único é que o texto é bem escrito. E É o que importa, já que Serra é um político vaidoso e que, acima de tudo, busca os holofotes antes de qualquer outra coisa. Antes mesmo do interesse público que, a essa altura, nem se sabe mais o que lá seria esse tal de "público". Sabe-se menos ainda de seus interesses. A lamentar.