sábado, 6 de dezembro de 2008

O drama de sifu

O presidente da República usou em público um termo cujo significado é "se fodeu". É quase tão inapropriado quanto ouvir Hugo Chávez dizer "Alca al carajo!", numa cúpula anti-tudo na Argentina. Mas acho sempre que as pessoas têm direito de dizerem o que quiserem. Inclusive o representante máximo de um país. Depois ele responde por aquilo que disse e fim de papo.

No caso de Lula, são apenas palavras ao vento.

Acontece que em alguns casos o que as pessoas dizem traz consequências. O que dizia há alguns meses esse mesmo mercado com diarréia ao qual o presidente se referiu no discurso do sifu? Não por acaso me lembrei de um gerente do banco onde tenho conta.

Ele é um yuppie convicto, com aspecto higiênico e olhos azuis, cabelos loiros, do tipo que os mais bestalhões confiam no primeiro segundo. Nem é pela simpatia: é pelo ar sério de quem sabe o que vai fazer com o seu dinheiro. Esse aspecto é tão convincente que neste momento ele nem é mais gerente pessoal: quando liguei para perguntar sobre os investimentos, me alertou que foi promovido e agora trabalha na sede do banco em São Paulo.

Pois bem.

Há um ano eu resolvi investir em um fundo de renda fixa cuja rentabilidade varia de acordo com ações da Bovespa. Era junho de 2007. Esse rapaz, com um nome grego bem esquisito, disse que eu tinha três opções: conservadora, intermediária e agressiva (a qual também poderia ser chamada de sifu hoje em dia).

Pedi a ele que traçasse um panorama sobre as finanças globais para que eu fizesse o investimento. Ele pintou um cenário róseo, como se eu pudesse fazer uma besteira colocando meu dinheiro no fundo mais conservador. Falou de mil vantagens, de como a Bovespa podia superar os 70 mil pontos (hoje são 40 mil) e disse que os menos otimistas optam pelo fundo intermediário.

Foi isso que eu fiz. E há três meses recebi uma cartinha dizendo que a porcentagem de retorno que eu teria com o fundo tinha passado por um "abalo". Interrompi o investimento. Ainda bem. Mas as palavras do yuppie que provavelmente ganha dez vezes mais do que eu machucaram o meu bolso. Poderia ter sido ainda pior se eu tivesse acreditado integralmente no que ele me disse.

E é aí que eu lamento: enquanto encheram o meu saco com o sifu do presidente, o meu dinheiro sifu no banco. Quantos outros não terão se dado ainda pior daqui alguns meses? E vão sifu não por uma questão de etiqueta. Vão sifu por picaretagem e incompetência do mercado diarréico. Um mercado que deveria assumir também nas palavras a sua porção da bosta geral que criou.

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