Acompanhando de longe, só dá para achar graça na ameaça do presidente dos Democratas, deputado Rodrigo Maia, de pedir o impeachment do presidente Luiz Inácio Lula da Silva porque ele recebeu informes montados pela Abin com material obtido em escutas ilegais --um incidente absolutamente inaceitável.
É indiscutível a gravidade de o presidente da mais alta corte do país ter tido telefones grampeados por um órgão subordinado à Presidência, mas parece casuísmo pesado saltar de uma coisa para a outra no momento em que a oposição parece próxima de tomar uma surra nas eleições municipais.
A mais importante eleição do país, a de São Paulo, pode estar indo para as cucuias. No Rio de Janeiro a disputa é entre candidatos de partidos da base do governo. Em Belo Horizonte o PSDB teve de endossar o candidato da aliança PSB-PT sem participar oficialmente da chapa. E por aí vai...
Sem contar que eleições municipais adiantam tendências, sim.
Em 1989, quando Lula chegou ao segundo turno contra Fernando Collor, tinha o espólio da vitória de Luiza Erundina na capital paulista.
Em 1994, ele foi batido por Fernando Henrique Cardoso dois anos depois de os pleitos municipais mostrarem que o petismo não foi um herdeiro natural do fim da República de Alagoas.
Em 1996, os tucanos surfaram no governo FHC e no Plano Real. Em 2000, o PT venceu em várias cidades importantes, principalmente em São Paulo, para pouco em seguida levar Lula ao Palácio do Planalto.
Nas eleições municipais de 2004, o governo Lula se viu desgastado e perdeu boa parte do que ganhara quatro anos antes. Reelegeu-se apenas no segundo turno em 2006.
Se eu militasse na oposição, ficaria desesperado com essa análise.
Enquanto surgem as bravatas de impeachment que não se sustentam por uma mísera semana, o oficialismo se fortalece e deixa os rivais sem discurso. E não é necessariamente por administrar direito, mas também por falta de crédito e de tato da oposição, que grita impeachment como quem diz o nome do time de coração.
Quando Rodrigo Maia repete que o atual governo faz mal à democracia brasileira quando age, como nesse caso, de maneira tolerante para com práticas ilegais nele engendradas, me pergunto se o nobre deputado também não nos faz mal por ajudar a comandar uma oposição tão fraquinha e sem rumo.
E ela assim é apenas por um motivo: no fundamental, governo e oposição concordam em quase tudo. No fim das contas, Maia e os outros estão apenas se preparando para o revezamento de cargos. Ao que parece, a oposição já abriu mão da vez neste ano e em 2010.
Mudamos (01/16)
Há 9 anos