Estava no Rio de Janeiro num evento com profissionais de futebol quando Ronaldo foi anunciado como reforço do Corinthians. Só parei de fazer piada com o assunto quando vi colegas repórteres correndo atrás de dirigentes para colher suas opiniões. Inesperadíssimo.
Há alguns dias saem notícias de que o clube do Parque São Jorge estaria disputando com o Flamengo uma contratação surpreendente não tanto pela grandeza do jogador em questão, mas sim pelo bizarro que seria sua vinda. Trata-se do grandalhão italiano Christian Vieri, 35 anos, ex-jogador de Inter, Juventus, trocentos outros times e que há poucos dias afirmou que quer ser jogador profissional de pôquer. Por hora, está parado para a bola.
Tudo porque, há alguns anos, Vieri, ex-colega de Ronaldo na Inter, começou a dizer que gostaria de atuar no Brasil. Então tá bom.
O fato é que só escrevi este intróito para ter uma desculpa para divulgar um vídeo sugerido pelo amigo Fábio Murakawa. Nele, Ronaldo e Vieri respondem um pinga-fogo sobre futebol, sexo e coisa e tal. Tudo em italiano, obviamente.
Destaque para a resposta de Ronaldo sobre se já esteve sexualmente com outro homem: "Não".
E algo que gosta de fazer? "Comer", responde o Fenômeno, ainda jovem. Levantei daqui de casa a placa do "Eu já sabia".
Não deixa de ser divertido de ver alguns pudicos criticarem o ministro Joaquim Barbosa por ter confrontado o colega Gilmar Mendes, presidente do Supremo Tribunal Federal. Um afirma que o clima na mais alta corte do país foi comparável ao de um boteco qualquer. Outro, que tem problema na cabeça e que se derreteu ao heroismo de Barbosa na investigação do mensalão, agora não aceita sequer comentários elogiosos ao ébano jurídico.
Tudo porque o negão mais importante do Brasil disse o que muita gente gostaria de dizer ao advogado geral da União do governo Fernando Henrique Cardoso. Quem é que gosta de ver as fontes acossadas de forma tão formidável, não é verdade?
Lembro que nos idos de 2002 o presidente do STF era Marco Aurélio de Mello (que figura lamentável), mais conhecido como primo do ex-presidente Fernando Collor. Afeito a dizer bobagens com o famoso timbre de quem tem um ovo na boca, o rapaz gostava de falar aos jornalistas e aparecer na televisão, inclusive antecipando julgamentos - algo que não coaduna, como ele diria, com a função que exerce. Qualquer semelhança com o ministro Gilmar Mendes, que viaja o mundo a falar mal da Constituição brasileira e trabalha no principal tribunal constitucional do país, não é mera semelhança.
Uma diferença fundamental (se minha memória não falha) foi a de que Mello teve a atenção chamada por seus colegas de corte. Em particular, sem a animosidade que vimos nesta quarta-feira, mas ganhou um pito por falar demais. Passou a comportar-se um tanto melhor. Mas será que alguém alertou ao ministro Mendes desde que ele chegou à presidência da Casa que ele deveria poupar o tribunal das suas opiniões antes de julgamentos importantes?
Será que algum colega sugeriu a que Mendes que ele andava aparecendo demais nos jornais, utilizando o STF como trampolim de político oposicionista? Será que Mendes não sofreu nenhuma pressão depois de tomar suas decisões controversas para libertar o banqueiro Daniel Dantas? Parece que nada disso aconteceu. E, talvez por isso, Mendes se sinta à vontade para dizer que quem não concorda com ele, como Barbosa, faz "impopulismo judicial".
E o que ele faz tem que nome?
Talvez o ministro Barbosa não precisasse ser tão afiado nas críticas a Mendes em público. Em especial quando fala sobre "capangas" em Mato Grosso, sugerindo que o presidente do STF é um gângster. Mas o fato é que absolutamente ninguém tinha feito uma crítica decente até agora apesar das ridículas demonstrações de Mendes há meses de que está mais preocupado com política do que com a Corte.
Pelo menos por um tempo, ah, que alívio, que o tio Gilmar Mendes vai sossegar o facho. Só por isso, já devemos agradecer ao ministro Barbosa pela performance que relaciono abaixo. Ao menos por uns tempos o presidente do STF vai fazer o que se espera dele: opiniões apenas nos autos. E sem fazer bico.
Em tempo: após a publicação deste texto os ministros do STF, exceto por Barbosa e Ellen Gracie (em viagem), dizem em nota que "reafirmam a confiança e o respeito ao Senhor Ministro Gilmar Mendes na sua atuação institucional como Presidente do Supremo, lamentando o episódio ocorrido nesta data".
