
Podem falsear com as vitórias da equipe da Parmalat que jogava no Palestra Itália, mas a verdade é uma só: o Palmeiras não é campeão de nada desde o Paulistão de 1976. São 32 anos de jejum, que não condizem com a história de um clube glorioso e cuja torcida é tão apaixonada quanto a dos mais populares do Brasil.
Esse jejum não é fruto da falta de qualidade das categorias de base palmeirenses nem da crise de identidade do clube da Barra Funda, que não é popular como o rival Corinthians nem vencedor nos últimos anos como o inimigo São Paulo. A responsabilidade é da cartolagem palestrina, que há três décadas parou o clube no tempo e o deixa hoje refém de empresários como nenhum outro no estado.
Assim como aconteceu com o time da Parmalat, campeão de quase tudo na década de 90, a equipe da Traffic tem as chances parecidas de êxito. A primeira oportunidade deve vir na final do Paulistão, diante da valorosa Ponte Preta. Mas o que disso ficará para o Palmeiras, seja o resultado qual for?
Um bom caso é o do zagueiro Henrique, jovem valor tirado do Coritiba. O Palmeiras tem 20 por cento dos direitos do jogador. O resto é fatiado com Deus, o mundo e a mulher de Luxemburgo. Que vínculo esse jogador vai ter com o Palmeiras?
Nenhum. E nem poderia ser diferente.
O São Paulo se esforça para manter razoável independência, sem parcerias a qualquer preço. O Corinthians, depois da exitosa união com a Hicks & Muse e de ser cúmplice de crimes da MSI, parece estar recusando propostas e mais propostas desse tipo --nem sei se apenas por estar escaldado após o rebaixamento para a Série B.
Mas o Palmeiras, depois de amargar a segundona muito em função da falta de estrutura deixada pela era-Parmalat, repete o erro de alugar a marca e a história a empresários cuja índole foi repetidamente posta em dúvida por gente boa que mexe com futebol. E ainda espera um resultado diferente!
Alguns dizem que a aliança com a Traffic serve apenas para ter um ano vencedor e acalmar a oposição no clube, que é voraz e cuja incompetência já foi fartamente noticiada. Mas o que garante que depois de um ano vencedor não será necessário seguir vencendo para conter os adversários? E depois mais um ano? E outro?
Se o Palmeiras seguir nessa toada, empolgado com os outros negociando jogadores em nome do clube, indiscriminadamente, ficará mais 32 anos na fila. Até aprender.
Porque apenas um rebaixamento para a segundona não parece ter sido o bastante para os cartolas palestrinos.