Adoro esse pessoal que acha que a economia é maior do que a vida. Eles são muito divertidos. Em meio à discussão sobre número de ingressos dedicados à torcida corintiana no clássico contra o São Paulo, eles desfilam vários argumentos, em favor do São Paulo ou do Corinthians, como se a reação do outro lado fosse sempre automática, levando em conta apenas pequenas turbulências políticas, todas sanáveis, e como se os benefícios a se obter fossem óbvios (o Consenso de Washington ia na mesma linha).
Primeiro: em vez de a omissa Federação Paulista de Futebol arcar com o ônus da decisão, até para esfriar o clima tenso com o São Paulo, atribuiu ao clube a decisão de tomar a medida num campeonato que terá apenas um turno. O Corinthians obviamente não poderia retribuir no clássico seguinte pelo torneio, visto que ele pode nem sequer acontecer.
Segundo: no meio da eleição, a diretoria do Corinthians jogou para a galera. Mas a galera apoiou em peso. E, com isso, o São Paulo, que tinha bom relacionamento com o clube mais popular do estado, um aliado importante na discussão de direitos de TV (muuuuito mais importante do que os ingressos), se deu mal.
Terceiro: imagine, caro leitor, que você vai investir num estádio. Você pagaria mais por um lugar que receberia, digamos, três grandes clubes ou pagaria mais num lugar que receberia apenas um? E imagine o que aconteceria com esse investimento no estádio de um clube só, se numa temporada ele não se classificasse para o único torneio pelo qual a torcida inteira se interessa de verdade?
Quarto: imagine, caro leitor, que você tem a maior torcida numa região. E que tenha de jogar todo fim de semana para 40 mil pessoas, quando poderia atuar para 70 mil? Qual é a vantagem? É só pra fazer bico e alardear a própria incompetência para construir seu próprio estádio?
Romper tradições pode parecer muito moderno. Ou, como dizem os yuppies do mundo todo, "faz sentido". O problema é que a vida vai além da suposta objetividade lógica que esse pessoal apregoa. Nada é menos lógico do que o futebol. Ele imita a vida. E na vida, às vezes 10% são mais importantes que 90%.
Mudamos (01/16)
Há 9 anos