O Globo diz que Mendes pressionou por um texto que condenasse a intervenção de Barbosa contra ele. Não conseguiu. Ganhou apenas essa tíbia nota, em escassas linhas, que não o tira da desmoralização pública em que entrou. As palavras são tão contidas que acabam dando razão final ao ministro Barbosa. Vejamos as reações nos próximos dias para saber se os amigos de Mendes na mídia vão se mexer.
Eu não tenho simpatia pelo regime cubano. Nunca tive. Sei que já teve bons momentos e que foi instalado com as melhores intenções, mas não há como vê-lo como modelo para ninguém (exceto pela medicina e pela educação, de fato). Mas, assim como no caso da Venezuela, só existe um grupo que parece pior do que o dos revolucionários barbudos da ilha comunista: a oposição anticastrista fixada em Miami. Povinho insuportável pacas.
Cooptados especialmente pelos republicanos nos EUA, eles fazem parte daquilo que há de mais reacionário no espectro político e acabam ajudando a sustentar o regime dos irmãos Castro no poder há meio século. Tampouco tenho simpatia por esses que dizem cobrar os vermelhinhos por desrespeito aos direitos humanos e que, ao mesmo tempo, defendem políticas de porrada americana no resto do mundo, inclusive, para muitos deles, com a manutenção da base torturadora de Guantánamo.
Um exemplo do que fazem os cubanos de Miami é esta entrevista com o ator Benício del Toro, que interpretou Che Guevara numa película recém-lançada. A tal Marlen Gonzalez realmente não se preocupou nada em tirar do rapaz algo que valesse: quis apenas roubar a cena fazendo acusações que, certas ou não, não tinha o direito de fazer da forma que fez. Benício ainda se envergonhou, evitou o confronto e nisso errou, porque a paspalha só se empolgou mais nessa vagabundíssima interpretação do filme como um libelo ao guerrilheiro argentino famoso no mundo todo.
Um belo exemplo de mau jornalismo e de falsa correteza moral. Se fosse no meu governo, mandava tatuar uma barbona do Che no rosto dela e a condenava a andar com roupa de guerrilheiro por dois anos. Talvez três, só por diversão.
Sugestão de vídeo dada por minha bela e brilhante Augusta Avalle (cubana e guerrilheira). E que merecidamente conquistará seu diploma de mestra nesta semana. Finalmente!
Existem acontecimentos na história que são intoleráveis por conta da covardia daqueles que os perpetuam, não interessa contra quem. A perseguição aos judeus pela Alemanha nazista é um dos mais claros desses eventos atrozes, tanto é que ganhou um nome apenas para designá-lo. A noite do terror, em que forças americanas e britânicas arrasaram Dresden com bombas blockbuster em áreas civis, é outro. O massacre de palestinos nos campos de Sabra e Chatila, também. A banda RPM nos anos 80, quem sabe.
Por isso mesmo, não consigo ler com uma boa dose de enfado e outra de "Que porra é essa?" quando vejo cidadãos aparentemente normais gritarem comparações de situações meramente patéticas com grandes crimes da humanidade. Esse é o caso do senhor Clóvis Victorio Mezzomo, brasileiro, neto de italiano, com pele branca e olhos verdes. Diz ele que é jornalista e empresário (acabei de me livrar de um tipo desses e a experiência realmente não foi boa).
O nobre senhor entrou com uma ação no Supremo Tribunal Federal (STF) por considerar que o presidente Lula fez uma afirmação racista ao dizer que a crise foi criada por gente branca e de olhos azuis, na semana passada. Até aí, tudo bem. A declaração permite essa interpretação, embora eu não entenda que isso faça do mandatário um homem racista.
O problema é a comparação feita pelo tio Mezzomo.
"A História está repleta de exemplos dramáticos e traumáticos de efeitos da discriminação. Dentre eles, citamos o holocausto sofrido pelo nobre povo judeu."
Não dá.
Fico particularmente irritado quando vejo gente usar o Holocausto como se fosse uma ida à feira de domingo. Não há defesa para quem diz que Israel tem políticas nazistas na sua relação com os palestinos. Assim como também não há para gente como o seu Mezzomo, que transforma uma afirmação bobalhona em comparação com a maior atrocidade da história recente.
No dia 24 o Radiohead fez um show em Buenos Aires. O que eu vi em São Paulo foi o melhor que já vi até hoje (e testemunhei concertos de gente muito boa, com R.E.M., Blur, U2, Oasis, Rolling Stones, Molejão). Esses branquelos ingleses são especiais. A prova disso foi a escolha da lindíssima How to Disappear Completely and Never Be Found em homenagem aos desaparecidos.
Com direito a discurso contra a guerra suja na Argentina.
Jornalista desde 2003, foi repórter de esporte, economia e política. Teve matérias sobre diversos assuntos publicadas em vários jornais, incluindo Folha de S.Paulo, Washington Post, China Daily e The Guardian. Editor-chefe da revista FourFourTwo Brasil. É corintiano, esquerdista e agnóstico. Gosta de música brega.