
Por pouco o Corinthians não conquistou seu terceiro título da Copa do Brasil. Mas chegar à final do torneio já demonstra que a trajetória do clube na competição foi inesquecível. Não porque o troféu seria novidade no Parque São Jorge, mas porque nunca houve dentro de campo uma reviravolta tão rápida.
Nunca.
Desafio quem quiser a provar o contrário.
Há seis meses assisti ao rebaixamento do Corinthians para a Série B com algum conformismo. O clube tinha sido mal administrado demais (e ainda é) e a equipe era fraca além da conta para merecer um destino que não fosse o descenso.
Um resultado justo.
Mas o que não foi nada justo em 2007 foi o Corinthians ser alçado à condição de Zé Dirceu do futebol nacional. Tudo de negativo que dissessem, comprovado ou não, só podia ser verdade, berravam nas ruas e na mídia. Os choros históricos contra o clube foram revividos em um único ano, como se tudo estivesse relacionado.
Os erros de arbitragem contra o Corinthians se tornaram vestais da imparcialidade dos árbitros. Criticar o clube na mídia se converteu em sinônimo de ponderação. Nas ruas e escritórios, o preconceito de classe calcado no binômio corintiano-desonesto se fortaleceu sem censura, em meio a piadas nem sempre limitadas ao futebol. E os ódios regionais se canalizavam, com a mira centrada no alvinegro.
Os comentários do treinador Mano Menezes são exagerados para o jogo final contra o Sport –os dois times foram prejudicados e o Corinthians não perdeu por influência decisiva da arbitragem. Mas ajudam a explicar o sofrimento do time fora de casa desde o controverso Brasileirão de 2005.
Ao longo do último ano, muita gente estrapolou e desrespeitou o Corinthians e a sua torcida sem dó. Confundiram uma mancha na história do clube com o seu espírito, como se o clube e a torcida fossem um mal a ser extirpado da Terra.
Esses os mesmos comemoraram o título do Sport com a maior alegria do mundo. Nada contra. Até porque atenua a dor da derrota saber que eles comemoram não um vexame corintiano, mas sim por de alívio. Agora muita gente tenta esconder os próprios fracassos, como se apenas o surpreendente Corinthians tivesse perdido em um ano que tinha tudo para ser azedo no Parque São Jorge.
A tradução dos fogos de artifício com a derrota do Corinthians é: ainda bem que eles não ganharam essa, senão iam ficar insuportáveis. Há quem finja rir, mas na verdade estão muito preocupados com um clube que mostra tamanho poder de reação.
E isso sem ajuda de verdade da diretoria. Apenas porque o clube é grande demais e atrairia interesse até na Série Z.
Há quem torça por outros clubes e saiba se portar. Assim como há corintianos que não sabem. Há também quem entenda que secar o adversário é diferente de hostilizá-lo. Para esses, o jogo é jogado, no rebaixamento, na Copa do Brasil ou onde for.
Mas essa recuperação corintiana, que está apenas começando, não são esses que vão ter de engolir a seco. Quem vai se dar mal por ter subestimado o Corinthians são todos aqueles que encontraram sentido no futebol apenas na torcida contra o alvinegro que tanta gente ama. Nunca se deve subestimar o Corinthians. Nunca.
Que se prepare o palmeirense que comemorou mais o rebaixamento do rival do que lamentou a própria derrota em casa em um jogo que o classificaria para a Libertadores deste ano. E que há pouco tempo disputou a segunda divisão com muito menos atenção da mídia e menos sucesso esportivo.
Que se prepare o colorado, ainda com espírito de Municipal, que torceu contra a própria equipe para ajudar a rebaixar o time que o bateu no Campeonato Brasileiro de 2005. E três anos depois ainda chora, chora, chora...
Que se prepare o são-paulino que não entende de futebol, mas sabe que tem de torcer contra quem dedica muito mais amor, tempo e dinheiro ao seu clube de coração, na vitória ou na derrota.
Que se prepare o gremista que celebrou o descenso do Corinthians no estádio Olímpico na esperança de que não houvesse uma daquelas viradas de mesa que beneficiaram o tricolor gaúcho anos antes. E que lamentou ver Mano Menezes e William preferirem a Série B no Timão à elite nacional com o tricolor gaúcho.
Que se prepare o vascaíno que comemorou a derrota corintiana como se fosse uma vingança pelo fracasso cruzmaltino diante do alvinegro no Mundial de 2000, no qual estranhamente os cariocas herdaram a vaga do Palmeiras.
Que se prepare o torcedor do Fluminense que celebrou a queda do Corinthians como se a própria equipe não tivesse sido rebaixada três vezes, uma delas para a terceira divisão, e que voltou à elite apenas por conta de uma deliciosa canetada.
Que se prepare o flamenguista que viu benefícios flagrantes ao Corinthians para ganhar títulos e torcida, mesmo após o rubro-negro receber de lambuja várias rodadas de descanso no meio do Brasileirão de 2007 apenas porque não podia usar o Maracanã.
Que se preparem os torcedores do Cruzeiro e do Atlético que ainda lamentam as derrotas nos Brasileirões de 1998 e 1999 e que viram vingança no rebaixamento corintiano.
Que se prepare o torcedor do Goiás que, enfim, já sofre o suficiente apenas pelo fato de defender as cores dessa equipe.
Que se prepare o torcedor do Sport que, carente de um título nacional na sua história, forçou um clima negativo para a decisão da Copa do Brasil, como se houvesse um grande embate Sul x Nordeste, entre o bem e o mal, e não apenas uma partida de futebol.
Que se prepare quem brevemente se esqueceu de que a camisa do Corinthians merece respeito. Muito respeito. Enquanto outros levaram anos para se reerguer, levamos seis meses.
Seis meses.
Que os anti-corintianos se preparem para os próximos anos. Eles serão mais divertidos para mim, tenho certeza.