É de se suspeitar que um brasileiro queira comparar o candidato democrata à Casa Branca, Barack Obama, com o presidente Lula, mas o jeito deles de fazer política não é lá tão distante assim. Já escrevi aqui que a simbologia de Obama é mais forte do que a de Lula, mas não expliquei direito o que penso. Como as eleições dos EUA são semana que vem e a vitória do negão é mais provável, vamos lá. O raciocínio tem a sociedade do amigo Caio Quero, mais esquerdista do que eu, é necessário dizer:
Obama é o símbolo dos Estados Unidos que dão certo, enquanto Lula é um brasileiro símbolo que deu certo. Obama é a personificação das políticas sociais, incluindo a afirmativa, que permitem às minorias ocupar um espaço verdadeiro na democracia americana, com chance de ocupar o poder. É o candidato que precisou de oportunidades reais para chegar longe e que as obteve com a ajuda do Estado.
Lula é a personificação de um brasileiro que encarna em si o fodão e o fudido ao mesmo tempo, como diz o seu marqueteiro, João Santana. Ele não chegou ao Palácio do Planalto porque o Brasil deu mole. Teve de superar cada obstáculo para ficar perto da tomada de decisão. O Estado não o ajudou em nada antes da eleição. Toda a sua trajetória tem como base a luta por esse tipo de benefício.
Na esfera partidária, Obama tem outra diferença com Lula. O senador pende mais para uma espécie de Luiza Erundina, que tomou de Plínio de Arruda Sampaio a candidatura petista à prefeitura de São Paulo, em 1988, porque mexeu com as bases, não com a cúpula. Lula sempre esteve acima do bem e do mal no PT. E mudou a esquerda brasileira sem que o partido passasse por um processo de rediscussão pré-poder. Foi diferente na Alemanha, na Inglaterra, na Itália, na Espanha, onde vocês quiserem.
Qual dos dois é melhor nessa simbologia? Obama parece mais completo, mas nada garante que ele saberá transformar todo esse capital político em ações positivas para conter a crise econômica, vencer duas guerras no exterior e unir um país tão fracionado. Um país que ele ajuda a fracionar na campanha contra John McCain.
Apesar dos pesares, talvez o rapaz devesse pedir uns conselhos pro tio Lula. Na hora de governar, a simbologia vai pro vinagre.
P.S> Deixo duas dicas de vídeos: as peças finais de propaganda eleitoral de Obama e de Lula, favoritos nas pesquisas dias antes da eleição. Ali já se vê que a simbologia conta menos do que a necessidade de um tom presidencial.
Neste vídeo de 27 minutos, transmitido num monte de canais de TV na noite de quarta-feira. Obama até faz referência ao que representa (afinal, é difícil encher meia hora de programa), mas isso é o que menos importa ali. As propostas ganham o centro.
E aqui o melhor vídeo de propaganda eleitoral da história recente do Brasil. O slogan da mudança não serve como simbologia de Lula per se. Nenhuma palavra sobre operário, nordestino, sofrido, esquerdista, oposição ou seja o que for. É pra todo mundo.
Mudamos (01/16)
Há 9 anos