Desde a redemocratização o Nordeste se mantém como grande fiel da balança das eleições presidenciais. Enquanto alguns candidatos centram força nos maiores colégios do Brasil - São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro -, deixam desguarnecida a região mais pobre do país, com a qual imaginam ter mais chances de obter votos sem fazer os mesmos gastos por eleitor. Os nordestinos costumam ficar ao lado do candidato para o qual apontam logo no início do ano do sufrágio. Hoje, eles apontam para José Serra.
Esse deve ser o raciocínio que leva o presidente Lula a permitir a ocupação de espaço no seu governo pelos arautos do fisiologismo do Nordeste, como José Sarney (cujo grupo governou o Maranhão por 40 anos), Renan Calheiros, Geddel Vieira Lima e até o ex-adversário mortal Fernando Collor de Mello. Dar votos a Dilma Rousseff custa caro e ele parece disposto a pagar quanto for necessário para tomar votos do tucano num terreno ainda instável e decisivo.
Alguns dirão que nenhum desses oligarcas nordestinos, que por anos vociferaram contra o presidente ex-operário, causará qualquer tipo de problema no Legislativo a um mandatário com mais de 80% de aprovação popular. Pode ser. Mas não há como encarar essa invasão consentida pelo Palácio do Planalto como uma falta de vergonha na cara do nível da que levou ao mensalão. Uma coisa é acomodar aliados num governo. Outra é entregar o governo a eles.
Lula se deu gostosamente para o PMDB. Sem o menor pudor.
Ele pode até conseguir um bom tanto de votos para Dilma na região onde nasceu e é querido ainda mais do que no resto do Brasil. Mas não terá o argumento de que a neo-petista, que não é unanimidade nem no próprio partido, é a candidata que romperá com marajás e com o pior que há na política brasileira para defender um programa de governo minimamente de esquerda. Essa imagem faz diferença para pelo menos um terço do eleitorado que não poderá preguiçosamente cravar mais um voto em Lula.
E aí, como fica esse povo todo?
Se Lula venceu graças à expectativa de mudança e o próprio Serra, conhecido nacionalmente, pouco baterá na atual administração, qual será o discurso de Dilma? Dizer que é a candidata que se dá melhor com Sarney, Renan e Collor não parece ser muito animador. Até porque essa turma toda pode aprovar a falta de vergonha do presidente para lhes dar abrigo, mas não garante fidelidade para nenhum candidato que não tenha chance real de vencer.
Falta de vergonha dá nisso.
Mudamos (01/16)
Há 8 anos
4 comentários:
As alianças e a aproximação com esse tipo de gente - Renan e Sarney principalmente, que sempre estiveram entre os principais "conselheiros" de Lula desde o início do governo - é que embrulha mais o estômago. E dessa mancha na biografia o barbudo jamais poderá se livrar. Jamais.
Cara, tô precisando falar contigo. Podia me mandar teu e-mail? Passa para mim (fa_matos@hotmail.com) ou comenta lá no blog. Valeu!
Savarese, vc vai na Pedalada Pelada sábado?
Mas essas alianças nos enchem de vergonha como cidadãos...
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